terça-feira, 4 de setembro de 2007


E N C A M I N H A M E N T O S L I N E A R E S


ou Um coelho no País das Maravilhas



Fica combinado assim, desde sempre: meus dias seguem os encaminhamentos lineares do calendário. Não olho pro lado, sigo em frente. Um espetáculo sucede outro que sucede outro que sucede outro. Um filme aqui, outro livro lá. Por anos, meses, semanas. A segunda vem sempre depois do domingo, o fim de semana sucede a semana tumultuada. Sem espaço pra descanso. Sigo em rota de colisão há tempos.


Os males da contemporaneidade estão tatuados pelo corpo. Meu corpo encontra outros na mesma situação. Formamos uma multidão de corpos marcados pela urgência, sobrevivência, luta inútil contra o tempo. Luta inútil pra não ser esquecido. Não é também por isso que insistimos em arte? Pra enganarmos o tempo?


Não construímos mais pensamentos, só pontes que encurtam caminhos e nos trazem soluções práticas para angústias diárias. Pensar dói. Criar também. Sensações e sentidos são ferramentas para explorar o desconhecido. Mas esquecemos de olhar pra dentro. Sou só uma máquina de produzir sensações. Nos outros. Na arte. Pra compreender melhor o mundo. Coisas que não dão dinheiro na lógica fria do capitalismo.


Muitas vezes, digo o oposto do que sinto, para que os outros me entendam de uma vez. Paciência é uma virtude e custa caro. Atalhos e tempos esgotados não explicam tal coisa. Às vezes me sinto como o coelho do País das Maravilhas. Vivemos correndo atrás de quê, mesmo? Ah... esqueci de pensar nisso!


Às vezes compramos a passagem sem saber bem pra onde e nem prestamos atenção no caminho percorrido.Talvez uma saída seja parar numa estação qualquer no meio do caminho e respirar um pouco de ar.


Antes que seja tarde.



wallace puosso, setembro de 2007

domingo, 8 de julho de 2007


foto: http://www.squeep.com/
“Hoje vai ser uma festa! Bolo e guaraná, muitos doces pra você...”
(Xuxa, Mauricio Vidal)

Parabééns praa voo-cêêê...

Hoje é o meu aniversário!! Meu, meu MEU!!! Yay, yay, YAY!!!

Nesta daaaa-taaa quee-rii-da...

Meus amigos, minha festa, meu bolo, meu TUDO!!! Como eu amo essa data! Quem pensar em estragar a MINHA festinha vai se ver comigo!

Muitas fee-lii-cii-da-des...

Quem meter o dedo no MEU bolo antes da hora, vai perdê-lo... quem ousar soprar a MINHA vela quando for a hora de EU soprar vai perder os dentes!

Muitos aanos de vi-daaaa!!!

Quem pegar nos MEUS presentes sem eu deixar vai levar um chute nas canelas - bem, só deixo a mamãe... Ah, como eu amo essa data!

É pique! É pique! É pique, é pique, é pique!
É hora! É hora! É hora, é hora, é hora!
RÁ... TIM.... BUM!...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Até que a morte os separe

“Mulher tenta se jogar da torre de telefonia celular após ser
abandonada pelo parceiro.”

O amor e a morte andam sempre de mãos dadas. Muita gente já matou ou já cometeu atentados contra a própria vida em nome do amor. Até mesmo na fonética o amor e a morte acabam se encontrando. Amor/A mor te, talvez por isso a expressão “morrer de amor” seja tão pronunciada por poetas e românticos inveterados.
Esse sentimento de querer morrer por amor já acometeu muita gente, mas principalmente as mulheres são vítimas desse tipo “loucura temporária”, a maioria dos casos de tentativas de suicídios passionais, as têm como protagonistas. Quantas vezes voocê já não teve um pensamento suicida?
O homem, com seu espírito machista, geralmente, reage de forma diferente, ao invés de atentar contra a própria vida parte para o ataque e procura agredir a ex-parceira ou até mesmo a pessoa com quem ela esteja convivendo ou até mesmo os filhos, que se tornam vítimas de sua ignorância. Tenho certeza que muitos dos que estão lendo este texto, já tiveram pensamentos insanos como esse, seja por ciúme ou por confundir sentimentos.
Mas, muitas vezes, como em uma novela a morte pode aproximar duas pessoas. Muitos romances podem começar de uma tentativa de cometer uma loucura. Afinal, nessas horas, o ser humano está mais frágil e pré-disposto a se agarrar na primeira “tábua de salvação” que aparecer. Pode ser em um momento como esse o grande amor irá aparecer na vida de uma pessoa. Mas, um alerta: não atentem contra a vida para ter uma chance de conseguir um grande amor. Tente, isso sim, ser mais observador. Pode ser que ele esteja mais próximo que imagina, afinal, o amor está na vida. O grande amor pode morar ao lado ou ter convivido com você a vida inteira e ainda não haver se revelado de forma clara. Procure, busque, nunca desista. Se um lhe abandonou o outro pode estar esperando a grande oportunidade de se jogar, não de cima de uma torre de telefonia celular, porém em seus braços e querendo viver uma paixão avassaladora, para depois se transformar em um grande amor, para, no final da vida, existir uma bela e profunda amizade e respeito, recheada de muito sexo e emoção, até que a morte os separe.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O e I


NA ESCOLA


Em seu primeiro dia de aula, Fábio emperrou na porta da sala de aula. Estava com medo da escola nova, pois não conhecia ninguém ali. Para um menino fraco e pequeno que estava na primeira série, era um medo justificável. Paralisado na porta, interrompia o caminho da grande e espaçosa Laura...
- Menino, sai da minha frente, por favor?
Quando se preparava pra responder... levou um empurrão [tapão] nas costas e voou cerca de um metro e meio pra dentro da sala.
Chorou e tomou (por todos os dias letivos até o ínicio da terceira série) despeito da atitude grosseira da nova coleguinha. Isso porque a tal infernizava o pobrezinho. Chamava de fracote, nerd, boboca, magrelo, esqueleto, palito-de-dente. Pegava material sem pedir. Quebrava seus brinquedos até que ele parou de trazer. Às vezes até dava uns tapas, pois na maioria das vezes eram uns murros mesmo. Mas chegou um dia em que a gorducha foi embora para Catanduva.

NA VIZINHANÇA

- Fábio, esta é a Dona Carla, nossa nova vizinha.
- Prazer, Dona Carla – Cumprimentou o jovenzinho de doze anos.
Dona Carla era doceira. Mulher trabalhadora e muito gentil. Ótima vizinha, Fábio adorou ter uma doceira que...
- MÃE! ONDE tem mais daquele BOLO sensação?
... Tinha uma filha chamada Laura.
Saindo para o portão, lá estava a mesma gorduchinha enérgica, maior e mais espaçosa. Pois é... vejam como são as coisas... O pesadelo voltou para Fábio, mas agora, com 13 anos.
- Laura deve começar a ir para a mesma escola que Fábio a partir de amanhã. – Comenta Dona Carla.
Ótimo. Chegou o tempo para Fábio ter a sua desforra.
Anos de vacas magras para Laura, e de gordinhas maltratadas para Fábio. Ofensas, brincadeiras de mau gosto, piadinhas no meio das aulas... Laura foi perseguida por Fábio até o terceiro colegial.

NA FORMATURA


Acabou a festa e é hora de todos se despedirem. Os amigos que passaram por tantos momentos juntos devem agora se separar e viver novos caminhos e novas aventuras.
Àquela altura do campeonato, Laura já atendia mais por “Gorda” do que por qualquer outro “apelido carinhoso” e Fábio olhava quando lhe chamavam por Palito-de-Dente. Talvez o momento mais solene da cerimônia foi quando o Palito-de-Dente foi pedir desculpas à Gorda por todas as ofensas e brincadeiras estúpidas que se decorreram no colegial.
A Gorda por sua vez também se desculpou por todos os danos feitos, o material quebrado e os bofetes dados desde os tempos do primário. E não é que pela primeira vez se abraçaram?
Se acha pouco, eles também trocaram telefones, já que a Gorda não morava mais num bairro próximo ao do Palito-de-Dente. E a troca de desculpas/telefone, teve um bom resultado. Segue.

NA IGREJA


- Irmãos e Irmãs, estamos aqui hoje celebrando o matrimônio de Fábio Souza Campos com Laura Silva Prados....
Tema do Mês: Casamento. =]

sábado, 26 de maio de 2007

De onde viemos?
Pra onde vamos?
Como surgiu o Universo?
Quem é o Papai Natureza?
Quem são os pais da Mamãe Natureza?
Como surge o fogo?
De onde vem a água?
Até onde vai a terra?
Pra onde vai o vento?
Quem surgiu primeiro? O ovo ou a galinha?
Por que o pum fede e o perfume cheira?
Por que o papai usa terno todo dia nesse calorzão?

O Malabi sabe, mamãe?


Malabi, bi-la-ma, ma-bi-la, ma-ma-bi-la...
(Laura Finocchiar, Leca Machado)

segunda-feira, 21 de maio de 2007

cena em relevo, retrato em sépia



Severino andava tranqüilo por uma rua qualquer, olhar perdido, cantarolando uma canção qualquer, dessas sem verso nem refrão. Severino padrão, igual a tantos outros que perambulam pelas ruas. De repente impulsionado por nada dobrou uma esquina, oitocentos metros depois outra & três casas depois adentrou sorrateiro por uma porta suspeita, dessas com tinta descascada & faltando número, subiu apressado quatro lances de escada & num corredor com lâmpada queimada entrou num quarto suspeito, abriu uma cachaça barata, dessas com tampinha e nome esquisito, ligou no jornal das oito & enquanto cid moreira centenário & absoluto discorria sobre os males do homem, Severino enforcou-se com a gravata nova no encanamento do banheiro malcheiroso e num canto da boca um sorriso: teria enfim a paz, seria enfim feliz, ele que quase conseguiu, quase se formou, quase se casou, quase venceu, quase subiu na vida, quase conseguiu ser ele mesmo, Severino com um quase sobrenome, como tantos outros severinos quase gente em meio ao buraco negro da cidade grande, ele um quase severino.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Mistério na praia

O corpo nu, estava ali, estendido no chão. O sol já apontava no horizonte. As mulheres dos pescadores começaram a se aproximar. As crianças, em um misto de medo e desconfiança agarravam-se nas pernas de suas mães. Na praia, junto com o corpo, jazia algum lixo trazido pelo mar.
As perguntas sobre quem era aquela pessoa começaram a ser ouvidas. Todos cochichavam e se perguntavam se alguém conhecia. Ninguém sabia responder.
Os meninos pegavam pedaços de pau e cutucavam o corpo para ver se tinha alguma reação as mulheres começavam a comentar sobre a beleza plástica daquele homem.
- Nossa, que desperdício. Se meu marido fosse assim, eu nem deixava ele sair da cama.
Os risinhos eram invitáveis enquanto as mulheres procuravam tampar os olhos das meninas que ficavam vermelhas diante da nudez do morto.
- Seria até mesmo capaz de me apaixonar por ele. Nossa que homem.
- Quem será ele? Será algum náufrago? Será que o mataram?
- Não parece ter sido morto por alguém ou ter sofrido algum acidente. Não tem sinal nenhum no corpo. Aliás, que corpo... Aff!!!
- Mamãe, esse morto vai pegar a gente à noite?
- Calaboca, menina! Ela não vai pegar ninguém não. Mas se pagasse, ai...
Uma a uma, as mulheres começavam a se sentir excitadas. Uma estranha atração as deixava em um estado de êxtase, vendo aquele corpo sem vida, porém, belo, atrativo...
Uma estranha luz começou a crescer e se tornar cada vez mais brilhante. Não se conseguia definir de onde vinha. Ofuscava a todos. As mulheres começaram a ficar apavoradas, porém, uma estranha sensação de prazer ainda dominava seus corpos. Uma sensação de gozo dominava a todas e procuravam proteger seus olhos.
Quando a intensidade da luz começou a diminuir, uma estranha névoa cobria a praia. Ouviram um barulho como algo caindo no mar. Olharam em direção onde estava o corpo na esperança de vê-lo por ali e aproveitar um pouco mais do prazer de sua beleza.
Nada mais viram. Começaram a andar em direção de suas casas comentando o que havia acontecido.
- Nossa! Que sonho estranho tive essa noite. Mas, foi tão bom... Ai, ai...
- Engraçado. Também acordei com uma estranha sensação, mas não sei o que é...- Sei lá... Só sei que está tão bom... Vi uma luz, um homem... Aliás, não tinha um homem caído ali na praia?

domingo, 29 de abril de 2007

FOOL-Turo

E aí gente!! Saudades dessa caixinha aqui hehe... Post atrasado pra variar, mas acho que tenho um desconto por ser o aniversariante do mês ;D.
Vamos ver se eu ainda funciono como blogueiro! ;)
Bom... achei engraçado o post do Luiz pois quando fiquei sabendo do tema pensei em algo muito parecido... Custou pra refazer minha idéia, e aí está ela... espero que gostem! =)



Fool-Turo

(CMSH, 67 de ouctubro de 3050)

- Querido, não está cansado?? Está trabalhando nessa manutenção há horas... não quer parar um pouco para repôr as energias??
- Obrigado querida, mas na verdade não falta muito....
- Entendo... percebi que este deu bastante trabalho.
- É verdade, estava todo desrregulado e...
- Claro, como a maioria... Escuta, fiquei sabendo que a última tecnologia dos chips complementares é o 304 da HR... já temos desse?
- Eu ainda não comprei esse, mas na verdade é pouca diferença... Neste aqui eu usei o HR-600...
- Qual era o problema desse??
- Não tinha nenhum chip complementar... deu um trabalhão pra desligá-lo, quando cheguei na casa do meu cliente ele era uma máquina de destruição... Estava pronto pra detonar tudo!
- Nossa!
- Sim, é bom que todos tenham um chip logo... bom saber que ainda existem alguns que não tem “bugs”, nem dão “tilts”.
- Só espero que continuem existindo, mas do jeito que as coisas vão... ....ei, que programação é essa que você está fazendo agora?
- Ah, essa aqui é pra que ele seja mais cooperativo com os outros. Já fiz as configurações para que ele seja pacífico e gentil, já reprogramei sua memória para que todas as lembranças que lhe trazem qualquer tipo de comportamento negativo sejam deletadas automaticamente assim que passem da tolerância. Também refiz as programações que dizem respeito aos sentimentos dele, tais como a absorção de ódio, raiva, stress e todo tipo de energia que prejudica seu corpo. Agora com certeza ele será mais carinhoso com seus semelhantes, isso é ótimo.
- NOSSA! Esse tava problemático mesmo!!
- É, além disso também instalei um filtro nele, pois estava liberando uma quantia acima do recomendado de CO2...
- É, o seu cliente devia saber que ele já precisava ter um desses... depois que leva uma multa não sabe por quê...
- Querida... impressão minha ou o telefone está tocando?
- Vou atender!!

A esposa vai até o telefone e atende:
- Casa de Manutenção de Seres Humanos XTL-670 , Ciborgue 458-ZY, boa tarde?

sábado, 21 de abril de 2007


foto: www.broadjam.com/, editada por Tom
“All this pressure on me cuz I don't know what to say...”
(Shaznay Lewis)



- Nada ainda, cara?


- Pois é, tá brabo, aqui...


- Você bem poderia considerar as opções, né?


- E tolher minha criatividade, minha alma como artista?


- Não precisa ser tão a ferro e fogo, assim! Lembre-se de que há um emprego a zelar, ou acha que a companhia pagará mais meses de estúdio sem nada de concreto para mostrar em troca? Se forem bem generosos, vão mandar músicas prontas feitas pra você! E os seus fãs?


- Que tem eles?


- Eles também não lhe esperarão por muito tempo! Ou acha que, com todo este furacão na internet, alguém irá esperar por um artista que não compõe mais nada a tanto tempo? É bom ter algo prra mostrar, e que seja um hit logo!


- É... parece que estou meio perdido, mesmo... quais as minhas opções?


- Bem, você pode ir ao bom e velho computador, aqui, do estúdio... nós temos aquele programa novo que consegue copiar a sua linha de pensamento... assim, o computador mesmo pode compor as suas canções do jeit que você as comporia.


- Mas aí não seria eu!


- Sim, seria você... pense que seria apenas o seu corpo se poupando de esforço... e quem disse que você não poderia mexer pessoalmente no resultado que o computador trouxesse?


- Não, não gostei dessa opção nem um pouco! Qual a outra?


- Bem, a outra é mais cirúrgica... seu cérebro está cansado... então, você pode fazer o transplante... certamente, você fez o seu clone, pra esses casos, não?


- Claro que não! Um clone seria outro ser, assim como eu!!! Não poderia fazer isso com outra pessoa!


- Pô, cara! Facilite a nossa vida, né? Eu sou só um engenheiro de som! Você que inventou de ser cantor/compositor/produtor, aqui!


- Quer dizer que sótenho estas duas opções, com todo o avanço científico e tecnológico?


- Por ora, é só, cara! Eu recomendaria repouso, mas você perdeu esta opção, depois destes anos todos sem lançar algo novo. A pressão irá começar a surgir logo, logo, é bom se preparar!


- Então, já que é assim, eu me rendo... chamem os colaboradores...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

PANIS ET CIRCENSES



Hoje é dia de final de Copa do Mundo. Os amigos da comunidade M... já compraram as entradas com pelo menos seis meses de antecedência. Debitado na conta virtual de crédito e financiamento do Banco John’s Paul Morgan.

Os caras da comunidade M... são de vários países. Dois mexicanos, um americano, uma francesa, um australiano, três ingleses e um marroquino. Comunicam-se em dialeto msênico e transitam por todo mundo em viagens turísticas virtuais.

A Copa do Mundo ainda é o maior evento do planeta. Transmitido para mais de 170 países e disponível também para público virtual, já há pelo menos 20 anos. Funciona assim: você entra em contato com os organizadores do evento (em vídeo-conferência se for um grupo de pessoas) e escolhe num mapa, qual lugar quer se sentar no estádio. Os valores variam de acordo com a visibilidade pretendida. Escolhido o local, você recebe uma senha e, dependendo do tipo de plano escolhido, tem acesso a câmeras exclusivas: no vestiário, ao lado do banco de reservas, na beira do túnel por onde os jogadores entram em campo e por aí vai. Uma gama enorme de possibilidades.

Os amigos resolveram adquirir também, entradas exclusivas para a grande festa de encerramento, que costuma lotar casas noturnas após o término do jogo. São vendidas como parte do pacote e dá o direito à pista de dança, bar, lounge, jardins suspensos e camarotes vips.

Hoje então, os amigos da comunidade M... se conectam pelo menos umas 3 horas antes do início do jogo. As cadeiras são todas próximas. Para os australianos, ainda é madrugada, mas isso não parece ser problema. Há muito tempo, o mundo deixou de ser orientado por regras de horário comercial, bancário e de bolsas de valores. Os horários são flexíveis, assim como as relações trabalhistas, sociais e financeiras. Aliás, os amigos só mantêm suas nacionalidades por uma questão de respeito às culturas locais. Há pelo menos três décadas, os países deixaram de ter fronteiras físicas e passaram a se organizar em grandes blocos. Pra ser exato, quatro.

Ah... as cervejas ainda são reais. Pedidas pelo monitor global (uma espécie de TV em rede mundial) são entregues em casa em menos de 10 minutos. E são pagas em créditos virtuais.
Bem, quanto ao jogo, ninguém sabe ao certo se é real ou não. Mas também ninguém parece se importar.

A diversão está garantida.
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Wallace Puosso, 2057

domingo, 8 de abril de 2007

Tecnologias...





Estava cá pensando: até onde vai essa coisa de avanços tecnológicos, onde é que nós vamos parar? Certo é que esses avanços facilitam a nossa vida, mas será que chegaremos a extremos? Fui pra cama ontem com esse pensamento. Depois de ler um artigo sobre como será a nossa vida daqui 100 anos. Nossa não. A de nossos descendentes. A não ser que arrumem um pulmão artificial pra mim, que esse aqui já tá gasto desde já. Enfim.
Conversando com o Zé, amigo de longa data, chegamos a conclusão de que tecnologia demais acaba afetando demais, acaba estragando a graça de viver. Você, meu amigo, gostaria de viver 250 anos, mesmo com aquele corpinho de 200? Eu não consigo achar graça. Me imagino indo a um consultório médico, não mais para me consultar, mas para trocar meu pâncreas. Ou tendo de parar uma corrida no meio porque meu pulmão parou de funcionar, quanta inconveniência ter de trocar de pulmão no meio do caminho, que saco. E dá-lhe a gente se abrindo, literalmente falando, no meio da rua, arrancando um pulmão usado, jogando-o no lixo, arrancando outro da mochila e colocando no lugar.
E se de repente todas as figuras lendárias fossem mantidas vivas? Tem algumas atualmente que nem precisam, já dormem no formol. Mas outras... pesquisei com meus sobrinhos:


- Lucas, quem você queria que vivesse pra sempre?
- Bush.


Não. Não me parece boa idéia, descartemos isso, deixa pra lá. Nossos descendentes podem fazer escolhas erradas com todo esse avanço que certamente virá. E eu é que não quero estar aqui pra ver. E se estiver ainda de pé - metaforicamente falando - que seja muito fácil: se é pra ficar alienado, que inventem uma maneira de me tirar as retinas, que desse desastre não quero nem saber. Segue aí três casos possíveis que eu inventei agorinha. Ou não...



CENA I

Dois senhores no bar, conversando.
- Manoel, quando que é seu aniversário mesmo?
- Dia 21 de abril.
- Legal. Quantos anos? Se me permite perguntar, claro.
- Sem problemas. Vou fazer 142.
- Que coisa. Dez anos mais velho que eu. E nem parece.
- Obrigado.
- Mas me diz, Manoel, o que você fez para parecer mais novo?
- Simples, Antônio. Depois que eu troquei meus órgãos por órgãos artificiais, tudo ficou mais fácil. Só foi trocar o rosto por um mais novo. Recomendo.



CENA II

- Querida, cheguei.
Os dois se encontram na porta de entrada da casa, se beijam carinhosamente. Ele, Renato, 35 anos, moreno, olhos claros, cabelos negros caindo nos ombros, vestindo um terno já meio batido, mas nada muito chamativo. Humano. Ela, Cássia, 30 anos, morena, cabelos negros e longos, olhos azuis, vestindo uma roupa casual. Fruto de avançada tecnologia robótica.
- O que temos para jantar hoje?
- O de sempre, Renato. O de sempre...
- Não conseguiu variar, ainda?
- Não. Não consegui achar o programa que atualiza as receitas.
- Que pena. Lá vamos nós comer canja de galinha novamente... cadê as crianças?
- Foram passear no shopping. Só o Lucas, que está dormindo.
Renato entra no quarto do pequeno Lucas, seu filho de três anos. O menino dorme tranquilamente, Renato observa. Quando ele se aproxima mais do berço do garoto, este acorda e começa a chorar em alto e bom som. Com todo cuidado, o pai o carrega, levanta a camisa da criança, localiza o controle de volume em suas costas, e deixa no mudo. Lucas volta ao seu sono tranquilo.



CENA III

Um grande público prestigia uma partida de futebol. Há grande rivalidade entre os times, é um jogo disputado, muito corrido. A multidão vibra com as jogadas. Até que um lateral do time X acerta em cheio a perna esquerda do atacante do time Y. Fratura exposta, coisa feia mesmo. Entram os médicos no campo, prontamente. Correm para socorrê-lo. Ele não esboça nenhuma reação. E a perna lá, toda torta. O médico-chefe analisa a perna, coça o cavanhaque e grita.
- Ô Jorge, pega uma perna de titânio lá no vestiário, uma esquerda. Vamos ter de trocar essa.
O tal Jorge corre e volta com uma perna esquerda novinha. Retiram aquela que entortou com o impacto, rosqueiam a nova e o jogo segue normalmente.