terça-feira, 18 de junho de 2013


foto: http://poetasdonegro.blogspot.com.br/2010/09/revolucao-poetica.html
“A mão que toca um violão, se for preciso, faz a guerra. Mata o mundo, fere a terra. A voz que canta uma canção, se for preciso, canta um hino. Louva a morte.”
(Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle)


Os ventos sopram hoje de um modo diferente. O trânsito está anormal para um dia como hoje, para esta hora. As pessoas parecem silenciosas, mas seus olhares, seus modos, seus poros gritam alto e tornam o silêncio ensurdecedor.
Há mais coisas que se podem ver em tal calmaria. É tudo falso, é tudo um prelúdio, igual à calmaria que dizem anteceder um tsunami ou um tornado.
A situação foi levada por muito tempo, e chegou às raias do insustentável. O bom humor, uma hora, cedeu à necessidade de falar sério. Mas não é apenas uma pessoa a falar. Se uma andorinha, apenas, não faz verão, que cheguem mais veranistas. É assim que se percebe um movimento.
Logo, um único assunto em pauta, como conversa de bar, trará outros. Todos com sua devida urgência e revolta, vários deles tão interligados que mal dá para saber onde termina um e começa o outro. Como uma fagulha num depósito de pólvora, todas estas vozes falarão juntas, ávidas por ouvidos que a escutem e mãos que façam acontecer as mudanças esperadas.
E então, quem está realmente pronto para aquilo que está por vir?

terça-feira, 21 de maio de 2013



hera (ou o último pôr-do-sol no jardim de irene) 


Arrumou cuidadosamente a bolsa: chaves, carteira, batom, creme, estojo de óculos, um pequeno livro de pensamentos. Última vista no guarda-roupas ainda cheio. Levaria apenas o que estava vestindo. Nada mais. Atravessou a casa ecoante e, ao adentrar o jardim, sentiu-se Eva. Deixou-se tomar pelo ar puro, as águas cristalinas e as heras que subiam por suas pernas fazendo-lhe calor e desejo. Sentiu-se repartir em duas. Ramificar. E deu a luz. Hoje, árvore frondosa rodeada de outras árvores compõe um jardim de encantos. Sombra, água, vento, perfume e sonhos. 


 Wallace Puosso

quarta-feira, 8 de maio de 2013

De novo, não!


Vivemos em um mundo muito moderno, onde as crianças já nascem praticamente sabendo como lidar com um telefone do mais avançado, ligar a tevê de alta resolução sem precisar pedir para os pais, navegar pela internet com desenvoltura invejável. É natural – cada um aprende a se virar de acordo com a sua época. Por isso que sabemos que aquelas pessoas que nasceram há muitas décadas atrás não fazem a menor ideia de como lidar com as modernidades atuais, e isso também é perfeitamente natural até que esses senhores e senhoras se encontram numa situação da qual não é possível fugir. Pode acontecer com qualquer um, inclusive com você que está lendo isso agora, daqui a alguns anos. Nunca se sabe, portanto não se ria, ora essa.

Vejamos o caso da Dona Lila. Senhorinha de setenta e poucos anos, baixinha, pele enrugada e com aquelas manchas características de senhorinhas de setenta e poucos anos. Seus longos cabelos grisalhos davam-lhe o ar de respeito, juntamente com seu óculos de aro pequeno delicadamente pendurado quase na ponta de seu nariz, transformando o rosto de Mariana (seu nome verdadeiro, pois Lila era um apelido carinhoso de seu falecido marido, e que acabou pegando na vizinhança) em algo muito parecido com uma obra de Niemeyer. Era uma idosa de aparência simpática, exceto quando tinha que lidar com um pesadelo recorrente em sua rotina: um micro-ondas que ganhou de sua filha no dia das mães do ano passado.
Ela acabou aceitando o presente com sorrisos, sinceramente feliz por ter sido lembrada por Ana, sua filha mais velha e a mais afastada dela, por conta do casamento e do fato de morar longe da casa de sua mãe. Porém, passada a festinha, veio a constatação:

- O que diabos vou fazer com esse negócio?!

Acabou chamando o neto mais novo de sua melhor amiga, a vizinha Vitória, tão velhinha quanto ela. Vitinho era um rapaz de quinze anos, moreninho, boné de aba reta virado pro lado, andava na rua com óculos espelhado e umas correntonas que deixavam Dona Lila apavorada, pois achava aquele visual um horror. E realmente era mesmo. Mas como não havia a quem recorrer, pediu que ele fosse até a casa dela para ligar aquela caixa branca na tomada e para ensiná-la como é que se mexia naquilo. Como ele não tinha nada para fazer depois do colégio matinal (e obviamente pressionado pela avó), ele topou e foi.
Mas o moleque se limitou a sentar-se numa cadeira e indicar os comandos para Dona Lila que, de pé diante do micro-ondas, quebrava a cabeça para adivinhar o que devia fazer, enquanto ele se pendurava em seu celular ultramoderno:

- Ó, a senhora pega e aperta esse botão aí do lado desse botãozão vermelho, esse grandão, pra descongelar as carnes. Aperta esse, daí a senhora programa quantos minutos precisa pra descongelar e quantos quilos tem a carne que a senhora botou aí dentro, depois aperta o último botão ali, aquele marrom...

- Menino, será que dá pra você levantar daí e vir aqui me ajudar? Não tô entendendo nada...

- Não dá não, tô aqui com uma mina no Whatsapp...

A velhinha tinha posto um prato de carne dentro do aparelho, só pra testar. Mas era um prato de plástico, e como todos sabem (se não souber, é porque você também não deve gostar muito de tecnologias...) esse tipo de material não se dá bem com fornos assim. E pra ajudar, esqueceu uma colher junto. Eis que ela conseguiu ligar, mas quando as faíscas começaram a sair de lá de dentro, tanto ela quanto o moleque saíram correndo, achando que, no mínimo, aquele troço ia explodir. Não explodiu, mas rendeu a Vitinho um belo sermão tanto de Dona Lila (que no susto apareceu descabelada e de chinelos na rua, coisa que ninguém nunca tinha visto até então) quanto de Dona Vitória; e, claro, sermão à moda antiga.

O fato é que no dia das mães desse ano, tudo corria bem até que os vizinhos ouviram um grito vindo da casa da velha Mariana. Ela havia acabado de abrir seu mais novo presente, dado pela filha mais nova, Júlia, que morava no estrangeiro. Não foi muito difícil para quem ouviu o que ela disse, em alto e bom som, adivinhar o que ela quis dizer quando descobriu que havia ganho um notebook novinho em folha:

- Pelo amor de Deus, de novo não!

terça-feira, 30 de abril de 2013


foto: kleberejulia.blogspot.com
“I love you, I love you, I love you - That's all I want to say until I find a way, I'll say the only words I know that you'll understand...”
(John Lennon, Paul McCartney)

Eu curti cada momento da minha gravidez, sabe? Tirei até fotos com a mesma pose e fiz um mural mostrando a evolução da minha barriga! Meu marido até ficou "grávido" junto comigo, o máximo!
Ai, gente, essa gravidez daria uma novela, vocês nem imaginam! Foi difícil ficar grávida... mas eu consegui! Eu não via a hora de ter esse serzinho fora de mim para poder amá-lo bem muito - e voltar a ficar magra, claro!

Quando eu conheci a minha filha, ela já estava grandinha. Aliás, foi ela quem me adotou, e não o contrário.

Foi difícil... muito difícil... Assim que soube que eu tava grávida, aquele salafrário sumiu no mundo e me deixou sozinha. Mas eu não me rendi, e cá estamos nós!


Não há palavra melhor que MÃE, há? Lembro de uma frase que minha pópria mãe sempre me disse: "não sou sua pareceira. Eu sou sua amiga, mas acima de tudo, sou sua MÃE."
As crianças me chamam pelo meu nome. Não acho estranho, é até melhor - quem sabe, mais para a frente, ninguém diga que sou mãe, mas irmã, não é?

Ela me chama de "pãe"... É engraçado, mas acho que é isso o que sou, mesmo. PÃE dela. Não é fácil ser um cara solteiro lidando com uma criança. Mas vale muito a pena!

"Mainha", "mãe", "dona", "senhora"... Ele é bem espirituoso, nome não falta pra me chamar, todos respeitosos!


Bem, eu adoraria criar minhas crianças para ficarem sempre junto de mim, mas a gente sempre sabe que a gente cria filhos pro mundo, né? Só nos resta passar nossos valores a eles e tentar orientá-los, rezando muito para que eles escolham o melhor caminho.
Amor, não há educação melhor para uma criança que aquela que ela pode receber num internato. Aprender desde cedo a se virar, saber que não há papai e mamãe pra sempre. Mas lógico que, quando chegam em casa para os feriados, têm todos os mimos possíveis à espera deles. Também sinto saudades deles e quero compensar todo o tempo longe.

Não sei, direito, que tipo de pai eu sou. Sei que quero que minha menina seja uma cidadã de bem, que ela saiba sempre o quanto é amada e estimada, quero que ela tenha a vida que eu mesmo não tive. Minha filha tem tanto direito a ser feliz quanto eu!

Rezo todos os dias pela felicidade dos meus. Trabalho muito duro pra manter nossas bocas e espero servir de exemplo para tudo de bom e de ruim em sua vida. Quero ver meu filho se tornar um homem trabalhador e honesto, que não fuja de seus atos.


Eu daria a minha vida pelos meus filhos...
Eu daria a minha vida pelos meus filhos...

Eu daria a minha vida pela minha filha...

Eu daria a minha vida pelo meu filho...

Quero, em nome dos ESCREVINHADORES, desejar as boas-vindas a todos vocês de volta! Esperamos que curtam a reabertura deste espaço tanto quanto estamos curtindo estar juntos a escrever novamente para vocês.