sábado, 26 de novembro de 2005

DEMOCRACIA..

Era uma noite tranqüila de verão, quente, porém circulava uma brisa fresca, anunciando que de madrugada poderia chover. O homem sentado no "trono", onde muitos sentam-se para exercitar o cérebro e saem com a consciência mais leve, suava às bicas, seu corpo inteiro estava molhado, como se tivesse acabado de sair de um banho. Suspirava aliviado pois, logo após, foi só puxar o cordão da descarga e sentir-se como se não houvesse nem mesmo um pequeno peso na cabeça.
Ajeitou as calças. O sujeito era bastante gordo, mal conseguiu colocá-las, pois pelo seu tamanho, era pequena, chegou mesmo a estourar algumas costuras. Pigarreou, cuspiu em um canto e saiu do banheiro. Em sua sala pegou a camisa onde exibia várias estrelas e muitas medalhas. Num grito quase ininteligível, com a língua enrolada, chamou:
- Tenente !
Quase que no mesmo instante aparece um homem bastante magro, com seus 29 anos, olheiras profundas, aparência bastante soturna, porém, polido.
- Sim, Senhor Comandante.
- Pegue minhas botas.
O homem magro se move até o armário, pega as botas e as entrega ao General.
- Pronto, Senhor Comandante .
- Primeiramente, quando eu der alguma ordem e o senhor se dirigir a minha pessoa, responda-me: "yes, sir!", e depois cumpra minha ordem ao pé da letra, entendeu ?
- Sim, Senhor Comandante.
- Pelo que parece não entendeu. O que é mesmo para responder ?
Quase gaguejando o homem respondeu:
- Yes, sir!
- Tá começando a melhorar. Como é mesmo?
- Yes, sir!
- Entendeu direitinho, não é?
- Yes, sir?
- Isso, é assim que eu gosto, aqui sou a autoridade máxima, acima de mim, só a Cia, o Pentágono e o Presidente dos Estados Unidos da América, nem mesmo este testa-de-ferro de merda, que se intitula Presidente, graças á minha boa vontade em colocá-lo no poder, tem mais autoridade que eu. Eu sou a ordem, eu sou o poder. Eu sou a verdade. Eu tenho até mesmo direitos sobre a vida e a morte de qualquer cidadão deste país. Se a águia americana voou por aqui, vocês têm a democracia. A democracia que é a única e verdadeira no mundo, e se alguém quiser que seja diferente, eu mato, esfolo, passo por cima com todo o aparato militar e paramilitar que tenho em minhas mãos, para que democracia dos Estados Unidos da América seja aqui implantada, se for preciso, eu esmago, eu trucido, eu... eu... está dispensado, Tenente.
- Sim, Senhor Comandante !
-Já não disse para me responder "yes, sir!"? Será que é surdo? Não ouviu direito? Berrou o General em um ataque de ira.
-Yes, sir.
Mesmo com a resposta correta, o General continuava a gesticular e gritar palavras ininteligíveis. Percebendo a cena, o Tenente cerrou os olhos e os lábios, numa atitude de desespero, já esperando a bofetada ser desferida, como sempre acontecia quando o Comandante ficava nesse estado; mas para sua surpresa, não veio.
O General colocou a mão na porta, preparando-se para sair, quando falou:
-Tenente!
-Sim, Senhor Comandante!
Percebendo a gafe o Tenente se encolheu todo, porém não foi um tapa ou um murro que recebeu. O General com os olhos vermelhos, como se estivesse possuído pelos piores demônios, agarrou os culhões do Tenente e apertou-os, até que o homem fosse se dobrando e caísse sem sentidos. O General, ainda não contente, pisou em seu pescoço e aproveitou uma ponta de cigarro, ainda acesa, que se encontrava no cinzeiro, em cima de sua mesa e apagou-o nos lábios do homem, abaixou-se, arrancou as divisas de sua camisa e saiu batendo a porta, mas antes voltou-se e cuspiu na cara, do agora rebaixado soldado, desfalecido no chão.
Foi caminhando pelo corredor estreito, iluminado apenas com algumas lâmpadas fracas, sentindo no rosto um vento mais forte que entrava por uma janela semi-aberta. Chegando ao final do corredor, bateu a janela com força e fechou com a tranca. Virou-se á direita descendo as escadas que levavam ao porão. Chegando lá embaixo sentiu um cheiro forte de bolor, que lhe ardiam as narinas, principalmente porque este vinha com uma mistura do cheiro de suor e sangue, chegou a sentir náuseas, porém, fez uma careta e seguiu em frente. Abrindo uma porta de aço entrou em um minúsculo quarto mal iluminado, onde pode ver em um canto, uma mulher quase nua amarrada pelas mãos, com a cabeça caída sobre o peito. No centro da pequena cela, haviam duas cadeiras, entre elas uma cano de ferro onde se encontrava um homem nú, amarrado pelas mãos e pelos pés, em seu corpo, via-se claramente alguns vergões e hematomas. Ao seu lado sentado em um banquinho de madeira, havia um outro homem fardado, com divisas de Sargento.
O General perguntou:
- Ele falou, Dr. Robert ?
- Não. Por enquanto não - respondeu o médico. O trabalho que fizemos, foi muito bom, só que o rapaz não agüentou. Estamos esperando que volte à si para continuarmos.
- E quem é essa?
- Ah, a garota... Esta é Vilma Mastroantonio, no aparelho chamam-na de Raísa, mas não sei se vai agüêntar muito tempo viva, os que me antecederam deram-lhe um cacete e tanto. Não sei como ainda está viva. Foi estrupada por três soldados, tomou choque o dia todo, praticamente, ainda respira por um milagre, pelo que pude constatar. Isto aqui é trabalho para profissionais, não é qualquer um que pode ir tentando arrancar confissões.
- Mas, as ordens para não darem moleza à esses vagabundos, partiu de mim. Portanto Dr. Robert, acorde esse aí com um balde d'água e mãs-à-obra. Não podemos perder tempo.
-Mas, temos que dar um tempo senão ele não agüenta. Além do mais pelo que pude verificar, parece que cometemos um erro, ele não parece pertencer à nenhuma organização.
- Nem mas, nem meio mas. Parece que está ficando frouxo, Doutor. Ta ficando romântico? Isso aí, tem cara e cheiro de comunista; e da pesada. Já deve ter aprontado um montão em sua vida, olha que cara de agitador! Além do mais, o senhor não viu o retrato falado que publicamos dele no jornal? Não dê moleza. Acorde o vagabundo, que agora eu vou fazê-lo falar.
O médico pegou um balde com água e jogou sobre o rosto do rapaz. Este, voltou a si, assustado, quase perdendo o fôlego.
- Como é que é, boneca? Vai falar ou não? Disse o General, com sorriso sarcástico - Já tô de saco cheio. Nós já sabemos uma grande parte de sua história. Seu nome é Carlos Rui da Silva, teu codnome é Igor, não é camaradinha ?
- Não conheço nenhum Carlos, Igor então eu nunca ouvi falar... Não sei do que estão falando ...
O General deu um berro, perdendo o ar de sorriso:
- Não me faça perder a paciência, sei que você é comunista. Diz para nós qual é a organização a que pertence?
- Eu não sei de nada, eu sou somente um operário. Não sei o que vocês querem ou o que vocês estão fal...
Não houve tempo de terminar a frase. Levou um tapa na orelha que o deixou surdo e ainda mais zonzo do que já estava.
- Eu ainda estou calmo. Me diga tudo. Você vai embora e tudo acaba bem. Só queremos que você colabore conosco - grunhiu o homem das cinco estrelas. - Vamos diga quem são os cabeças da organização, mais nada.
Numa tentativa de arranjar uma história, para satisfazer o General, até se desesperou, mas nada lhe vinha à cabeça.
- Mas eu não sei de nada de organização. Eu só quero ir embora. Eu tenho filhos para criar. Por favor me deixem ir eu suplico...
O gordo General se levanta. Vai até uma pequena mesa lateral, pega uma pequena caixa onde estão ligados alguns fios. Pega dois deles e liga-os no lóbulo de cada orelha, um terceiro prende na base do pênis do homem, e este ao perceber o que estava acontecendo começa a gritar:
- Eu imploro. Não... Não... Deixem-me ir embora. Eu não tenho nada com isso, em só trabalho na...
Mais uma vez não houve tempo de terminar a frase. Soltou um berro tão forte que poderia ser ouvido a dezenas de metros de distância. O General havia girado por várias vezes uma pequena manivela sobre a caixa, que desencadeou vários choques pelo corpo do homem.
- Quer dizer que trabalha. Você confessa que trabalha, não é? Trabalha para quem? Quem são seus chefes? Quem são os cabeças? Qual vai ser o próximo golpe? Vocês estão pensando em seqüestrar alguém? Vamos, diga! Vamos terminar com este sofrimento diga tudo o que sabe e estará livre. Eu estou sendo bastante complacente, não estou? Então, vamos lá, diga... Berrou o General girando mais uma vez a manivela.
Ouviu-se mais um berro de angustia e dor, o homem começou a chorar.
- Eu não sei de nada... Eu só sou um operário... Eu só quero ir embora e viver minha vidinha... Inclusive, eu amo este país. Eu até‚ dei ouro para pagar a dívida externa... Deixe-me ir, por favor...
Mais uma vez, foi interrompido por uma seqüência de choques elétricos, desfalecendo em seguida.
O General descontrolado, ergueu-se num pulo e começou a esmurrar a barriga do rapaz, que já quase sem vida, mal sentia as pancadas.
- Safado! Comuna safado! Fale desgraçado... Fale maldito...
O médico tentou intervir, dizendo que o rapaz estava quase morto, porém, de nada adiantou, o homem, chacoalhou suas medalhas, pegou o balde com água e jogou sobre o rosto pálido do torturado. Numa reação, quase inconsciente, este tossiu, sentindo um gosto ruim de sangue na garganta.
- Fale, filho-da-puta! Esbravejou o General, dando lhe choques cada vez mais fortes.
- Diga tudo o que sabe, berrava, e num ataque de ira pegou um cassetete e começou espancar todo o seu corpo. Batia na cabeça, braços, pernas, onde pudesse atingir.
Mais uma vez o médico tentou intervir, porém sem sucesso. O homem dependurado gritava já sem forças, e no instante seguinte tombou a cabeça, cessando os gritos.

Numa rua de casas simples, um Jeep da polícia desce, em pequena velocidade. Seus ocupantes, um homem moreno e alto, o outro gordo e baixo, olham para os lados, procurando alguma coisa.
Param em frente a um conjunto de casas geminadas e batem palmas. Aguardam um segundo mais... Uma mulher morena, de olhos negros, muito bonita, sai enxugando as mãos num avental bastante sujo, com uma criança assustada, escondendo-se atrás de seu vestido roto.
- Boa tarde !
- Boa tarde! Respondeu desconfiada.
Nós viemos avisar que seu marido, sabe... Foi atropelado, sabe... Quando atravessava, sabe... Uma rua na cidade, sabe, e...
- Não é possível, deve estar havendo um equívoco. Meu marido é vendedor e está viajando já faz um mês e...
Nem conseguiu terminar de falar, da casa ao lado, uma mulher saiu correndo e gritando desesperada. Dirigindo-se a outra, sendo seguida por seus cinco filhos que também choravam, agarrados á mãe:- É meu marido... É meu marido... Teu cunhado, Ester... Eu falei para ele ter cuidado... Eu avisei... Eu disse que ele se parecia com aquele tal de Carlos não-sei-do-que, que apareceu na fotografia do jornal...

sábado, 19 de novembro de 2005


Passerà, primo poi
Questo piccolo dolore che c'è in te, che c'è in me, che c'è in noi
E ci fa sentire come marinai in balia del vento e della nostalgia
A cantare una canzone che no sai... come fa
Ma quel piccolo dolore, che sia odio, o che sia amore,
Passerà.
Aleandro Baldi/Bigazzi/M. Falagiani

Desde o nascimento, André deu provas de seria uma pessoa muito alegre. Sorria para as enfermeiras, para o pai, para a mãe, para quem passasse em sua frente. Todos achavam que aquele menino tinha futuro, apesar da vida dificil que sua familia sempre teve.
O menino foi tornando-se um garoto, travesso, deve-se dizer. Ao juntar-se com seus primos, ficava impossivel. As brincadeiras iam longe, os pais se preocupavam com tanta molecagem, temiam que isso pudesse levá-lo a cometer atos graves. Mas, desde aquela época, ele se mostrou um garoto responsável.

O tempo passou, o garoto foi se tornando um rapaz cada vez mais bonito, inteligente e dedicado. Era o orgulho dos pais. Arrumou trabalho. A familia sempre o elogiava, pois a sua responsabilidade e sua educação eram admiráveis. Quanto mais tempo passava, mais André se tornava uma tipo de pessoa muito raro hoje em dia: uma pessoa direita.

Mas, o destino gosta de aprontar das suas, e sem avisar. Quando completou 19 anos de idade, André, que acabara de passar no vestibular, estava indo bem no trabalho, e com uma relação excelente com a familia, começa a sentir dores fortes nas costas. Pensou se tratar de esforço excessivo na coluna, mas achava estranho o fato da dor se localizar mais para o lado esquerdo do seu tórax. Foi ao médico, e este não diagnosticou nada. Mas as dores continuavam. Foi a outro médico, e este descobriu a verdade.

(... e o tempo passou, mais depressa que o normal)

Magro, pálido, mas sempre ostentando um sorriso em seu rosto, André completava seus 20 anos em sua casa, rodeado de amigos e da família. Seu aspecto físico se deteriorou, por conta das cansativas sessões de quimioterapia que ele fazia para tratar o câncer no rim esquerdo. Mas seu espírito não sofreu abalo algum. Continuava feliz, apesar de saber que sua vida estava se esvaindo. "Tão pouco tempo... mas tão bem vivido" - costumava dizer. Continuou a trabalhar até pouco tempo antes daquela festa, quando suas forças já não resistiam mais. A faculdade ele foi obrigado a largar. Mas sem nunca desanimar, pois sabia que para todos, há um destino a ser cumprido. E ele não deixaria de cumprir o dele.

Alguns dias depois, depois que todos foram dormir, André passou a lembrar de todos os momentos marcantes de sua vida. As primeiras palavras, os primeiros passos, as primeiras brincadeiras e primeiros hematomas, primeira namorada, primeira vez... tudo e todos que eram importantes em sua vida passaram diante de seus olhos. E sentiu que chegara a hora.
André abriu o seu livro da vida, enquanto fechava os olhos.
E assim ele partiu, consciente de que apesar de todas as dificuldades que um ser humano pode enfrentar em sua existência, ele certamente pode ter levado uma vida perfeita.

Baseado em uma história real, que ainda não terminou. Algumas partes foram modificadas, mas ainda assim foi mantida a essência da vida que esta pessoa está levando.

Dedicado a
Aline Virginia de Queiróz
(1980 - 1997)

sábado, 12 de novembro de 2005



"Se a voz da noite silenciar... Raio de sol vai me levar, raio de sol vai lhe trazer... Onde estará o meu amor?"
(Chico César)

Sonho.

Paixão. Êxtase.

Companheirismo. Sincronia. Sexo.

Amor...

Ilusão.

Quimera. Alegria.

Uma linda paisagem. Uma maravilhosa paixão. Uma inebriante sensação.

Sonho...

Luz.

Sol. Calor.

Preguiça. Despertador. Primeiras carícias.

Hora de acordar...

Há algo errado!

Não há pulsação. Não há calor.

Não há movimento. Onde está a respiração? Cadê o primeiro sorriso do dia, tão rotineiro e prazeroso?

Morte...

Coração fraco... coração saudoso... se foi na calada da noite... mas se foi do jeito que sempre sonhou... amando...

Onde estará agora? Quem sabe... mas amboa estarão a esperar... um dia, poderão se amar, novamente.

domingo, 6 de novembro de 2005

Claude Monet - As Papoulas Silvestres , 1873


Oiê pessoal!! Bom, eu iria postar no lugar do Luiz ontem, como favor. Mas não deu certo e eu tive que postar hoje, e mal sabe o Luiz que eu atrasei o post de qualquer forma rss ;(
Espero que gostem!

Beleza após Terror.
Naquele momento ela tinha certeza de que iria morrer. Não foi bonito, de fato. Andréa sempre pensou que morreria bonita. Sem marcas, sem desastres em seu rosto ou em seu corpo. E ainda pior: jamais pensou que morreria sendo estrupada. Ele havia a seguido durante o dia anterior. Sim, ela ficou assustada, mas imaginara que aquele seria apenas mais um admirador. Decidiu ignorá-lo, esperaria que ele se manifestasse, pois ele até que era charmoso... Um monstro charmoso. Mal julgamento de uma desditosa moça sensual, na casa dos vinte anos. Logo mais tarde, pega de surpresa na volta pra casa, ali estava ela naquele terreno abandonado. Fez tudo o que ele pediu, um pouco nervosa, mas o fez. Durante o ato tentou ser amigável, pois sabia que não poderia perecer naquela batalha. Certa vez lera um livro chamado Sorte, que contava sobre a história de uma garota que tivera sido estrupada na vida real. Suas lembranças disseram que como a personagem, ela deveria lutar. Poderia ser abusada sim, desde que saísse viva daquela. Foi tudo horrível, mas ela alimentava a esperança de que venceria aquilo, aquela batalha de atitudes e pensamentos rápidos. Feito o serviço pro monstro, ele a deixou naquela terra umidecida pela garoa. Ela fechou os olhos e respirou aliviada. Porém, ao seu voltar a ver, ali estava aquele revólver que há pouco estava frio e ameaçador em sua espinha. Mas dessa vez a mira era o seu rosto. Seu lindo rosto, sempre sem marcas nem manchas, era suave e dourado. Seus olhos verdes e seus cabelos loiros, sua boquinha pequena e provocante. Ela era uma escultura perfeita, - "moldada por Afrodite" - Dissera-lhe um ex-namorado. Agora um monstro estaria destruindo a escultura. Estrondo. A primeira bala atingiu a bela no seu lindo rosto. Sempre sem marcas. Nem manchas.Ela sentia o sangue quente, fervendo, brotando da escultura. O monstro lhe dissera que ela havia feito um serviço muito meia-boca. Esse era o pagamento por não lhe transmitir um pouco do prazer contido naquele corpo todo voluptuoso. Estrondo. Estrondo. Uma bala no ombro, outra na barriga. E ele se foi enquanto ela sofria, e pensava. Pensou em muitas coisas, pois morreria feia. Mas pensando bem quê importava isso? Adoraria ficar feia. Mas queria beijar a filha Sophia de novo. Queria ir ver a mãe no natal e queria visitar seus antigos alunos. Nada disso aconteceria pois ela estava agora indo pra outro lugar. Era de madrugada, em meio a um terreno próximo à margem de um rio fétido e poluído. Tudo era feio. E aquele corpo nu, ensangüentado e com um rosto deformado. Agonizando a terrível morte.Agoniza.Morre.Adeus ao amado mundo.Fecha os olhos.
Cruel mundo. Muito cruel.
Tudo parou de doer. Ela ainda estava na grama. Abre os olhos.O aroma das papoulas lhe sopra um sentimento de alívio. Ela levanta entre as flores. Seu rosto está perfeito, ela consegue tocá-lo. E seu corpo! Seu corpo não doía, ela estava em um vestido dourado e lindo e... e ela conseguiu se levantar perfeitamente! Estava sonolenta, como se nada tivesse acontecido... Como se anos tivessem se passado. Sentia algo em suas costas, um peso terrível. Mas o lugar em que estava era lindo. O sol batia em seu rosto e não permitia que ela abrisse bem os olhos, não ainda. Aos pouquinhos aquele clarão parou de incomodar sua vista. Confusa pelo "onde estou?" que lhe surrava a mente. Viu que no céu estavam as belas criaturas aladas que sua filha desenhava. Feixes de luz que flutuavam e dançavam à luz do Sol a melodia doce que pairava no ar, vinda de instrumento algum. Aquele peso atrapalhava a moça no seu sempre charmoso andar. Ela avistou uma estrada. Parou por um momento e tentou tocar o peso em suas costas. Tinha forma de asas. Afinal, eram asas. E um anjo lhe chamava para seguir a estrada, a linda estrada. A estrada que algum dia todos adentrarão e descobrirão o fim dessa minha narrativa. Mas não se assuste. A morte nos leva apenas para lugares bons. Sempre. =)