segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Assassinato de Natal

- Tá devendo quinhentos!! E é bom mesmo que tu me entregue essa grana até hoje à noite, saca?
- Beleza, p-p-pode deixar, vou conseguir, pode deixar!! – respondeu ela, trêmula.
- Bom mesmo. Tu já sabe o que acontece com quem deve grana alta igual essa e não paga no prazo, sabe não?
- Pode deixar mano, já falei que te pago o bagulho todo hoje mesmo!
- Hoje vai até a meia-noite. Melhor que pague, que seja com qualquer troço que vale o mesmo que a grana. Vai ser meu presente de natal – disse ele, sardônico. – Agora , se apresse em fazer teu trabalho! Cai fora!
Saiu da boca-de-fumo, muito olhada pelos capangas da chefia do local. Eles deviam estar gravando em mente quem deveriam matar depois, se fosse necessário.
Daisy estava naquela vida, ou melhor, naquela morte, há um bom tempo. Uma garota rebelde, havia cansado de ser sempre a criança que tinha menos. Não se conformava com a vida humilde e estúpida que tinha. Então um dia decidiu começar a trilhar um caminho que lhe rendia um pouco de prazer com parte do dinheiro que tinha. Aos poucos aprendeu a conseguir mais por conta própria. Era uma ladra bem evoluída nas ruas e tinha sempre em mãos a “grana fácil”. A dívida só cresceu pois ela estivera na prisão nos últimos meses, somente contatando a galera da boca quando tinha alguma vontade.
Pois bem, lá foi ela, em véspera de Natal, à caça. Tudo fechado, então deveria esperar apenas em alguma rua de bastante movimento. Tentava encontrar vítimas fáceis, mas naquele feriado ela estava receiosa. Por quê? Talvez pelo solene espírito da data.
Passam as horas e ela consegue somente metade do dinheiro. Roubando um pouco de cada, Tática estúpida! Devia logo tirar tudo o que eles tinham! Afinal, ao menos eles não perderiam a vida. Encosta numa parede de uma rua escura e aguarda pela morte. Vinte para a meia noite...
Até que um senhor em trajes de Papai Noel antigos e mofados, passa pelo lugar, apressado. Carregando consigo uns papéis de embrulho, e... um videogame. Um que certamente vale mais que a dívida. Daisy não pensa duas vezes... Verifica o revólver e segue o bom velhinho. A uma boa distância pra um disparo, interfere no caminhar do senhor.
- Parado aí, Papai Noel!
O senhor se vira e se depara com aquela cena de gelar o coração...
- Adoro videogame – Satiriza a cruel Daisy – Passa agora, velho.
O senhor começa a chorar. Um choro daqueles que não se interpreta por medo ou por tristeza. Um choro enigmático, eu poderia dizer.
- Por favor, não faça isso comigo! – Suplica a vítima – Por favor.
“Terei de matá-lo pois só tenho uma bosta de quinze minutos.”
- Passa logo. – Diz em bom e frio tom.
O pobre demonstra medo e sinceridade em suas palavras :
- Por favor, moça! Eu, eu... Eu economizei pelo ano inteiro com minha aposentadoria... Por favor eu imploro... Meu neto quer muito esse videogame, eu preciso...
- Cala a boca, velho maldito! – Interrompe a vilã. – Dá aqui logo essa bosta!
O velho senhor chora ainda mais...
- Por favor moça, meu neto sonha com isso... Deus vai lhe compensar, eu prometo! Eu prometo, de verdade, por favor...
- Por favor digo eu, passa logo velho, você é surdo?
- Moça Deus vai te abençoar se...
- Cala a boca praga! Passa, senão morre!
Dez minutos. Ele pensa um pouco... e responde em tom de desafio:
- Vou morrer pra ver meu neto feliz. Ele nunca teve nada do que quis. (...)
O espírito de Natal e palavras que demonstram amor. Quão frágil é a malandra Daisy perante eles. Pequena, e ela sempre odiou ser menor do que os outros. Ela olha para o homem, com o gelo metálico do revólver nas suas mãos...

(Fora do tempo, fora do espaço) Daisy lembra-se do quanto sua mãe teve de trabalhar uma vez, para lhe dar uma boneca de Natal. Foi uma surpresa e um esplendor, receber nas mãos o brinquedo que tanto queria. O nome da boneca foi Maria, como o da mãe de Jesus. Engraçado pensar que a “porra-loka” já acreditou naquele Natal, no Menino Jesus. Como aquela bondade e pureza se perdeu...

Em meio dos seus pensamentos, Daisy movimenta os lábios como fazendo uma oração silenciosa. O senhor a observa durante aqueles minutos de meditação. A arma permaneceu no lugar, pronta para matá-lo. Mas a expressão daquela moça mudou bastante. Daisy estava em um grande dilema pra resolver com menos de dez minutos. Ela vê, no fim da rua, os capangas esperando por ela. Pois bem Daisy, matar ou morrer.

Mata ou morre? Morre ou mata? Mata a lembrança? Morre o senhor? Morre Daisy? Mata o Natal?

Daisy chora agora. Choro enigmático.
- Cai fora, teu velho ordinário! – soluça. E larga o revólver no chão.
O pobre homem se espanta com a atitude da garota. Da posição em que foi abordado, voltou a sentir seus movimentos. Ia se retirar, mas retorna em direção à Daisy.
- Obrigado e que Jesus lhe dê um Natal de Paz – Abraça a garota por alguns minutos e chora com ela.
Daisy chora ainda mais.
Quatro minutos. Por alguns instantes o amor daquele abraço faz Daisy perceber que fez a coisa certa. O garotinho poderá ser feliz com o videogame. E ela... Bem, ela terá de se virar. Fazer o possível no jogo de palavras pra não morrer. Se dirige ao seu destino... Dois minutos...
No caminho o calor da sua ex-vítima a acompanha. Aquilo era amor... Amor ao próximo, que sua mãe lhe ensinou... já está próxima dos seus assassinos. Um minuto, sessenta segundos pra se explicar... Todos eles já apontam seus revólveres...
- Amarelou amiguinha? – provoca um deles.
- Bem... Não quero nem vou dizer nada. Fodam-se todos vocês.
Estrondos se combinam com os sinos da capela. Daisy não sente nada, só se sente amada. Sinos sinos e tiros. (...) Feliz Natal! Feliz Natal! Feliz Natal.

Natal, tempo de mudanças!!! Cristo nasceu!! E Daisy morreu... (?)

...

...

...

- Ela está bem doutor?
- 6 tiros já é muito, pelo jeito após se recuperar ela terá de se mudar pra longe, os caras são cruéis. Eles não miraram em pontos vitais porém teremos de amputar uma perna, infelizmente.
- Pobrezinha...
- Sim... Talvez isso marque o ínicio de uma vida nova pra ela.
- Vida nova.
Tenham todos um ótimo Natal e que o menino Jesus possa nascer em nossos corações, possa os nossos corações transformar, como na narrativa... Abraços e obrigado a todos.! Votem na gente na Omni Cam 2005!! ;P

6 comentários:

Anônimo disse...

"Deus vai lhe compensar por tudo...", o velho disse...
Parabéns pelo belo texto, Prodígio!

Anônimo disse...

Ola meus amigos hoje pergunto vcs ..sabe o que é espirito de natal o meu blog tem um recadinho a vcs....vao la..e olhem..obrigado a todos pelas visitas e carinho....adorei o post....

Nossa meus amigos esta demais eu tmb vou por minha mensagem no sabado uma carta de natal..espero vcs e a meia noite estarei olhano para o ceu e pedindo por toda minha familia entrando numa fria...que em 2006 realize todos os sonhos.....

Anônimo disse...

mtu legal o texto =]...feliz natal e um próspero ano novo pra vc!!! bjuss

Anônimo disse...

Nussaaaaaaa....
Tah lindo... realmente...
Ta bem akela coisa do espirito natalino natalino e talz....
Mas o seu num tá repetitivo naum....

Realmente achei q ela iria morrer, mas vc me surpreendeu de novo!

Parabéns!!!

*Feliz natal e ano novo pra todos!!!

^^

Luiz Henrique Oliveira disse...

=]

Quando você me disse que ia escrever uma história de natal com esse título (e olha que isso já faz mais de um mês...) nunca imaginei que ia sair tão perfeito assim. Meus sinceros parabéns!

Ficou ótimo! Como diz o Wallace, "deu pra ver as imagens" na sua narrativa... excelente.

Um abração pra você, e até logo!
Beem logo.

Anônimo disse...

Hummmm...gostei hein fi blz..vc sabe escrever mesmo e essa historia de natal ficou 10000...
Ha se pode me chamar de phil pode sim ta...
Obrigado pela sua visita e volte sempre...