sexta-feira, 30 de junho de 2006
Certa vez estive a observar um jogo de futebol numa dessas quadras que eles fazem nas praças... Não que eu tenha grande admiração pelo esporte, mas a quem não foi dado o talento esportivo e nem mesmo o espírito esportivo, resta pois, observar quem o tenha.
Observava os garotos pobres, e alguns ricos, e alguns componentes do esporte... Os passes, os passos, a atenção na bola e nos parceiros e os seus passos e passes. Os dribles no oponente, o cuidado para não marcar faltas, a delicadeza na condução da bola, a vontade de fazer gol. A determinação, o suor, o esforço.
A luta.
Logo vi que haviam também algumas garotas torcendo (provavelmente namoradas e coleguas aspirantes a namoradas) e alguns amigos. Incentivo geral, colaboração nos momentos em que o jogo apertava pro time preferido, conselhos, opiniões, participação. Energias positivas. Atenção no jogo, e mais conselhos, quase como se suas vozes possuíssem o corpo dos namorados.
Esperança e luta.
E cada drible, cada falta, cada gol dava um gosto de ser visto (um daqueles livros em que você sabe o final mas isso não lhe tira o prazer de ler).
E assim se seguiu. E voltando a observar os garotos pobres e alguns... sabe o que percebi??Eu só estava observando o que falta para nosso país evoluir...
***( interprete como quiser, afinal o leitor é você... )***
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Peço desculpas pelo imenso atraso deste. Abraços a todos.
sábado, 17 de junho de 2006
Bem, galera... hoje, será um pouquinho diferente!
Normalmente, eu sou o Escrevinhador que aparece aqui uma vez a cada cinco semanas mostrando uma foto e citando uma musiquinha que servem de introdução para um conto qualquer escrito em cima da hora para dar um descanso do brilhantismo dos escrevinhadores anteriores, a fim de não se fazer pensar muito e, talvez, rir um pouco ou chorar. Desta vez, não tem figura, nem música. Hoje não tem conto algum. E hoje estou disposto a fazer pensar, sim! Mas vou continuar sendo direto, como sempre!
Eu nunca fui um fã ardoroso de futebol. Na verdade, nunca entendi a finalidade de ficar correndo atrás de uma bola com mais vinte e um machos num campo. Mas, como todo brasileirinho, joguei na infância. O fato de ser um perna-de-pau da pior marca e ninguém me querer junto em time algum me fizeram desistir de vez da empreitada, e fui atrás de coisas mais interessantes a mim, como papel, caneta, livros e uma boa piscina (natação é o que há!).
Mas, em épocas de copa do mundo, sempre surgia todo aquele clima... era ótimo quando não as aulas iam só até o meio da tarde, e o resto do dia estava liberado pra brincar com meus amigos. Depois do jogo, logicamente... Mas o mais legal era ver que todo mundo andava sempre junto, durante um breve tempo de jogos. Ali, todo mundo era brasileiro! Preto, amarelo, vermelho, branco, porteiro, empresário, playboy, vagabundo, mendigo... no final das contas, todos somos brasileiros, unidos num objetivo comum: defender nossa suposta supremacia no esporte chamado futebol.
E então, bastaram quatro anos para que eu pudesse aprender mais sobre o mundo e dizer: QUE GRANDE MERDA!
É época de copa, é o maior oba-oba, somos todos brasileirops e estamos vestidos de verde-amarelo... uma beleza, não? Até eu, que ODEIO assumidamente a cor amarela, não consigo evitar de usar, pelo menos, uma fitinha com a cor amarrada ao pulso ou pinçada à camiseta. Mas quero ver quem tem a coragem de me responder a duas perguntas:
- Você abraçaria aquela pessoa que você abraçou comemorando o campeonato, o bi, o tri, o tetra ou o penta e nunca mais viu se o/a visse num dia qualquer na rua?
- Você usaria todo este aparato verde e amarelo (azul e branco, embora também haja na bandeira, não vale citar, por serem menos usados nessas ocasiões e por serem usados demais no dia-a-dia) num dia qualquer como, por exemplo... vamos citar uma data específica... num dia 26 de agosto?
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(grilos)
NINGUÉM???
"Oh, eu não acredito!..."
Mentira, gente... Eu já imaginava que a resposta seria essa.
Sei bem que, se o contigente de comentários continuar o mesmo para os textos que são escritos neste blog, eu provavelmente serei cruxificado ou taxado de "anti-patriota" e todo o "diabo a quatro" mais... e, honestamente, não estou dando a mínima. E por que esta revolta? Porque simplesmente brasileiro é patriota de butique.
Patriota de butique, sim!... Vem cá, ô, colega... sim, eu estou falando com VOCÊ, mesmo... por acaso, você já sabe em quem você vai votar nesta eleição? Não? Ainda nem pensou no caso? Realmente... o hexacampeonato é muito mais importante que essa besteira de política, digaê... Afinal, todos os outros times são tetra... se um se tornar penta, o que será de nós como maior potência? Onde ficará o nosso orgulho?
Gente, torcer é bom e faz um bem danado pro ego, sei muito bem. Eu também torço, não sou de ferro. Mas ter a cabeça no lugar é muito mais importante! Um título de futebol é só um título de futebol, mais nada! Vocês têm assistido ao horário político nos últimos anos? Eu sei, eu sei... é muito chato, quando a novela das oito (nove!) já poderia estar no ar... Eu, mesmo, não consigo ver mais de dois minutos! Mas se todos assistíssemos, veríamos a quantidade de absurdos que são jogados na nossa cara - E A GENTE AINDA VOTA NOS CRIADORES DE TAL COISA!
Galera, cidadania não está em se vestir de verde e amarelo durante um mês pra depois passar os próximos três anos e 335 dias querendo ser norte-americano ou europeu e fingindo que não tem o pé na senzala! Só quero que se lembrem de uma coisa... Ronaldinho, Ronaldo, Kaká... todos estes que estão lá recebem cerca de vinte e três reais POR MINUTO. Você, que tem um trabalho comum, não recebe nem UM CENTAVO por este tempo.
"O Brasil se tornou hexa! - IUPIIIII!!!"; "Meu cartão de crédito, foi saldado?" - Não, meu querido... enqüanto você está parado/a aí na frente da tv, as coisas andam no Senado, nos Congresso, nas Câmaras, nos Palácios espalhados pelo País... a vida segue e a gente só percebe a tela cheia do verde do gramado vizinho, que nem é tão verde assim, de tanto frio... pensem bem...
E TENHO DITO!
E, além do mais, se esta seleção continuar jogando de salto alto como no primeiro jogo, nem das oitavas vai passar...
Meu mais sincero pesar à família do Bussunda, um dos meus grandes ídolos de infância e adolescência e referência no humor ácido e escrachado... agora, no Casseta, sempre estará faltando algo...
Um grande abraço pro compa Luiz, mandando toda a força pra tudo o que ele precisar, mesmo estando a quatro horas de avião e mais umas três de buses.
segunda-feira, 12 de junho de 2006
BEM SEI QUE ALGUMAS VEZES o futebol modifica a rotina do planeta. Como na Roma, onde os gladiadores cumpriam esse papel, à custa da própria vida. Como na Grécia, que se mobilizava pelos Festivais Dionisíacos. Mas eram outros tempos. E o mundo também tinha menos densidade demográfica.
Bem sei que naquele tempo como agora, a velha máxima do “Panis et Circenses” continua atual.
Durante a Copa do Mundo, esquecemos desavenças, inimizades, corrupção, política, pobreza, diferenças. O que, por um lado, é bom, saudável. Mas, ainda assim, a Copa do Mundo não passa de anestésico.
E a dor de cabeça sempre volta depois. Às vezes mais forte.
Bem sei também que o saldo é bastante positivo. Os povos e as nações se confraternizam, novas amizades são feitas, o esporte infla um desejo de competição saudável, agregador, coletivista. Muito diferente do sistema capitalista em que vivemos.
Se eu fosse candidato à presidente da Organização das Nações Unidas e, se essa organização gozasse de credibilidade, eu proporia uma Copa do Mundo por ano. Uma vez em cada país. Com eliminatórias nos restantes dos meses.
Proporia também que o esporte fosse o regente e a mola-mestra de um novo sistema de capital.
Nem socialismo, nem comunismo, nem capitalismo.
Sistema de Futebol. Onde todos precisam de todos, para o objetivo comum.
Bem sei que nesse caso, o Brasil seria sim, o país do presente, a potência futebolística, o lugar das oportunidades.
Mas também sei que só futebol não nos livraria das mazelas que o ser humano carrega desde o ventre das cavernas, quando ainda andava sobre quatro patas.
Porque o homem é um bicho torto por natureza. E sistema nenhum há de funcionar sob este aspecto.
Mas Garrincha também era torto e encantou o mundo.
Portanto, minha última sugestão como gestor da ONU seria propor também, o renascimento do homem, com o homem assumindo seu lado torto, falho, torpe.
E todos jogariam futebol, felizes. Até os que não sabem jogar, teriam lugar nos times.
Afinal, a gente sempre dá um “jeitinho” nas coisas, não é mesmo?
wallace puosso
quarta-feira, 7 de junho de 2006
O Carlos tinha uma paixão danada por futebol, em especial pela Seleção Brasileira. Adorava as épocas de Copa, como essa em que estamos agora. No alto dos seus 68 anos de idade, acompanhava com paixão desmedida todas as partidas em que o Brasil jogava, e se sentia o próprio décimo-segundo jogador.
Sua vida era dedicada ao futebol, a torcer pelo seu time de coração. Claro que, enquanto a seleção verde-amarela não estava em campo, ele tinha o seu clube de coração, e esse era o Corinthians. Falando em coração, o Carlos era cardíaco até a ultima aorta, o que fazia com que cada jogo disputado pela Seleção e/ou Corinthians fosse, além de uma grande diversão (ou discussão, dependendo do resultado), uma série de preocupações aos seus amigos, que sempre o acompanhava nos barzinhos onde se tinha a maior concentração de torcedores.
O que nenhum desses amigos do Carlos sabiam (mas eu sabia, porque alguém lá da família dele me contou, mas não vou passar essa informação a vocês, sinto muito, porque nunca é bom ficar falando as fontes por aí sem pedir permissão, não é mesmo?) é que ele tinha um sonho. Conhecer o maior jogador de todos os tempos, para ele. Mane Garrincha. Carlos vivia suspirando pelos cantos, dizendo maravilhas do “anjo das pernas tortas”, que ele era isso, que ele era aquilo. Os companheiros leais de Carlos já nem davam mais atenção quando ele falava daquela partida em que o Garrincha pegava a bola no meio-de-campo, passava por três zagueiros, enganava o goleiro com um jogo de corpo e fazia o gol com a maior facilidade do mundo, como se ele sempre tivesse feito aquilo, como brincadeira. Ele nem lembrava mais qual jogo era, qual time era o adversário, mas se lembrava daquela jogada. E suspirava pelos cantos, o fanático Carlos...
Pois bem: na última Copa, o Carlos estava afoito. Queria porque queria ver a final do Brasil contra a Alemanha lá da casa dele, porque estranhamente ele queria ter privacidade para vibrar com o jogo. Seus colegas de bar (e de vida) estranharam bastante, mas aceitaram. E ele ficou sozinho. Melhor, sozinho não: ele e a TV. Na verdade, ele e mais 140 milhões de brasileiros (isso incluindo aqueles que não gostam de futebol, mas adoram uma festinha de comemoração, pelo menos).
Era madrugada. O jogo havia começado, e estava empatado sem gols. Carlos, com uma desbotada camisa da campanha do Tricampeonato (escrito assim mesmo, em maiúscula, como o velho fanático sempre passou para o papel sempre fazia), sofria sentado em seu sofá. Agonia. Agonia. Agonia... eis que de repente, Ronaldo avança (Carlos levanta), chuta (Carlos avança), o goleiro alemão rebate (Carlos avança mais), o mesmo pega o rebote e...
Stop. Foi bem aí que o Carlos teve uma pontada no peito e viu tudo escurecer por um segundo.
Quando recobra a consciência que perdeu por milésimos de segundo no apagão em seu corpo, ele se vê estirado no chão de sua pequena sala. Levanta-se, olha a TV. A imagem estava congelada no exato instante em que a bola passava pela linha que separa o grito de gol do resto do jogo. Assustado, olha para os lados. Nada vê. De repente, a imagem na televisão some, e um clarão saído do aparelho toma conta do lugar. Carlos, com muito esforço, consegue enxergar o que está acontecendo dentro de seu aparelho televisor: no lugar das imagens do jogo, um estádio completamente lotado de pessoas vestindo verde e amarelo, mas com apenas um jogador no meio do campo. Logo, o fã reconhece o seu ídolo: quem está ali parado no campo é Mane Garrincha. Emocionado, Carlos ameaça sentar-se novamente em seu sofá quando ouve o eterno craque chamar seu nome. Atordoado, olha para os lados para ver se não é nenhum engano, mas Garrincha o chama novamente, e faz um gesto para que ele entre no campo. O velho dá alguns passos em direção a sua televisão, e logo a luz branca consome novamente o quarto, voltando para a TV e levando Carlos junto consigo.
O corpo de Carlos foi encontrado na manhã daquele dia, pelos mesmos amigos que o deixaram lá no meio dessa história. Enfartado. Provavelmente por conta da emoção do gol do Brasil. Carlos morreu como viveu: vibrando.
(Como eu sei de tudo isso? Ora, meus amigos, não preciso ser psicografista, nem vidente nem médium. A gente sabe que foi assim e pronto. Para quem não acredita, os dois últimos parágrafos são pura tolice. Mas, para aqueles que acreditam que quanto mais se deseja uma coisa, ela acontece, ah!, tenham certeza: essa história é a mais pura verdade. E tenho dito.)