sábado, 24 de dezembro de 2005

Presente de Natal



O garoto caminhava pensativo. Apesar de já estar às vésperas do Natal, ainda precisava freqüentar a escola, pois não havia conseguido fechar as notas e enfrentava uma complicada recuperação, em várias matérias.
Sabia que seu pai estava desempregado, sua mãe vivia de bicos, principalmente lavar roupa para algumas mulheres ricas que a olhavam com desprezo. Como iria conseguir ganhar seu presente de Natal?
Pensou em mandar uma cartinha para o Papai Noel, porém nem sabia seu endereço. Aliás, nem mesmo escrever direito sabia, apesar de estar na quarta série. Mas, sabia que precisaria fazer um esforço enorme para conseguir o que queria. Resolveu então rabiscar algumas mal escritas letras para deixar junto com seu sapatinho na janela da sua casa, na esperança que o velho Noel atendesse seu pedido.
De tanto ouvir seus coleguinhas dizerem que era só deixar um recado junto ao sapato na janela que o presente viria, à véspera do Natal, pegou seu surrado sapato, abriu a janela e o deixou lá, juntamente com seu pedido.
No meio da noite, ouviu um barulho. Acordou assustado, mas, ao recordar do sapatinho na janela teve um lampejo de esperança.
Levantou, pé-ante-pé e caminhou até a sala. Tentou acender a luz, porém lembrou-se que a energia estava cortada. Na escuridão, divisou um vulto, que já partia para cima dele, com uma certa pressa. Então ele disse:
- Papai Noel???
O vulto parou, estático. Parecia que um raio o havia atingido em cheio.
- Papai Noel??? Repetiu o garoto.
- Você veio atender meu pedido??? Vai trazer comida para minha família, conforme o recadinho que deixei em meu sapatinho???
O homem levou um choque maior ainda. Não sabia o que fazer. Ficara imóvel, sem reação. Um lágrima brilhou em seus olhos...
- Sim. Balbuciou, em um fio de voz que tirou do fundo de sua alma. – Vá dormir agora, de manhã você verá.
Em um rápido movimento, pulou a janela de volta para a pequena estrada deserta e pensou:
- Sou um crápula. Como pude pensar em roubar uma casa tão pobre. Que imbecil fui. Agora ainda tenho o compromisso de levar comida para aquele garoto.
Absorto em seus pensamentos viu um carro virar em alta velocidade e partir para cima dele. Se não desse um pulo para trás e se espremesse contra o barranco, seria atropelado.
O carro bateu em um poste, rodopiou, bateu em outro poste e se partiu em dois. O motorista, preso pelo cinto de segurança, estava todo ensangüentado.
Correu até o carro, o homem ainda respirava e falava repetidamente:
- Não leve meu dinheiro... Não leve meu dinheiro... Ele é tudo o que tenho... Eu consegui juntar meu dinheiro... Não leve meu rico dinheirinho...
Não conseguia entender nada, o homem todo machucado, ao invés de pensar em sua vida, pensava em dinheiro? Não se conformava com isso. Ao pensar na situação, viu que uma maleta executiva caia do banco de trás do veículo e ao bater no chão, abriu-se e apareceram muitas notas de dólares. Olhou para os lados, não viu ninguém. Pensou consigo mesmo:
- Isso aqui deve ser dinheiro de malandro. Um cara num carrão bacana, totalmente bêbado, ao invés de pensar em sua vida, pensa em dinheiro. Deve ser alguma grana desviada de algum lugar. Eu é que não vou perder a oportunidade de ser um Robin Hood. Ah! Esse bacana tinha que aparecer agora. Isso só pode ser presente de Papai Noel e, pelo que estou vendo, essa grana vai dar para muita coisa. Acho que vai dar inclusive pra eu sair dessa vida de roubos.


No dia seguinte, o menino acordou eufórico. Correu até a sua sala e viu uma árvore de Natal, mais bonita que já havia visto na vida. Ao lado da árvore viu várias cestas com comida que daria para vários meses e ao lado um pacote de dinheiro com o seguinte bilhete:
- Espero que você nunca mais passe fome. Esse dinheiro, dê para seu pai e diga para gastar com muito cuidado para não faltar mais nada. Assinado: Papai Noel
Quando já ia sair gritando de alegria, viu escondida atrás do velho sofá, uma bicicleta, outro grande sonho de sua vida.
Subiu na bicicleta e saiu eufórico pela velha estrada. Ao andar uma boa distância, já quase próximo da cidade, viu uma carro do Corpo de Bombeiros, retirando os restos do que ele imaginou ser um carrão de luxo. Virou a bicicleta de volta e foi correndo mostrar para sua mãe o presente que havia recebido do próprio Papai Noel.

(Baseada em uma antiga música de Tonico e Tinoco, que minha mãe jamais conseguiu lembrar o nome, apesar de sempre se lembrar dela). Peço desculpas ao Felipe, por ter adiantado a postagem de meu texto. Seria impossível colocá-lo amanhã, dia de Natal. Feliz Natal a todos e um excelente 2006.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Assassinato de Natal

- Tá devendo quinhentos!! E é bom mesmo que tu me entregue essa grana até hoje à noite, saca?
- Beleza, p-p-pode deixar, vou conseguir, pode deixar!! – respondeu ela, trêmula.
- Bom mesmo. Tu já sabe o que acontece com quem deve grana alta igual essa e não paga no prazo, sabe não?
- Pode deixar mano, já falei que te pago o bagulho todo hoje mesmo!
- Hoje vai até a meia-noite. Melhor que pague, que seja com qualquer troço que vale o mesmo que a grana. Vai ser meu presente de natal – disse ele, sardônico. – Agora , se apresse em fazer teu trabalho! Cai fora!
Saiu da boca-de-fumo, muito olhada pelos capangas da chefia do local. Eles deviam estar gravando em mente quem deveriam matar depois, se fosse necessário.
Daisy estava naquela vida, ou melhor, naquela morte, há um bom tempo. Uma garota rebelde, havia cansado de ser sempre a criança que tinha menos. Não se conformava com a vida humilde e estúpida que tinha. Então um dia decidiu começar a trilhar um caminho que lhe rendia um pouco de prazer com parte do dinheiro que tinha. Aos poucos aprendeu a conseguir mais por conta própria. Era uma ladra bem evoluída nas ruas e tinha sempre em mãos a “grana fácil”. A dívida só cresceu pois ela estivera na prisão nos últimos meses, somente contatando a galera da boca quando tinha alguma vontade.
Pois bem, lá foi ela, em véspera de Natal, à caça. Tudo fechado, então deveria esperar apenas em alguma rua de bastante movimento. Tentava encontrar vítimas fáceis, mas naquele feriado ela estava receiosa. Por quê? Talvez pelo solene espírito da data.
Passam as horas e ela consegue somente metade do dinheiro. Roubando um pouco de cada, Tática estúpida! Devia logo tirar tudo o que eles tinham! Afinal, ao menos eles não perderiam a vida. Encosta numa parede de uma rua escura e aguarda pela morte. Vinte para a meia noite...
Até que um senhor em trajes de Papai Noel antigos e mofados, passa pelo lugar, apressado. Carregando consigo uns papéis de embrulho, e... um videogame. Um que certamente vale mais que a dívida. Daisy não pensa duas vezes... Verifica o revólver e segue o bom velhinho. A uma boa distância pra um disparo, interfere no caminhar do senhor.
- Parado aí, Papai Noel!
O senhor se vira e se depara com aquela cena de gelar o coração...
- Adoro videogame – Satiriza a cruel Daisy – Passa agora, velho.
O senhor começa a chorar. Um choro daqueles que não se interpreta por medo ou por tristeza. Um choro enigmático, eu poderia dizer.
- Por favor, não faça isso comigo! – Suplica a vítima – Por favor.
“Terei de matá-lo pois só tenho uma bosta de quinze minutos.”
- Passa logo. – Diz em bom e frio tom.
O pobre demonstra medo e sinceridade em suas palavras :
- Por favor, moça! Eu, eu... Eu economizei pelo ano inteiro com minha aposentadoria... Por favor eu imploro... Meu neto quer muito esse videogame, eu preciso...
- Cala a boca, velho maldito! – Interrompe a vilã. – Dá aqui logo essa bosta!
O velho senhor chora ainda mais...
- Por favor moça, meu neto sonha com isso... Deus vai lhe compensar, eu prometo! Eu prometo, de verdade, por favor...
- Por favor digo eu, passa logo velho, você é surdo?
- Moça Deus vai te abençoar se...
- Cala a boca praga! Passa, senão morre!
Dez minutos. Ele pensa um pouco... e responde em tom de desafio:
- Vou morrer pra ver meu neto feliz. Ele nunca teve nada do que quis. (...)
O espírito de Natal e palavras que demonstram amor. Quão frágil é a malandra Daisy perante eles. Pequena, e ela sempre odiou ser menor do que os outros. Ela olha para o homem, com o gelo metálico do revólver nas suas mãos...

(Fora do tempo, fora do espaço) Daisy lembra-se do quanto sua mãe teve de trabalhar uma vez, para lhe dar uma boneca de Natal. Foi uma surpresa e um esplendor, receber nas mãos o brinquedo que tanto queria. O nome da boneca foi Maria, como o da mãe de Jesus. Engraçado pensar que a “porra-loka” já acreditou naquele Natal, no Menino Jesus. Como aquela bondade e pureza se perdeu...

Em meio dos seus pensamentos, Daisy movimenta os lábios como fazendo uma oração silenciosa. O senhor a observa durante aqueles minutos de meditação. A arma permaneceu no lugar, pronta para matá-lo. Mas a expressão daquela moça mudou bastante. Daisy estava em um grande dilema pra resolver com menos de dez minutos. Ela vê, no fim da rua, os capangas esperando por ela. Pois bem Daisy, matar ou morrer.

Mata ou morre? Morre ou mata? Mata a lembrança? Morre o senhor? Morre Daisy? Mata o Natal?

Daisy chora agora. Choro enigmático.
- Cai fora, teu velho ordinário! – soluça. E larga o revólver no chão.
O pobre homem se espanta com a atitude da garota. Da posição em que foi abordado, voltou a sentir seus movimentos. Ia se retirar, mas retorna em direção à Daisy.
- Obrigado e que Jesus lhe dê um Natal de Paz – Abraça a garota por alguns minutos e chora com ela.
Daisy chora ainda mais.
Quatro minutos. Por alguns instantes o amor daquele abraço faz Daisy perceber que fez a coisa certa. O garotinho poderá ser feliz com o videogame. E ela... Bem, ela terá de se virar. Fazer o possível no jogo de palavras pra não morrer. Se dirige ao seu destino... Dois minutos...
No caminho o calor da sua ex-vítima a acompanha. Aquilo era amor... Amor ao próximo, que sua mãe lhe ensinou... já está próxima dos seus assassinos. Um minuto, sessenta segundos pra se explicar... Todos eles já apontam seus revólveres...
- Amarelou amiguinha? – provoca um deles.
- Bem... Não quero nem vou dizer nada. Fodam-se todos vocês.
Estrondos se combinam com os sinos da capela. Daisy não sente nada, só se sente amada. Sinos sinos e tiros. (...) Feliz Natal! Feliz Natal! Feliz Natal.

Natal, tempo de mudanças!!! Cristo nasceu!! E Daisy morreu... (?)

...

...

...

- Ela está bem doutor?
- 6 tiros já é muito, pelo jeito após se recuperar ela terá de se mudar pra longe, os caras são cruéis. Eles não miraram em pontos vitais porém teremos de amputar uma perna, infelizmente.
- Pobrezinha...
- Sim... Talvez isso marque o ínicio de uma vida nova pra ela.
- Vida nova.
Tenham todos um ótimo Natal e que o menino Jesus possa nascer em nossos corações, possa os nossos corações transformar, como na narrativa... Abraços e obrigado a todos.! Votem na gente na Omni Cam 2005!! ;P

terça-feira, 13 de dezembro de 2005


figura: "Little Old Letter", de Tony "T'Afo" Feimster - disponível à venda em http://www.aacc-charlotte.org/artwork.htm
"Com'è difficile dire tutto questo a te..."
(A. Valsiglio, G. Salvatori, Cheope, M. Marati)

Querido Papai Noeu,

Tenho que confesar... não fui um bom menino, esse ano.

Eu não obedeci minha mãe. Sempre enchi a passiênssia dela até ela gritar. Até apanhei algumas veses. mas depois, ela vem pedir desculpas, como se tivesse doído nela... e assim, tudo fica bem!

Com o meu pai, eu sempre fui respondaum. Ele é muito brabo, o que deixa tudo mais engrassado. Não era tão engrassado quando ele perdia a passiênssia comigo e me botava de castigo com o cinto na mão, mas tudo sempre ficava bem, afinal, eu sou o garotaum da casa!

Já a minha irmã eu não perdou! Sumi com as coisas dela e briguei com ela o ano inteiro. Minina chata que nem ela, que só faz estudar, só presta trata assim, mermo! Mas, Papai Noeu, eu não deixo ninguém batê nela! Só eu!

Falando em iscola, também não fui um bom aluno... colei nas provas, não fiz as tarefas que pasaram pra casa, respondi a tia, souto piadas no meio da aula, jogo bola de papel nos CDFs... Fiquei até de recuperação e quaze repeti o ano! Não quero nem pensar no que papai ia fazer comigo, Papai Noeu!

Bem, Papai Noeu, eu tinha que contar tudo isso nessa carta...

É que mamãe me disse que meninos que naum se comportam bem não ganham presentes no Natal... e eu tinha feito uma lista pra mandar!!! Então, será que, confessando todas as coisas ruins que eu fiz, eu ainda posso ganhar a minha Lamburguini de brinquedo?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005





These are Days of our Lives
(microconto de Natal)

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Porque se você parar pra pensar, na verdade não há."
R. Russo / M. Bonfá/ D. V. Lobos, "Pais e Filhos"


Ernesto levou seu filho que tanto queria ver o Papai Noel. O moleque - chamado carinhosamente de Dudu - esperneou a semana toda para ver aquele homem vestido com uma roupa vermelha, barba (quem sabe falsa) e gorro com um pedaço de... como se chama aquilo mesmo? Ah, lembrei. Algodão. Então... com o tal gorro com o tal algodão branco na ponta. O bom velhinho havia chegado numa quinta ensolarada, de helicóptero, no único shopping da cidade. E desde então Dudu gritou e bateu o pé, exigindo que seu pai o levasse. Ninguém alí sabia, mas suas vidas seriam mudadas. A de Ernesto, a de Dudu e até a do Papai Noel.

Júlio era aposentado, e para garantir os bicos do fim de ano, resistiu a tentação de uma dieta, deixou a barba crescer, passou a usar o óculos e venceu (em partes) o seu terrível medo de altura, para poder andar de helicoptero todo fim de ano. Ele era o Papai Noel, mesmo achando toda aquela festa um tanto quanto macambúzia, sorumbática e meditabunda. Fazia a alegria das crianças durante um mês. Pena que não conseguia fazer a dele. Separado há algum tempo, sempre sofreu calado com por conta da indiferença com que tratava o seu filho, quando ainda era casado. E quando finalmente os laços matrimoniais finalmente se desataram, a consciência pesou, a barriga aumentou, a barba cresceu e alí estava ele.

A hora havia chegado. Ernesto esperava fora do perímetro da fila, olhando as vitrines com a amargura de quem está sem emprego, e sem perspectivas de dar um presente decente ao filho. Enquanto isso, Dudu caminhava para a felicidade, nem que fosse por apenas cinco minutos. Ele sentara no colo de Júlio - ou melhore seria chamá-lo de Papai Noel? - que estava completamente mal-humorado naquele dia. Estava alí faziam três horas e meia, já não aguentava mais ouvir "Quero uma bicicleta", "Quero um patinete", "Quero um AUDI", ou qualquer coisa assim. Já estava farto, e pensava seriamente em deixar aquela vida e viver tranqüilo fora dos shoppings e da roupa extremamente quente que vestia naquela ocasião.

E então, Dudu sentou-se no colo de Júlio-Papai Noel. E transcrevo aqui a conversa dos dois.
(Não que eu os conheça. Sou apenas um narrador. Eu ouvi essa história porque o tio do vizinho do meu amigo contou para a avó dele, que contou para a tia da sua vizinha, que falou para a empregada dela, que por sua vez passou para o seu marido, que espalhou pelo escritório, de onde o meu irmão ouviu, me contou e eu estou contando para vocês)

- Fala.
- Oi.
- Fale - disse, emburrado.
- Sabia que eu sempre quis ver o senhor de perto?
- Você e a torcida do Flamengo. Diga o que quer. Tem mais gente esperando.
O menino o olha com os olhos de quem está encantado. Papai Noel apressa:
- Garoto, faça o seu pedido. Não tenho o dia todo.
- Aaah. Tudo bem.
Silêncio.
- E então?
- Eu queria uma arma.
- O que??? Porque quer uma arma? Ficou louco???- espantou-se Julio.
- Uma arma sim. Ouvi meu pai falar com minha mãe que a situação está dificil. Ele desejou ter uma arma. Sabe, meu pai tá sem emprego, minha mãe só faz lavar roupa. E eu não trabalho. Tenho sete anos. Meu pai falou que se tivesse uma arma, ele mudaria tudo. Queria poder ajudar eles. Quero uma arma.
Completamente abismado, Julio disse:
- Caramba... você sabe que não pode pedir isso? Você ainda é menino, não entendeu o que seu pai quis dizer. Não peça a arma. Por favor.
Os olhos de Dudu lacrimejam. E todos sabem que criança lacrimejando corta qualquer tipo de coração. Julio o olhou, desconcertado.
- Não...eeh...unft... não posso te dar isso. Escolha outra coisa.
- Não posso. Prometi para Deus que ajudaria eles. E vou ajudar.
- Tira isso da cabeça moleque! Pare! Isso não vai ajudar em nada! Quer matar os seus pais? Quer?? Porque quer fazer isso com eles?
Silêncio.
- Quero que eles sejam felizes. Quero a arma porque os amo demais para não ajudar.
- ...
E Dudu foi embora.

Dias depois, Ernesto achou um emprego. Ganhou um adiantamento, abasteceu a dispensa e deu um presente que seu filho sempre quis: um autorama novinho em folha. Ele nunca soube do pedido do filho para o Papai Noel.
Dudu tirou a idéia da arma da cabeça. Não iria precisar mais dela. Finalmente, sua familia estava feliz, e ele também. E viveram em paz.

Alguns dias depois, há exatamente 204 quilômetros dalí, Júlio desembarca na cidade onde sua ex-esposa e seu filho vivem.
Decidido a tirar o tempo perdido.
-----
*O autor deste conto pede desculpas pela simplicidade do mesmo, mas aproveita para desejar sinceros votos de um feliz natal, cheio de paz e de prosperidade para todos os leitores e para os companheiros deste projeto. E deseja parabenizar a Felipe Policarpo a indicação ao OmniCam 2005, na categoria "melhor cronista", e no mesmo prêmio, este blog foi indicado a "melhor blog de crônicas". Boa sorte.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005


cartas sem resposta


SEMPRE QUE O NATAL SE APROXIMA, Javier fica triste. Pensa nas crianças mortas pela fome, nos mais velhos, nos que dão vida ao vão dos viadutos, nos que estão nus da alma pra baixo. Pensa naqueles que tem vontade e não podem, nos que ainda querem ser alguém. Pensa – afinal de contas – que o mundo é injusto e não há muito que se fazer quanto a isso.
Quando pequeno, Javier escrevia cartas ao Papai Noel. Até que um dia se cansou. As respostas nunca chegaram.
Javier nunca mais escreveu pra ninguém. Cartas. Telegramas. Cartões-postais.
O endereço continua o mesmo. Ele mora na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma rua desde muito tempo. Nem saberia dizer quanto.
Sua casa fica no final da rua, uma casinha meio sem graça, com a pintura gasta, a cerca quebrada, o portão enferrujado. E mato juntando no quintal.
Todos os dias, ele busca ocupação pelas outras ruas da cidade. Busca trabalho pra ocupar o tempo e não ficar em casa pensando em crianças mortas pela fome e coisa e tal.
Não há mais vagas –dizem – pra quem já passou dos cinquenta.
Então, pelo oitavo ano seguido só lhe sobra um tipo de trabalho: ser papai noel.
Então, pelo oitavo ano seguido, sem outra opção, ele veste aquela roupa abafada, cola aquela barba na cara, treina um ho-ho na frente do espelho enquanto escova os dentes e se dirige ao centro comercial da cidade.
Lá, passa horas conversando com crianças, muitas crianças. Enquanto os pais fazem compras.
E Javier fica triste. Ainda mais triste. Não por ser papai noel, mas por ver que entre aquele formigueiro de gente indo e vindo, num consumismo desenfreado e sem lógica, os únicos olhos, sorrisos e pedidos sinceros são daquelas crianças, que depositam nele, Javier/papai noel seus sonhos e esperanças.
O que elas têm de mais belo e puro.
E seus olhos lacrimejam por pensar que as pessoas não dão a mínima para o significado do natal. Mas ele sabe que, apesar de tudo, nunca se deve enganar as crianças.
Javier fica triste, mas sorri por fora. Um sorriso sem promessas. Como cartas que jamais terão respostas.
E todas as noites assim que o expediente termina, ele se despede sorridente de todos e volta solitário para casa.
E pensa que o mundo poderia ser um pouco melhor se fosse da maneira como as crianças imaginam.
Ele ainda é capaz de sentir sensações diversas, rir, chorar, se emocionar.
Mas não consegue ver o natal como as pessoas vêem.
Às vezes, sorrir é a melhor maneira de chorar.

wallace puosso

sábado, 26 de novembro de 2005

DEMOCRACIA..

Era uma noite tranqüila de verão, quente, porém circulava uma brisa fresca, anunciando que de madrugada poderia chover. O homem sentado no "trono", onde muitos sentam-se para exercitar o cérebro e saem com a consciência mais leve, suava às bicas, seu corpo inteiro estava molhado, como se tivesse acabado de sair de um banho. Suspirava aliviado pois, logo após, foi só puxar o cordão da descarga e sentir-se como se não houvesse nem mesmo um pequeno peso na cabeça.
Ajeitou as calças. O sujeito era bastante gordo, mal conseguiu colocá-las, pois pelo seu tamanho, era pequena, chegou mesmo a estourar algumas costuras. Pigarreou, cuspiu em um canto e saiu do banheiro. Em sua sala pegou a camisa onde exibia várias estrelas e muitas medalhas. Num grito quase ininteligível, com a língua enrolada, chamou:
- Tenente !
Quase que no mesmo instante aparece um homem bastante magro, com seus 29 anos, olheiras profundas, aparência bastante soturna, porém, polido.
- Sim, Senhor Comandante.
- Pegue minhas botas.
O homem magro se move até o armário, pega as botas e as entrega ao General.
- Pronto, Senhor Comandante .
- Primeiramente, quando eu der alguma ordem e o senhor se dirigir a minha pessoa, responda-me: "yes, sir!", e depois cumpra minha ordem ao pé da letra, entendeu ?
- Sim, Senhor Comandante.
- Pelo que parece não entendeu. O que é mesmo para responder ?
Quase gaguejando o homem respondeu:
- Yes, sir!
- Tá começando a melhorar. Como é mesmo?
- Yes, sir!
- Entendeu direitinho, não é?
- Yes, sir?
- Isso, é assim que eu gosto, aqui sou a autoridade máxima, acima de mim, só a Cia, o Pentágono e o Presidente dos Estados Unidos da América, nem mesmo este testa-de-ferro de merda, que se intitula Presidente, graças á minha boa vontade em colocá-lo no poder, tem mais autoridade que eu. Eu sou a ordem, eu sou o poder. Eu sou a verdade. Eu tenho até mesmo direitos sobre a vida e a morte de qualquer cidadão deste país. Se a águia americana voou por aqui, vocês têm a democracia. A democracia que é a única e verdadeira no mundo, e se alguém quiser que seja diferente, eu mato, esfolo, passo por cima com todo o aparato militar e paramilitar que tenho em minhas mãos, para que democracia dos Estados Unidos da América seja aqui implantada, se for preciso, eu esmago, eu trucido, eu... eu... está dispensado, Tenente.
- Sim, Senhor Comandante !
-Já não disse para me responder "yes, sir!"? Será que é surdo? Não ouviu direito? Berrou o General em um ataque de ira.
-Yes, sir.
Mesmo com a resposta correta, o General continuava a gesticular e gritar palavras ininteligíveis. Percebendo a cena, o Tenente cerrou os olhos e os lábios, numa atitude de desespero, já esperando a bofetada ser desferida, como sempre acontecia quando o Comandante ficava nesse estado; mas para sua surpresa, não veio.
O General colocou a mão na porta, preparando-se para sair, quando falou:
-Tenente!
-Sim, Senhor Comandante!
Percebendo a gafe o Tenente se encolheu todo, porém não foi um tapa ou um murro que recebeu. O General com os olhos vermelhos, como se estivesse possuído pelos piores demônios, agarrou os culhões do Tenente e apertou-os, até que o homem fosse se dobrando e caísse sem sentidos. O General, ainda não contente, pisou em seu pescoço e aproveitou uma ponta de cigarro, ainda acesa, que se encontrava no cinzeiro, em cima de sua mesa e apagou-o nos lábios do homem, abaixou-se, arrancou as divisas de sua camisa e saiu batendo a porta, mas antes voltou-se e cuspiu na cara, do agora rebaixado soldado, desfalecido no chão.
Foi caminhando pelo corredor estreito, iluminado apenas com algumas lâmpadas fracas, sentindo no rosto um vento mais forte que entrava por uma janela semi-aberta. Chegando ao final do corredor, bateu a janela com força e fechou com a tranca. Virou-se á direita descendo as escadas que levavam ao porão. Chegando lá embaixo sentiu um cheiro forte de bolor, que lhe ardiam as narinas, principalmente porque este vinha com uma mistura do cheiro de suor e sangue, chegou a sentir náuseas, porém, fez uma careta e seguiu em frente. Abrindo uma porta de aço entrou em um minúsculo quarto mal iluminado, onde pode ver em um canto, uma mulher quase nua amarrada pelas mãos, com a cabeça caída sobre o peito. No centro da pequena cela, haviam duas cadeiras, entre elas uma cano de ferro onde se encontrava um homem nú, amarrado pelas mãos e pelos pés, em seu corpo, via-se claramente alguns vergões e hematomas. Ao seu lado sentado em um banquinho de madeira, havia um outro homem fardado, com divisas de Sargento.
O General perguntou:
- Ele falou, Dr. Robert ?
- Não. Por enquanto não - respondeu o médico. O trabalho que fizemos, foi muito bom, só que o rapaz não agüentou. Estamos esperando que volte à si para continuarmos.
- E quem é essa?
- Ah, a garota... Esta é Vilma Mastroantonio, no aparelho chamam-na de Raísa, mas não sei se vai agüêntar muito tempo viva, os que me antecederam deram-lhe um cacete e tanto. Não sei como ainda está viva. Foi estrupada por três soldados, tomou choque o dia todo, praticamente, ainda respira por um milagre, pelo que pude constatar. Isto aqui é trabalho para profissionais, não é qualquer um que pode ir tentando arrancar confissões.
- Mas, as ordens para não darem moleza à esses vagabundos, partiu de mim. Portanto Dr. Robert, acorde esse aí com um balde d'água e mãs-à-obra. Não podemos perder tempo.
-Mas, temos que dar um tempo senão ele não agüenta. Além do mais pelo que pude verificar, parece que cometemos um erro, ele não parece pertencer à nenhuma organização.
- Nem mas, nem meio mas. Parece que está ficando frouxo, Doutor. Ta ficando romântico? Isso aí, tem cara e cheiro de comunista; e da pesada. Já deve ter aprontado um montão em sua vida, olha que cara de agitador! Além do mais, o senhor não viu o retrato falado que publicamos dele no jornal? Não dê moleza. Acorde o vagabundo, que agora eu vou fazê-lo falar.
O médico pegou um balde com água e jogou sobre o rosto do rapaz. Este, voltou a si, assustado, quase perdendo o fôlego.
- Como é que é, boneca? Vai falar ou não? Disse o General, com sorriso sarcástico - Já tô de saco cheio. Nós já sabemos uma grande parte de sua história. Seu nome é Carlos Rui da Silva, teu codnome é Igor, não é camaradinha ?
- Não conheço nenhum Carlos, Igor então eu nunca ouvi falar... Não sei do que estão falando ...
O General deu um berro, perdendo o ar de sorriso:
- Não me faça perder a paciência, sei que você é comunista. Diz para nós qual é a organização a que pertence?
- Eu não sei de nada, eu sou somente um operário. Não sei o que vocês querem ou o que vocês estão fal...
Não houve tempo de terminar a frase. Levou um tapa na orelha que o deixou surdo e ainda mais zonzo do que já estava.
- Eu ainda estou calmo. Me diga tudo. Você vai embora e tudo acaba bem. Só queremos que você colabore conosco - grunhiu o homem das cinco estrelas. - Vamos diga quem são os cabeças da organização, mais nada.
Numa tentativa de arranjar uma história, para satisfazer o General, até se desesperou, mas nada lhe vinha à cabeça.
- Mas eu não sei de nada de organização. Eu só quero ir embora. Eu tenho filhos para criar. Por favor me deixem ir eu suplico...
O gordo General se levanta. Vai até uma pequena mesa lateral, pega uma pequena caixa onde estão ligados alguns fios. Pega dois deles e liga-os no lóbulo de cada orelha, um terceiro prende na base do pênis do homem, e este ao perceber o que estava acontecendo começa a gritar:
- Eu imploro. Não... Não... Deixem-me ir embora. Eu não tenho nada com isso, em só trabalho na...
Mais uma vez não houve tempo de terminar a frase. Soltou um berro tão forte que poderia ser ouvido a dezenas de metros de distância. O General havia girado por várias vezes uma pequena manivela sobre a caixa, que desencadeou vários choques pelo corpo do homem.
- Quer dizer que trabalha. Você confessa que trabalha, não é? Trabalha para quem? Quem são seus chefes? Quem são os cabeças? Qual vai ser o próximo golpe? Vocês estão pensando em seqüestrar alguém? Vamos, diga! Vamos terminar com este sofrimento diga tudo o que sabe e estará livre. Eu estou sendo bastante complacente, não estou? Então, vamos lá, diga... Berrou o General girando mais uma vez a manivela.
Ouviu-se mais um berro de angustia e dor, o homem começou a chorar.
- Eu não sei de nada... Eu só sou um operário... Eu só quero ir embora e viver minha vidinha... Inclusive, eu amo este país. Eu até‚ dei ouro para pagar a dívida externa... Deixe-me ir, por favor...
Mais uma vez, foi interrompido por uma seqüência de choques elétricos, desfalecendo em seguida.
O General descontrolado, ergueu-se num pulo e começou a esmurrar a barriga do rapaz, que já quase sem vida, mal sentia as pancadas.
- Safado! Comuna safado! Fale desgraçado... Fale maldito...
O médico tentou intervir, dizendo que o rapaz estava quase morto, porém, de nada adiantou, o homem, chacoalhou suas medalhas, pegou o balde com água e jogou sobre o rosto pálido do torturado. Numa reação, quase inconsciente, este tossiu, sentindo um gosto ruim de sangue na garganta.
- Fale, filho-da-puta! Esbravejou o General, dando lhe choques cada vez mais fortes.
- Diga tudo o que sabe, berrava, e num ataque de ira pegou um cassetete e começou espancar todo o seu corpo. Batia na cabeça, braços, pernas, onde pudesse atingir.
Mais uma vez o médico tentou intervir, porém sem sucesso. O homem dependurado gritava já sem forças, e no instante seguinte tombou a cabeça, cessando os gritos.

Numa rua de casas simples, um Jeep da polícia desce, em pequena velocidade. Seus ocupantes, um homem moreno e alto, o outro gordo e baixo, olham para os lados, procurando alguma coisa.
Param em frente a um conjunto de casas geminadas e batem palmas. Aguardam um segundo mais... Uma mulher morena, de olhos negros, muito bonita, sai enxugando as mãos num avental bastante sujo, com uma criança assustada, escondendo-se atrás de seu vestido roto.
- Boa tarde !
- Boa tarde! Respondeu desconfiada.
Nós viemos avisar que seu marido, sabe... Foi atropelado, sabe... Quando atravessava, sabe... Uma rua na cidade, sabe, e...
- Não é possível, deve estar havendo um equívoco. Meu marido é vendedor e está viajando já faz um mês e...
Nem conseguiu terminar de falar, da casa ao lado, uma mulher saiu correndo e gritando desesperada. Dirigindo-se a outra, sendo seguida por seus cinco filhos que também choravam, agarrados á mãe:- É meu marido... É meu marido... Teu cunhado, Ester... Eu falei para ele ter cuidado... Eu avisei... Eu disse que ele se parecia com aquele tal de Carlos não-sei-do-que, que apareceu na fotografia do jornal...

sábado, 19 de novembro de 2005


Passerà, primo poi
Questo piccolo dolore che c'è in te, che c'è in me, che c'è in noi
E ci fa sentire come marinai in balia del vento e della nostalgia
A cantare una canzone che no sai... come fa
Ma quel piccolo dolore, che sia odio, o che sia amore,
Passerà.
Aleandro Baldi/Bigazzi/M. Falagiani

Desde o nascimento, André deu provas de seria uma pessoa muito alegre. Sorria para as enfermeiras, para o pai, para a mãe, para quem passasse em sua frente. Todos achavam que aquele menino tinha futuro, apesar da vida dificil que sua familia sempre teve.
O menino foi tornando-se um garoto, travesso, deve-se dizer. Ao juntar-se com seus primos, ficava impossivel. As brincadeiras iam longe, os pais se preocupavam com tanta molecagem, temiam que isso pudesse levá-lo a cometer atos graves. Mas, desde aquela época, ele se mostrou um garoto responsável.

O tempo passou, o garoto foi se tornando um rapaz cada vez mais bonito, inteligente e dedicado. Era o orgulho dos pais. Arrumou trabalho. A familia sempre o elogiava, pois a sua responsabilidade e sua educação eram admiráveis. Quanto mais tempo passava, mais André se tornava uma tipo de pessoa muito raro hoje em dia: uma pessoa direita.

Mas, o destino gosta de aprontar das suas, e sem avisar. Quando completou 19 anos de idade, André, que acabara de passar no vestibular, estava indo bem no trabalho, e com uma relação excelente com a familia, começa a sentir dores fortes nas costas. Pensou se tratar de esforço excessivo na coluna, mas achava estranho o fato da dor se localizar mais para o lado esquerdo do seu tórax. Foi ao médico, e este não diagnosticou nada. Mas as dores continuavam. Foi a outro médico, e este descobriu a verdade.

(... e o tempo passou, mais depressa que o normal)

Magro, pálido, mas sempre ostentando um sorriso em seu rosto, André completava seus 20 anos em sua casa, rodeado de amigos e da família. Seu aspecto físico se deteriorou, por conta das cansativas sessões de quimioterapia que ele fazia para tratar o câncer no rim esquerdo. Mas seu espírito não sofreu abalo algum. Continuava feliz, apesar de saber que sua vida estava se esvaindo. "Tão pouco tempo... mas tão bem vivido" - costumava dizer. Continuou a trabalhar até pouco tempo antes daquela festa, quando suas forças já não resistiam mais. A faculdade ele foi obrigado a largar. Mas sem nunca desanimar, pois sabia que para todos, há um destino a ser cumprido. E ele não deixaria de cumprir o dele.

Alguns dias depois, depois que todos foram dormir, André passou a lembrar de todos os momentos marcantes de sua vida. As primeiras palavras, os primeiros passos, as primeiras brincadeiras e primeiros hematomas, primeira namorada, primeira vez... tudo e todos que eram importantes em sua vida passaram diante de seus olhos. E sentiu que chegara a hora.
André abriu o seu livro da vida, enquanto fechava os olhos.
E assim ele partiu, consciente de que apesar de todas as dificuldades que um ser humano pode enfrentar em sua existência, ele certamente pode ter levado uma vida perfeita.

Baseado em uma história real, que ainda não terminou. Algumas partes foram modificadas, mas ainda assim foi mantida a essência da vida que esta pessoa está levando.

Dedicado a
Aline Virginia de Queiróz
(1980 - 1997)

sábado, 12 de novembro de 2005



"Se a voz da noite silenciar... Raio de sol vai me levar, raio de sol vai lhe trazer... Onde estará o meu amor?"
(Chico César)

Sonho.

Paixão. Êxtase.

Companheirismo. Sincronia. Sexo.

Amor...

Ilusão.

Quimera. Alegria.

Uma linda paisagem. Uma maravilhosa paixão. Uma inebriante sensação.

Sonho...

Luz.

Sol. Calor.

Preguiça. Despertador. Primeiras carícias.

Hora de acordar...

Há algo errado!

Não há pulsação. Não há calor.

Não há movimento. Onde está a respiração? Cadê o primeiro sorriso do dia, tão rotineiro e prazeroso?

Morte...

Coração fraco... coração saudoso... se foi na calada da noite... mas se foi do jeito que sempre sonhou... amando...

Onde estará agora? Quem sabe... mas amboa estarão a esperar... um dia, poderão se amar, novamente.

domingo, 6 de novembro de 2005

Claude Monet - As Papoulas Silvestres , 1873


Oiê pessoal!! Bom, eu iria postar no lugar do Luiz ontem, como favor. Mas não deu certo e eu tive que postar hoje, e mal sabe o Luiz que eu atrasei o post de qualquer forma rss ;(
Espero que gostem!

Beleza após Terror.
Naquele momento ela tinha certeza de que iria morrer. Não foi bonito, de fato. Andréa sempre pensou que morreria bonita. Sem marcas, sem desastres em seu rosto ou em seu corpo. E ainda pior: jamais pensou que morreria sendo estrupada. Ele havia a seguido durante o dia anterior. Sim, ela ficou assustada, mas imaginara que aquele seria apenas mais um admirador. Decidiu ignorá-lo, esperaria que ele se manifestasse, pois ele até que era charmoso... Um monstro charmoso. Mal julgamento de uma desditosa moça sensual, na casa dos vinte anos. Logo mais tarde, pega de surpresa na volta pra casa, ali estava ela naquele terreno abandonado. Fez tudo o que ele pediu, um pouco nervosa, mas o fez. Durante o ato tentou ser amigável, pois sabia que não poderia perecer naquela batalha. Certa vez lera um livro chamado Sorte, que contava sobre a história de uma garota que tivera sido estrupada na vida real. Suas lembranças disseram que como a personagem, ela deveria lutar. Poderia ser abusada sim, desde que saísse viva daquela. Foi tudo horrível, mas ela alimentava a esperança de que venceria aquilo, aquela batalha de atitudes e pensamentos rápidos. Feito o serviço pro monstro, ele a deixou naquela terra umidecida pela garoa. Ela fechou os olhos e respirou aliviada. Porém, ao seu voltar a ver, ali estava aquele revólver que há pouco estava frio e ameaçador em sua espinha. Mas dessa vez a mira era o seu rosto. Seu lindo rosto, sempre sem marcas nem manchas, era suave e dourado. Seus olhos verdes e seus cabelos loiros, sua boquinha pequena e provocante. Ela era uma escultura perfeita, - "moldada por Afrodite" - Dissera-lhe um ex-namorado. Agora um monstro estaria destruindo a escultura. Estrondo. A primeira bala atingiu a bela no seu lindo rosto. Sempre sem marcas. Nem manchas.Ela sentia o sangue quente, fervendo, brotando da escultura. O monstro lhe dissera que ela havia feito um serviço muito meia-boca. Esse era o pagamento por não lhe transmitir um pouco do prazer contido naquele corpo todo voluptuoso. Estrondo. Estrondo. Uma bala no ombro, outra na barriga. E ele se foi enquanto ela sofria, e pensava. Pensou em muitas coisas, pois morreria feia. Mas pensando bem quê importava isso? Adoraria ficar feia. Mas queria beijar a filha Sophia de novo. Queria ir ver a mãe no natal e queria visitar seus antigos alunos. Nada disso aconteceria pois ela estava agora indo pra outro lugar. Era de madrugada, em meio a um terreno próximo à margem de um rio fétido e poluído. Tudo era feio. E aquele corpo nu, ensangüentado e com um rosto deformado. Agonizando a terrível morte.Agoniza.Morre.Adeus ao amado mundo.Fecha os olhos.
Cruel mundo. Muito cruel.
Tudo parou de doer. Ela ainda estava na grama. Abre os olhos.O aroma das papoulas lhe sopra um sentimento de alívio. Ela levanta entre as flores. Seu rosto está perfeito, ela consegue tocá-lo. E seu corpo! Seu corpo não doía, ela estava em um vestido dourado e lindo e... e ela conseguiu se levantar perfeitamente! Estava sonolenta, como se nada tivesse acontecido... Como se anos tivessem se passado. Sentia algo em suas costas, um peso terrível. Mas o lugar em que estava era lindo. O sol batia em seu rosto e não permitia que ela abrisse bem os olhos, não ainda. Aos pouquinhos aquele clarão parou de incomodar sua vista. Confusa pelo "onde estou?" que lhe surrava a mente. Viu que no céu estavam as belas criaturas aladas que sua filha desenhava. Feixes de luz que flutuavam e dançavam à luz do Sol a melodia doce que pairava no ar, vinda de instrumento algum. Aquele peso atrapalhava a moça no seu sempre charmoso andar. Ela avistou uma estrada. Parou por um momento e tentou tocar o peso em suas costas. Tinha forma de asas. Afinal, eram asas. E um anjo lhe chamava para seguir a estrada, a linda estrada. A estrada que algum dia todos adentrarão e descobrirão o fim dessa minha narrativa. Mas não se assuste. A morte nos leva apenas para lugares bons. Sempre. =)

sábado, 29 de outubro de 2005

Viva a amizade

“Amigo é coisa pra se guardar, do lado esquerdo do peito...”
Milton Nascimento


Assim deveria sempre ser. Mas, sabemos que muitas vezes, cantamos essa música, pensamos assim, mas na prática nada disso acontece. A correria do dia-a-dia acaba nos trazendo sempre a mesma desculpa: não tenho tempo.
Quando percebemos, o dia já passou, a semana já se foi, o ano está no fim. Não visitamos nossos amigos, não tiramos um tempinho para um telefonema, muitas vezes, nem mesmo um e-mail, enviamos para aqueles que mais gostamos.
O ser humano precisa ser mais passional, precisa se entregar mais às amizades, ao simples prazer de bater um papo com os amigos.
Isso nos faz um bem muito grande. Faz bem para a alma, faz bem para o coração. O dia que começarmos a agir assim, nossa vida vai ser muito melhor.
Enfrentaremos algumas falsidades, traições, frustrações, mas tudo isso faz parte de nossa vida. E é por isso que a vida é bela, que nos traz a alegria de viver. Se tudo fosse certinho, sem traumas, sem erros, o tédio seria tão grande que iríamos parar de viver. Portanto, viva todas as amizades. Curta ao mais que puder, todos os seus amigos. Aproxime-se mais. Uma pessoa sem amigos é como um deserto, embora ainda tenha vida, não tem a beleza aparente. Vivamos sempre a amizade, seja virtual ou real, elas vão sempre nos deixar coisas boas.

terça-feira, 18 de outubro de 2005


Começos estranhos.

Diamantes são encontrados em meio ao carvão. Alex tinha isso em mente pois acabara de ter novamente sua confiança traída.
Ele e Hamilton eram incrivelmente amigos, mas aquela amizade fortificada de três anos havia desmoronado em um minuto: O minuto em que Alex surpreendeu seu melhor amigo com sua namorada. E a dor foi até pior do que água fervente jogada sobre o ferimento em carne viva. O mundo apenas havia parado. (...)

Denise estava péssima. Sua mãe notara o apetite reduzido nos últimos dias, e que a filha não mais saía do quarto senão para ir ao banheiro ou tomar água. As refeições estavam sendo servidas no quarto.
Apesar da preocupação, a mãe preferia não se envolver nos assuntos da filha. Na certa era o término de algum namoro. Mas para Denise seria bem melhor se fosse realmente isso. Na verdade foi o término de suas poucas amizades. As garotas fingiam muito bem. Mas não foi o suficiente para não serem flagradas criticando duramente a ex-melhor amiga. (...)

Arthur havia desistido. Sempre que tentava puxar conversa com algum dos colegas de classe, era a mesma decepção. Alguns deles viravam as costas, alguns deles escapavam conversando entre si enquanto outros simplesmente riam na cara dura. Algumas vezes ele era tão requisitado que tinha de dividir sua atenção entre todos os outros alunos da sala de aula, nos dias de exame. Demorou um pouco para que ele percebesse que seu esforço jamais valeria a pena. Todos já tinham a imagem de um nerd entediante e sem graça quando se lembravam de Arthur. (...)

Estava garoando durante a tarde. O céu escurecia cada vez mais, e os transeuntes iam cessando no caminho até a praça. Agora, estavam lá, três jovens infelizes e temorosos por suas vidas. Cada um deles meditando sobre a amizade. Quê seria a amizade, tão falada entre todos? Em um dos bancos, uma garota de má reputação se reprimia pensando exatamente no quê deveria mudar para conseguir amigos verdadeiros. Ela se lembrava de todos os momentos em que aquelas garotas lhe mandaram bilhetinhos, lhe contaram as novidades e lhe disseram que a amavam com aquele tão estupidamente amor mascarado.
A alguns metros de distância estava uma outra vítima da desdita que causa a falsidade daqueles que julgamos bem. Pobre garoto traído. Que diriam seus pais se o vissem naquele estado... O filho mais alto e mais forte chorava agora como uma garotinha. “Nunca mais terei amigos, nunca mais” prometeu ele.
Um pouco afastado dos outros dois, estava um que nunca teve a chance de ter um falso amigo, pois nunca lhe deram uma chance para tê-la. A maioria deles tinha vergonha de ter um amigo estranho daquele, que só fazia uso da linguagem padrão, e tinha um certo ar arrogante. E o cara que sempre buscava e conseguia as respostas para suas perguntas se encontrava agora numa calçada, tentando responder à pergunta que havia dominado sua mente e todos os seus conhecimentos: Como é um amigo?
Três jovens, três vidas, três histórias. O céu escurecia no mundo no qual eles deixaram de viver naqueles momentos de reflexão. Naquela praça, as primeiras gotas da chuva começaram a se fundir com as lágrimas de cada um deles. Os relâmpagos acendiam suas inseguranças, os trovões atiçavam seus medos. Mais do que desesperados eles estavam, não pela tempestade que começara, mas sim pelos caminhos que tomariam agora. Aflitos pelo momento em que seus corações batiam forte, seus pensamentos dançavam em suas mentes. Tudo era muito confuso, tudo era anormal, diferente daquela tempestade. A água gelada em seus corpos nada era em comparação à suas almas congeladas no tempo. Uma tempestade era realmente natural demais. Aquela confusão inexplicável em seus mundos interiores eram o real pesadelo. Medo. Medo. Medo.
Mas um estrondo celeste, duas nuvens anunciaram que eles deveriam se proteger de alguma forma pois a tempestade ainda era perigosa. Em uma pausa nas suas meditações, os três que pensaram estar sós na praça, foram às pressas ao quiosque da praça. Os dois garotos cabisbaixos se esbarraram ao entrarem na cobertura. Denise se assustou com a presença dos dois, e sentiu que deveria dizer algo. “Olá.”. Eles responderam. Arthur percebeu os olhos inchados dos outros dois que evitavam se olhar. Arriscou dizer algo: “Tudo bem com vocês?”. A garota acenou positivamente com a cabeça, enquanto o outro ignorou a pergunta. Denise estava péssima, mas talvez aquele garoto estivesse pior. O som das gotas na cobertura se misturavam à sua voz. “Você não está bem não é?”. Alex pediu em gestos para que ela repetisse. Denise reformulou o que gostaria de dizer... Não aguentou o peso, talvez aquela fosse uma boa oportunidade de gritar “VOCÊS ESTÃO BEM? POR QUE EU NÃO ESTOU NADA BEM E PRECISO CHORAR, ESPERO QUE NÃO IRRITE VOCÊS.” E os seus berros histéricos foram a chave que abriu a porta de uma apresentação. Conversaram entre si e viram que tinham algo em comum: A vontade de encontrar alguém que os amasse, e escutasse suas novidades, e que fosse sincero, e que pudesse fazê-los entender o que é a tal – tão falada – Amizade. Havia parado de chover. E dali alguns anos eles descobririam que a pessoa que eles estavam descrevendo naquele dia eram os outros dois no quiosque. E descobriram juntos o que é um amigo.
Dedico esta a todos meus amigos, em especial à Jéssica e Ana, por dois anos nos quais eu nunca me decepcionei. Caio, Thaís, Fernanda, Vinicius por melhoraem meus dias também. E ao Luiz, pela singela homenagem e nossa amizade que supera quilômetros de distância.

terça-feira, 11 de outubro de 2005


foto: Geraldo Borges - alterada por Tom
"We all need somebody who will always run to and I will always be that one for you."
(Emma Bunton, Helene Muddiman, Mike Peden)

Éramos nós cinco. Sempre juntos, sob o sol ou sob o luar, jovens inconsequentes e alegres sempre a cantar, a paquerar, a nos divertirmos.

Éramos sempre nós juntos em todos os passeios. Os cinco naquele carro velho, sempre traçando nossas estratégias ao longo do caminho, trocando confidências, impressões, discutindo, brigando, fazendo as pazes. Éramos só nós cinco e aquele carro. Como irmãos.

De repente, nos vimos num enorme turbilhão. Tivemos muita sorte, os nossos sonhos mais íntimos tornaram-se realidade. Tudo aquilo pelo qual lutamos juntos por tanto tempo.

Mas a vida segue, mesmo após o primeiro sucesso, não segue? Logo o mundo começou a cobrar de nós, e nos vimos obrigados a crescer o mais rápido possível para não sermos engolidos por ele.

Mas, mesmo assim, estávamos juntos. Éramos nós cinco, sempre juntos, apesar de tudo.

Até o dia em que você sonhou mais alto... sim, você desenvolveu outros interesses na vida, realizou um sonho e precisou de mais um motivo para sonhar e batalhar, em vez de descansar nos louros da glória... você seguiu em frente, e não podia nos levar junto contigo, desta vez. Não éramos mais cinco...

Mas a vida segue, mesmo após as primeiras perdas, não? Logo o mundo começou a cobrar de nós, e nos vimos obrigados a nos tornar mais fortes, para não sermos engolidos por ele.

E não soubemos mais o que estava acontecendo conosco... tudo se passou muito rápido e nada mais era natural como no nosso começo... mas, ainda assim, éramos nós quatro e você, mesmo longe, a torcer por nós.

E o tempo fez a sua ação: passou. E levou consigo nossa inocência. Logo o mesmo desejo que lhe acometeu também nos apeteceu. Nos vimos crescidos e com as asas prontas e fortes. Mas não tínhamos a sua coragem de botar a cara para bater, não queríamos deixar aquele círculo tão forte ao qual nos prendemos para poder voar livremente, mas, ainda assim, tentamos, um a um.

O sabor da independência nos inebriou e assim, o grupo tão forte não nos pareceu mais interessante. Mas nenhum de nós teve coragem de admitir isso, e ainda cobrávamos uns dos outros mais atenção ao grupo, a atenção que nós mesmos não queríamos dar. Vieram as brigas, as intrigas, a separação.

Definitivamente, não éramos mais cinco ou quatro. Éramos apenas garotos covardes.

Hoje, não vejo sinais de que, um dia, poderemos sequer nos reencontrar todos e passar, pelo menos, algumas horas juntos. Definitivamente, aqueles cinco caras que saíam no carro velho não existem mais. Não é surpresa, nada dura para sempre. Mas eu esperava, do fundo do coração, que a amizade do grupão persistisse.

É um capítulo superado, página virada, a vida segue e tudo precisa mudar. Mas não poderemos negar nunca o quão próximos fomos... e eu sinto saudades destes tempos. Sincera e ardentemente.

Hoje, nos vemos muito distantes uns dos outros geograficamente. Nossas vidas tomaram os mais diferentes rumos. Mas sei que, no fundo, no fundo, ainda resta em nós um pouco daqueles caras. O carro? Não tenho nem idéia do que aconteceu com ele. Nada é eterno, tudo muda. Tudo precisa mudar.

Talvez seja uma grande besteira minha, mas este grande texto, esta grande carta é para dizer, antes que vocês a joguem fora, que eu sinto muito por tudo o que eu possa ter dito e feito que tenha magoado a todos vocês, e lhes perdôo pelo mesmo que possam ter feito a mim. Não somos crianças, não vale a pena guardar mágoas. Vale, sim, guardar os bons momentos que passamos juntos, vale a pena guardar na memória o fato de que, apesar de tudo, SOMOS AMIGOS.

Esta grande carta é, antes que vocês a joguem fora, para dizer que, onde quer que vocês estejam, como quer que vocês estejam, estou sempre junto a vocês em espírito. Sempre que precisarem, lembrem-se de mim, e eu estarei por perto, meus amigos. Estarei por porto POR VOCÊS...

Peço perdão pelo atraso, pessoal... estava sem net... participando do ELEA, no Maranhão... mas antes tarde, que mais tarde!

sábado, 1 de outubro de 2005

Algumas coisas sobre amizade.




Clichês sobre amizade, existem muitos. Poderia começar aqui com vários deles. Mas prefiro tentar de uma maneira diferente, uma maneira que pode ser que nunca vai ser posta em uma montagem de power point, ou que nunca vá virar corrente na internet. Mas de uma maneira sincera, que seja universal. Afinal, todos sabem que é complicado estar só. Quem está sozinho que o diga...

Enfim, o que penso da amizade:

Amigo não é aquele que está contigo todas as horas, mas sim aquele que some sem explicações por um ou dois dias. Por que? Porque amigo mesmo é aquele que quando resolve aparecer, te deixa contente, e quando conversam parece que há muito tempo não se vêem.

Amigo não é aquele que sempre está ao seu lado, mas sim aquele que te dá uns esporros de vez em quando. Por que? Porque nem sempre você pode estar certo de todas as coisas, e ele apenas está tentando fazer com que você não pague um mico na frente dos outros.

Amigo não é aquele que sempre te apoia, mas sim aquele que vira as costas para você. Por que? Porque toda vez que você cometer uma besteira, você não pode querer um comparsa. E ele certamente vai voltar a falar com você depois que você reparar os seus erros. Amigo que é amigo quer o seu bem, nem que para isso seja necessário deixar de ser seu amigo.



Enfim, amigos que são amigos são aqueles que te querem bem, cada um a seu jeito. Mas sempre lembre que amigos não são santos. São sim aqueles que te ajudam a formar o seu carater.



*Dedicado aos escrevinhadores Felipe, Tom e Flávio; aos amigos Fellipe, Juninho, Danilo, Arnaldo, Bola, Helen, Natascha, Natalia, Fire, e todos aqueles que de alguma forma me ajudam a ser o que sou. Obrigado.

sábado, 24 de setembro de 2005

Tarde demais...

Quando percebi, já era tarde demais. Estava numa ruazinha escura, uma espécie de beco. Estava tão atordoado que não reconheci o lugar. Talvez fosse o efeito daquele uísque de segunda que eu havia tomado.
Comecei a ficar com medo. Não sabia se estava realmente onde eu imaginava que estivesse. Tentei forçar memória para ver se conseguia lembrar porque estava ali. Nada me ocorria. Pensei que a loucura tivesse me acometido. De repente perdi o equilíbrio e cambaleante percebi que estava completamente bêbado.
Ouvi um barulho ao lado, pensei que seria assaltado. Naquele horário... Que horas seriam agora? Percebi que era madrugada, já passavam bem mais das 4:00 horas, talvez já fossem cinco horas, pois, já era possível ver alguns clarões da manhã e sentir o frio da madrugada. Forcei a vista, em um ponto de onde imaginei ter ouvido o barulho. Notei algumas latas vazias, talvez de óleo ou de tinta, alguns pedaços de pano espalhados. Percebi um pé esticado. Foi um alívio, pelo menos não era nenhum ladrão. No máximo algum alcóolatra, talvez, até mesmo, com um cachorro lambendo-lhe a boca. Pensei em me mandar dali, porém a curiosidade que sempre foi bastante acentuada em mim, fez com que me aproximasse, cada passo dado ficava mais surpreendido. Pernas bem torneadas começaram a aparecer. Pernas femininas. Quis até pensar que talvez fosse um adolescente, ainda sem pelos nas pernas, porém, embora escuro, foi possível distingüir. Ela estava semi-nua. Semi-nua e, percebia-se, completamente bêbada.
O barulho que havia ouvido anteriormente foi uma de suas tentativas de se levantar. Não havia conseguido e batido em algumas latas que se espalharam pelo chão. Ao perceber minha presença, tentou reagir, apanhando alguma coisa para me atingir. Porém seu estado era tão deplorável que não pode com o peso de uma lata vazia e tombou a mão sobre seu colo. Tentei falar alguma coisa, mas parecia que ela não queria conversa, sentia dores, pelo que parecia, bastante fortes, pois cada vez que tentava se mexer contraia todos os músculos do rosto.
Apesar da situação, ainda conseguia perceber que além de bonita, seu corpo era bastante sensual, e notei que começava a me sentir ligeiramente excitado. Mas, num momento de lucidez, arranquei minha camisa e coloquei sobre seu púbis, para que pelo menos eu pudesse refletir e pensar como agir dali para frente.
Depois desse gesto, ela percebeu que eu não estava a fim de maltratá-la. Deixou que eu me aproximasse, quando estava bem próximo de seu rosto, vi grandes marcas roxas em seu pescoço, marcas de mordida pelo seu ombro, hematomas próximo ao olho esquerdo; logo mais abaixo, sua blusa estava esticada, deixava ver um de seus seios que também continham alguma marcas.
Perguntei-lhe o que havia acontecido. Nenhuma resposta foi dada, apenas um resmungo, consegui ouvir. Depois disso, até mesmo tentava falar alguma coisa, porém, nada saia de sua garganta a não ser grunhidos que não conseguia entender. Percebi que ela sofria de alguma deficiência vocal.
Me revoltei. Como poderia alguém ter maltratado aquela pessoa deficiente? Como poderia alguém ter, até mesmo, abusado aquela garota que nem mesmo sabia se defender? Quem poderia ter cometido uma injustiça dessas?
Apesar da dor de cabeça que sentia, percebi que ela tentava me dizer algo como se fosse para eu ir embora. Como percebi que já começava a ficar nervosa, por não conseguir se comunicar, e como eu também não estava em um estado muito bom para ajudar em alguma coisa, resolví sair dali. Quando ia me afastando, meio cambaleante, resolvi me apoiar em uma parede e dar uma olhada para trás e percebi, mais uma vez, que a garota estava quase que totalmente nua. Ela havia pegado minha camisa e levado ao rosto, parecendo que queria sentir o meu cheiro. Não entendi nada. Há poucos segundos, ela havia me expulsado de seu lado, agora, cheirava minha camisa? E, pelo que pude perceber de longe, havia um leve sorriso em seus lábios. Balancei a cabeça em uma negativa e continuei andando, tentando lembrar onde era o hotel em que estava hospedado.
Aos poucos, minha mente começava novamente a funcionar. Naquela cidadezinha, sempre me embriagava. Cruzava alguns velhos amigos quando passava por alí e saia para beber. Naquele dia, porém, havia extrapolado. Não me lembrava nem mesmo onde havia começado e nem terminado a noite. Só conseguia lembrar de alguma coisa sobre aquela rua escura que nem mesmo sabia exatamente onde ficava ou como havia ido parar lá.
Consegui chegar ao hotel, na verdade um pulgueiro, embora não gostasse de ficar ali, era o único que havia. A diária, era até mesmo cara pela qualidade que oferecia. Cumprimentei o dono do hotel, um senhor já com seus cinqüênta e tantos anos, até simpático, que já foi logo entregando a chave de meu quarto, sem dizer palavra alguma, e com a cara fechada.
Entrei rápido para meu quarto, uma suíte mal organizada e minúscula, fui para o banheiro, desliguei a chave do chuveiro deixando escorrer água fria, entrei embaixo e comecei a cantarolar um sambinha antigo, de Noel Rosa, quando terminei, meus olhos já não permitiam que eu ficasse acordado. Deitei-me completamente nú sobre a cama e apaguei. Quando consegui despertar, já eram mais de quatro da tarde, percebi que o sol brilhava e que o calor havia feito com que eu transpirasse muito. Mais uma vez corri para o chuveiro. Sai do banho, coloquei uma bermuda, óculos escuros e saí.
Quando cheguei na portaria para entregar a chave, notei que o proprietário do hotel estava com cara de poucos amigos. Perguntei se poderia ajudar em alguma coisa, ele disse que não. Quando já me despedia e me voltava para a rua, ele me chamou de volta. Disse que na verdade estava muito chateado comigo. Disse que de madrugada eu havia estado ali completamente bêbado, com a louquinha da cidade, a mudinha, e queria de todas as maneiras levá-la para meu quarto. Como não havia permitido, eu havia discutido bastante com ele, até mesmo estranhou que eu não soubesse por que estava com aquela cara, depois que saí dali viu-me seguir para a ruazinha escura, onde geralmente os casais da cidade iam namorar.
Dei um sorriso amarelo e saí sem falar nada. Não conseguia encará-lo. Não consegui nem mesmo pedir desculpas pelo meu comportamento. Como poderia ter feito aquilo? Todas aquelas marcas roxas deixadas na garota, toda aquela violência sofrida por ela, haviam sido praticadas por um tremendo patife... Um crápula que eu jamais iria perdoar...

sábado, 17 de setembro de 2005

In Fortúnios causados pela [In]Justiça

E ele saiu da joalheria felicíssimo, pois sim, havia comprado aquelas belas e preciosas jóias que seriam o símbolo da sua nova vida – uma vida de luxo e riqueza. Há muito Evandro já sabia que havia de se tornar um ótimo consultor empresarial. Acabou por sendo um dos melhores no ramo. Mas foram anos de estudo e dedicação para chegar aí; quem conhece Evandro como novo socialite jamais imagina que sua infância se passou num bairro pequeno e humilde, numa casinha de dois cômodos. Pois bem, para alguém que nunca pôde ter nada do que quis, agora ter mais do que nunca quis seria mais do que justo certo? Prossigamos com a narrativa para comprovar:
Evandro levava para o carro a maleta sobrecarregada do mais fino ouro e das mais raras pedras preciosas, mas como um incidente é sempre um incidente, ele se sentiu cercado por vultos. O carro estava estacionado próximo a uma ponte que, naquela noite sombria, parecia ser uma ponte para um outro mundo, ou um caminho onde ele jamais se salvaria de um assalto. Eles estavam em quatro, dois fizeram a vigia, um ficou na cobertura do outro que abordara Evandro.
- Aê playboyzinho , pode passar tudo o que tiver aí!!
Evandro, frustado com a situação, não vigiou seus pensamentos que escaparam em leve e bom tom:
- Colega, é simplesmente inaceitável que após tantos anos pra conseguir me tornar alguém bem-sucedido na vida, eu vá entregar tão fácil o símbolo de minha glória a um qualquer que apenas vai se aproveitar da minha árdua batalha.
Com cara de quem não entendeu muita coisa, e ao mesmo tempo indignado com aquela ousadia, o assaltante não pensou duas vezes: tomou-lhe a maleta das mãos, a entregou ao companheiro, deu-lhe alguns socos no estômago e até pensou em sair de cena, mas seria muito pouco pra alguém com tamanha ousadia tomar apenas alguns socos. Por isso sacou seu revólver e disparou sem dó alguma nos pés e na mão direita de Evandro. A dor era muita, Evandro não conseguia mais sentir nada, o que em breve resultaria em paralisia total dos membros atingidos. Enquanto Evandro tentava se manter calmo para não piorar as coisas, os companheiros discutiam entre si que deveriam deixar o carro, porque este obviamente seria rastreado por satélite, então deveriam voltar em seus próprios carros. Estava tudo pronto pra irem embora, porém antes de dar seu adeus, o agressor de Evandro, com a maleta ainda em mãos, provocou, em tom de zombaria:
- Desculpe, meu colega... mas esses seus troços di ouro vão valer a pena pra uns bagulhos... Eu sei que cê deve tar com raiva, mas passa... – E completou – mas a justiça virá dos céus pra você.
Ele iria começar a gargalhar, mas neste momento, o céu enegrecido guiou um raio na cabeça do agressor. Fatal. Os companheiros assustados correram e fizeram o possível pra não entender o que significava aquilo. Evandro, atordoado, repetia consigo mesmo:
- Sim, a justiça vem dos céus...
Arrastou-se até a maleta caída, e com a mão esquerda que o sustentava, tentou agarrá-la. Por falta de coordenação motora, apenas ajudou pra que a maleta caísse ponte abaixo, até o rio. Evandro vociferava, furioso como um leão, tudo o que lhe vinha na cabeça. Por fim:
- Grande justiça dos céus... Eu trabalhei por isso! A justiça é uma b....
Em seu nervosismo, ele também foi pelo mesmo caminho da mala (...)
No dia seguinte, na parte limpa do rio, um velho mendigo foi buscar a água do dia em sua garrafinha, quando avistou uma pequena mala boiando em um canto da margem do rio. “Comida, espero” – foi o que ele pensou. Mal sabia ele que a justiça dos céus lhe pagaria pelo resto da vida o que ele nunca havia conseguido nela. E talvez isso prove que algumas vezes, injustiças acontecem para que a única e grandiosa Justiça possa se concretizar nas vidas que realmente precisam dela.

Dedicada à minha profesora Lourdes. Espero que gostem. =)

sábado, 10 de setembro de 2005


"Você, meu grande herói, mais poderoso que o inimigo. Você, constante amigo, meu distante companheiro. Você que o tempo inteiro não tem medo do perigo, não."
(Toquinho)

Aquilo foi a gota d'água! Ele já havia se acostumado a perder seu lugar, já estava pensando no resto da sua vidinha que havia pela frente, o mundo é mau e não gosta dele!

E ELE também é mau... criatura odiosa, invejosa, indesejável que chegou neste mundo...Ocupou seu espaço, levou suas coisas, roubou os holofotes todod para sua direção... Mas esta última, certamente, foi o FIM! O que fazer, agora?

Pegá-lo e jogá-lo pelo telhadp? Não muito radical... e ele é pesado pacas! Queimá-lo? Não... nem ele é mau o suficiente pra merecer tal coisa. De qualquer modo, como é que se mexe num fogão? Oras, a melhor solução é sempre fazer valer a sua força!

Primeiro, levanta-se silenciosamente... sorrateiramente, vai-se ao destino... E....

TOMA!

PEGA!

TAPA!

CHORO!

- Mas que gritaria é essa?

- Não sei, mamãe...

- Você bateu no seu irmão de novo?

- Ele tem que aprender a parar de roubar o que é MEU!

- Ele é seu irmão mais novo! E o senhorzinho já está bem velho pra usar chupeta!

sábado, 3 de setembro de 2005

Um dia (a)normal


... e ele entra cambaleando pelo grande salão branco. Sua visão está afetada, não enxerga direito. Entra tropeçando em cadeiras, crianças, bolsas, idosos. Depois de um grande esforço consegue chegar até o balcão, entrando na frente de várias outras pessoas, o que provoca uma grande murmurinho e uma certa indignação. Força a vista para conseguir enxergar a senhora que tranquilamente lê uma revista de fofocas, atrás do tal balcão. O lugar é um hospital, a senhora é a recepcionista e ele é um homem que acabara de levar um tiro.
- Em que posso ser útil? - diz a mulher.
- Minha senhora... acabo de tomar um tiro!
- Muito bem. Por favor, apresente seu CPF e seu RG.
- O que?! Eu não estou com nada disso, acabo de ser assaltado! E ainda por cima levei um tiro! Por favor, me ajude!
- Bem, nesse caso, você vai precisar esperar.
- Mas eu não posso! Se não for atendido logo, vou morrer! Me ajuda!
- Calma, todos os que estão aqui, inclusive aqueles em que você tropeçou ao entrar, também precisam de ajuda. Aguarde.
Atônito, o homem aguarda a recepcionista fazer uma ligação para a direção do hospital. Enquanto isso, ele olha a sua volta, e o que vê não o agrada em nada: crianças tossindo sem parar, velhos ora deitados no chão, ora em macas espalhadas desordenadamente, quase implorando por ajuda. Mulheres desesperadas pela falta de atendimento, e ambulâncias chegando trazendo as vitimas de um acidente, ou de um incidente, ou de uma vida em cidades onde ninguém mais se sente seguro, como ele. Nota que toda aquela gente destoa do branco vivo do salão. Mesmo com a dor que sentia, ainda conseguiu ter um pouco de indignação com tudo aquilo. Logo, a mulher volta a ele:
- Olha, a gente não pode atender quando não se traz documento. Mas vamos quebrar o seu galho. Você pelo menos trouxe a sua carteira de trabalho?
- Já disse! Não tenho documentos! E por que eu andaria com minha carteira de trabalho no bolso, minha senhora?!
A fila começa a ficar irritada com a demora. Gritam por mais agilidade para atender o tal homem. Uma enfermeira aparece e acalma a todos. Continuam os dois:
- Tudo bem. Você vai ser atendido assim mesmo. Mas não se esqueça: assim que terminar lá dentro, traga o seu CPF, seu RG, sua carteira de trabalho, sua certidão de nascimento, um comprovante de residência, comprovante de renda, CNH e se quiser, cinco reais para contribuir com a melhora do atendimento.
- Okay, mas anda logo, me deixa entrar!
O sangue que saia de seu ferimento já havia encharcado sua roupa, e sua visão ficava cada vez mais turva. Ele mal conseguia enxergar quando ela disse:
- Pegue sua senha e aguarde.
- ?!?!?!
- Meu amigo, todos aqui querem atendimento. Tá pensando o que? Isso aqui é hospital público, meu chapa! Não tem privilégio não! Agora, pegue a droga da sua senha, sente-se em algum canto e aguarde!
- Mas...
- Próximo!

sábado, 27 de agosto de 2005

Todos os caminhos levam ao amor

Se todos os caminhos levavam a Roma, na antiguidade, hoje, todos os caminhos levam ao amor. Assim pensava aquela mulher, que adorava fazer este trocadilho: Roma/Amor.
E assim, vivia imaginando seu príncipe encantado, sonhando acordada no dia em que iria encontrar seu doce e prometido amado.
Quando isso acontecesse, tinha certeza que iria ser muito bom. Uma paixão lancinante, que rasgaria seu peito e explodiria em uma entrega sem fim, que mostraria para ela um outro mundo. Um mundo de prazeres e aventuras mil; sem barreiras, sem segredos.
Em sua busca incessante, tentava salas de bate-papo na internet, reuniões, baladas nos clubes da cidade, festas e até mesmo tentar pegar o buquê da noiva, em casamentos, que costumava ir com freqüência e, se emocionar a cada vez que ouvia dizerem “sim”.
Promessas para Santo Antonio já haviam sido realizadas aos montes e acreditava quer tudo isso iria ajudá-la, de alguma forma. Seus assuntos com as amigas versavam sempre a mesma coisa: a busca pelo amor de sua vida.
Um dia, caminhando distraidamente pelos trilhos ferroviários que cruzavam a cidade, viu em sua frente um homem que lhe acenava e gritava alguma coisa. Seu coração bateu mais forte. Como ao lado, uma composição muito grande passava, nada pode ouvir. Seus olhos só conseguiam ver aquele que ela jurava ser seu amado. Jamais vira homem tão belo quanto aquele. Sabia que o seu dia chegara. Sua respiração era descompassada. Havia encontrado seu grande amor e pensou: “como sempre disse, todos os caminhos levam ao amor”, ao se ver em um trilho, indo em direção ao que tanto procurava. Suas mãos suavam, suas pernas tremiam.
Pensou em gritar e acenar para aquele que tinha certeza ser seu homem. Começou a correr em direção àquele que seria seu amado. Tropeçou e caiu entre os trilhos. Ao virar-se, viu uma enorme locomotiva que se aproximava. Desesperada, tentou se levantar e sair dali. Um apito mais forte... Um baque surdo... O choque jogou-a para perto do homem que acenava para ela.
Em um último suspiro, nos braços de seu príncipe encantado, balbuciou: “todos os caminhos levam à morte”.

sábado, 20 de agosto de 2005


Vidas que vivem por vidas que não mais vivem...

(...) Sua caixa tinha poucas moedas, e ela poupava sua voz já rouca, com suaves sussurros pedindo uma ajuda qualquer. O vento gelado batia no rosto sardento, e retalhos de tecido velho eram a única maneira de se proteger... A vida nunca fora gentil com Samantha. Cresceu numa pequena zona suburbana de Sampa. A mãe, qua havia deixado Sergipe para tentar vida nova em São Paulo, vivia doente e os seus três pequenos trabalhavam duro, passando nas casas da vizinhança para conseguirem os alimentos da semana. Não era uma vida triste apesar de tudo, triste havia de se tornar após AQUELE acidente. Num incêndio misterioso que sabotou os barracos da área, ela perdeu sua família, a única coisa de real valor que tinha na Terra. Foi um grande choque, mas ela tinha de continuar, por eles. As coisas estavam muito longe de se tornarem boas.
Andando por São Paulo, imensa floresta de concreto, uma vida tenta se manter chamada de “ vida”. Foi mais que necessário pra sua jornada: um amigo, seu cachorro Bob; e uma nova filosofia de vida. “Viver é uma prova de amor” . Sim, por eles ela perambula sem destino, desafiando às míseras possibilidades de se estabelecer nesse mundo algum dia. Por eles ela é ignorada pois muitos são os que nem mesmo têm tempo pra escuta-la. Por eles ela suporta as piores tempestades. Por eles ela dorme com um cobertor mofado achado em lugar algum. Por eles ela repete milhares de vezes, diarimente, a palavra “ ajuda” . É por eles que ela tenta recuperar sua dignidade.
Samantha tentou muito, e continua tentando. Ela consegue apenas o suficiente pra uma refeição por dia... Ela não tem nada além disso. E consegue se manter, por amor. Em sua caixinha de sapato usada como cofre, as palavras das quais nem mesmo os mais perfeitos escritores conseguem explicar a essência:
“Deus é fiel” e “Viva por eles”....
A trajetória de Samantha, que se repete inúmeras vezes em vidas diferentes, dificilmente terminará bem. Mas eles vivem pelos outros a TODO INSTANTE, e diferente de mim, e talvez de você; nunca por coisas que um dia ou outro terminarão. Eles vivem pelo amor, e o amor é eterno. Eles são os melhores filósofos e os únicos que acrescentarão boas palavras a sua vida. Por isso, se algum dia vir um deles nas ruas, implorando por uma ajuda qualquer, faça o possível pra conseguir ouvir uma das suas palavras de agradecimento. Pois nelas estão a “ essência que nem mesmo os mais perfeitos escritores conseguem descrever. ” A essência do amor. E por um instante você se sentirá amado por alguém que nunca havia visto, como Samantha.

Deixe as futilidades no segundo plano.Viva pelos seus amados. Viva por eles.

Espero que vocês reflitam... Obrigado =)

sábado, 13 de agosto de 2005


"How can I forget you when there is always something there to remind me?..."
(Burt Bacharach, Hal David)

Ele saiu de casa, seguiu o mesmo caminho de sempre. Em cada lugar, uma bela lembrança. A sensação de viver em um comercial de margarina, ou na abertura de alguma novela global.

Cada árvore em que fizeram corações, cada loja em que pararam, cada lanchonete em que se beijaram ao invés de comer, fazendo inveja aos outros casais... cada lembrança o fazia sorrir imensamente.

Passou por uma floricultura. Comprou um buquê de rosas brancas, as favoritas dela, como aprendera em anos de namoro. Ali, a lembrança dos primeiros meses, felizes, de descoberta um do outro.

O caminho pelo parque, mais lembranças. os momentos a jogar pão para os patos, os piqueniques... uma sensação ruim se apoderou dele. Começou a correr.

Chegou à casa dela. Coração batendo forte, corrida muito longa. Principia o movimento de batida, mas, subitamente, ele pára.

A sensação de perda começa a tomar conta de seu espírito. Lembranças boas, lembranças ruins. Más notícias, decepções. Nova corrida.

A igreja onde pretendiam se casar e batizar seus filhos. Onde ELE pretendia se casar e batizar os filhos que anseia ter com ela. Os enfeites chamam a sua atenção.

Não, não era sonho, nem mentira. As portas se abriram e as pessoas começaram a sair, se aglomerando nos lados das escadas.

E dali, sai ela. mais linda do que nunca, cabelos presos, revelando sua nuca. O vestido com que sempre sonhou vê-la... mas o acompanhante... não é ele. Não se parece com ele. Mas a olha do mesmo jeito que ele sempre a olhou. E ela retribui, do mesmo jeito que costumava retribuí-lo, ou até com mais carinho.

Um beijo, o beijo que deveria ser em seus lábios. A dor, aquela que aperta e estraçalha o coração daqueles que foram abandonados. O chão, destino do rosto feliz daqueles que um dia amaram e foram traídos, destino do buquê comprado por aqueles que acharam que acordaram de um pesadelo, até ter a sua doce ilusão chocada com a realidade.

A rua, a mesma que lhe serviu de palco e vitrine para seus arroubos de felicidade, agora lhe serve de novo caminho, para uma nova vida, uma sobrevida, uma sub-vida. As árvores, que serviram para abrigar os corações feitos a espátula, servem agora para esconder a sua dor e suas lágrimas, para não ser percebido por aquela que, um dia, ele chamou de SUA...

sábado, 6 de agosto de 2005

PEQUENO ENSAIO


Quem me dera poder escrever algumas linhas sobre o amor. Mas, como um simples mortal, seria complicado descrever uma grande e boa invenção de Deus. E outra: quem melhor poderia escrever sobre o amor são aqueles que estão apaixonados. E este não é meu caso, por enquanto. Mas, aqui vai a minha tentativa.
O que seria o amor? Qual seria a definição mais acertada para um sentimento tão indefinivel? Existem várias: o amor é aquilo que preenche quando nos deparamos com alguém do qual gostamos. Sabe, aquela coisa... você que me lê agora já deve ter sentido isso, pelo menos uma vez. É uma coisa, sabe... bem coisa mesmo. Indescritível. Para [tentar] exemplificar, cito Camões: é fogo que arde sem doer, é ferida que dói e não se sente... é aquilo que invade a alma. Cada poro do corpo, cada reentrância sente essa onda de sentimento novo e bonito. Tem gente que não quer sentir, mas quando vê, já é tarde demais.
Há outros que definem o amor como uma dor de dente, ou de estômago, se preferir. E não me perguntem porque. Mas, agora pessoalmente, o amor para mim é um sentimento de carinho por algo ou alguma coisa, ou alguém. Exemplo: quando diz que gosta do seu cachorro, você sente amor por ele. Ou quando diz que adora a sua mãe, não é amor? Ou aqueles que dizem que que adoram seus amigos, não deixa de amá-los? Não é um tipo de amor que se sente por eles? Ou aqueles mais estranhos [mas não menos comuns], que amam seu radinho de pilha, seu DVD, sua TV, seu time de futebol, sua sogra [caso raro], uma fotografia, um artista, um computador, o vizinho, a filha do vizinho, o melhor amigo, o carro, um objeto de importância emotiva, seu controle remoto, seus CD's, sua imagem de São Jorge, o pôster do Che Guevara, baralho do jogo do mico... enfim: tudo isso é amor. Da sua forma, mas é amor.
Mas na verdade não importa pelo que ou por quem você sente esse amor. O que realmente importa é que sinta, ao menos uma vez. Pois nenhuma pessoa neste mundo [ou em qualquer outro] consegue viver sem amar ou ser amado.

sexta-feira, 29 de julho de 2005

Introdução.


Olá a todos.


Aqui quem escreve é Luiz H. Oliveira, 19 anos, residente em Itapetininga, interior do estado de São Paulo. Tenho um blog chamado Under Pressure (www.underpressure.zip.net), que fala sobre filmes e qualquer coisa relacionada a cinema. Mas não é só a isso que se resume minha escrita. Por isso estou aqui.

Criei este blog com o intuito de escrever crônicas, sobre qualquer coisa que me passe à cabeça. Ora, todos nós temos direito a livre-expressão, não é?
Então.
Resolvi fazer um blog somente para esse fim. Mas não queria fazer isso sozinho.
Tenho amigos que realmente têm talento para escrever, muito mais talento que eu, até. Eu os convidei para fazer parte deste blog. Até o presente momento onde escrevo estas linhas, ainda aguardo resposta.

O blog, caso saia definitivamente da pecha de "projeto", será da seguinte forma: todo sábado, um de nós colocará o seu texto, a partir de um tema pré-definido para o mês vigente. Um exemplo: se o tema do mês for futebol, os quatro postarão crônicas sobre futebol, um em cada sábado. Convidei mais três amigos para fazerem as vezes dos outros sábados, vamos ver no que dá. E, a cada quarta feira do mês, um convidado escreverá sua crônica aqui. E assim a gente vai caminhando, sempre libertando nossas idéias e as mostrando para aqueles que quiserem ler.

Então é isso. A estréia definitiva desse blog está marcada para dia 6 de agosto. Ainda não foi decidido quem vai ficar com qual dia, qual será o tema do mês, e essas coisas. Estamos ainda em fase de construção, de 'projeto' mesmo. Espero que saia disso, pois assim poderemos colocar no ar tudo aquilo que a nossa imaginação trancafia dentro de nossas cabeças.


Um abraço, e até breve.


Luiz H. Oliveira
http://underpressure.zip.net