sábado, 27 de agosto de 2005

Todos os caminhos levam ao amor

Se todos os caminhos levavam a Roma, na antiguidade, hoje, todos os caminhos levam ao amor. Assim pensava aquela mulher, que adorava fazer este trocadilho: Roma/Amor.
E assim, vivia imaginando seu príncipe encantado, sonhando acordada no dia em que iria encontrar seu doce e prometido amado.
Quando isso acontecesse, tinha certeza que iria ser muito bom. Uma paixão lancinante, que rasgaria seu peito e explodiria em uma entrega sem fim, que mostraria para ela um outro mundo. Um mundo de prazeres e aventuras mil; sem barreiras, sem segredos.
Em sua busca incessante, tentava salas de bate-papo na internet, reuniões, baladas nos clubes da cidade, festas e até mesmo tentar pegar o buquê da noiva, em casamentos, que costumava ir com freqüência e, se emocionar a cada vez que ouvia dizerem “sim”.
Promessas para Santo Antonio já haviam sido realizadas aos montes e acreditava quer tudo isso iria ajudá-la, de alguma forma. Seus assuntos com as amigas versavam sempre a mesma coisa: a busca pelo amor de sua vida.
Um dia, caminhando distraidamente pelos trilhos ferroviários que cruzavam a cidade, viu em sua frente um homem que lhe acenava e gritava alguma coisa. Seu coração bateu mais forte. Como ao lado, uma composição muito grande passava, nada pode ouvir. Seus olhos só conseguiam ver aquele que ela jurava ser seu amado. Jamais vira homem tão belo quanto aquele. Sabia que o seu dia chegara. Sua respiração era descompassada. Havia encontrado seu grande amor e pensou: “como sempre disse, todos os caminhos levam ao amor”, ao se ver em um trilho, indo em direção ao que tanto procurava. Suas mãos suavam, suas pernas tremiam.
Pensou em gritar e acenar para aquele que tinha certeza ser seu homem. Começou a correr em direção àquele que seria seu amado. Tropeçou e caiu entre os trilhos. Ao virar-se, viu uma enorme locomotiva que se aproximava. Desesperada, tentou se levantar e sair dali. Um apito mais forte... Um baque surdo... O choque jogou-a para perto do homem que acenava para ela.
Em um último suspiro, nos braços de seu príncipe encantado, balbuciou: “todos os caminhos levam à morte”.

sábado, 20 de agosto de 2005


Vidas que vivem por vidas que não mais vivem...

(...) Sua caixa tinha poucas moedas, e ela poupava sua voz já rouca, com suaves sussurros pedindo uma ajuda qualquer. O vento gelado batia no rosto sardento, e retalhos de tecido velho eram a única maneira de se proteger... A vida nunca fora gentil com Samantha. Cresceu numa pequena zona suburbana de Sampa. A mãe, qua havia deixado Sergipe para tentar vida nova em São Paulo, vivia doente e os seus três pequenos trabalhavam duro, passando nas casas da vizinhança para conseguirem os alimentos da semana. Não era uma vida triste apesar de tudo, triste havia de se tornar após AQUELE acidente. Num incêndio misterioso que sabotou os barracos da área, ela perdeu sua família, a única coisa de real valor que tinha na Terra. Foi um grande choque, mas ela tinha de continuar, por eles. As coisas estavam muito longe de se tornarem boas.
Andando por São Paulo, imensa floresta de concreto, uma vida tenta se manter chamada de “ vida”. Foi mais que necessário pra sua jornada: um amigo, seu cachorro Bob; e uma nova filosofia de vida. “Viver é uma prova de amor” . Sim, por eles ela perambula sem destino, desafiando às míseras possibilidades de se estabelecer nesse mundo algum dia. Por eles ela é ignorada pois muitos são os que nem mesmo têm tempo pra escuta-la. Por eles ela suporta as piores tempestades. Por eles ela dorme com um cobertor mofado achado em lugar algum. Por eles ela repete milhares de vezes, diarimente, a palavra “ ajuda” . É por eles que ela tenta recuperar sua dignidade.
Samantha tentou muito, e continua tentando. Ela consegue apenas o suficiente pra uma refeição por dia... Ela não tem nada além disso. E consegue se manter, por amor. Em sua caixinha de sapato usada como cofre, as palavras das quais nem mesmo os mais perfeitos escritores conseguem explicar a essência:
“Deus é fiel” e “Viva por eles”....
A trajetória de Samantha, que se repete inúmeras vezes em vidas diferentes, dificilmente terminará bem. Mas eles vivem pelos outros a TODO INSTANTE, e diferente de mim, e talvez de você; nunca por coisas que um dia ou outro terminarão. Eles vivem pelo amor, e o amor é eterno. Eles são os melhores filósofos e os únicos que acrescentarão boas palavras a sua vida. Por isso, se algum dia vir um deles nas ruas, implorando por uma ajuda qualquer, faça o possível pra conseguir ouvir uma das suas palavras de agradecimento. Pois nelas estão a “ essência que nem mesmo os mais perfeitos escritores conseguem descrever. ” A essência do amor. E por um instante você se sentirá amado por alguém que nunca havia visto, como Samantha.

Deixe as futilidades no segundo plano.Viva pelos seus amados. Viva por eles.

Espero que vocês reflitam... Obrigado =)

sábado, 13 de agosto de 2005


"How can I forget you when there is always something there to remind me?..."
(Burt Bacharach, Hal David)

Ele saiu de casa, seguiu o mesmo caminho de sempre. Em cada lugar, uma bela lembrança. A sensação de viver em um comercial de margarina, ou na abertura de alguma novela global.

Cada árvore em que fizeram corações, cada loja em que pararam, cada lanchonete em que se beijaram ao invés de comer, fazendo inveja aos outros casais... cada lembrança o fazia sorrir imensamente.

Passou por uma floricultura. Comprou um buquê de rosas brancas, as favoritas dela, como aprendera em anos de namoro. Ali, a lembrança dos primeiros meses, felizes, de descoberta um do outro.

O caminho pelo parque, mais lembranças. os momentos a jogar pão para os patos, os piqueniques... uma sensação ruim se apoderou dele. Começou a correr.

Chegou à casa dela. Coração batendo forte, corrida muito longa. Principia o movimento de batida, mas, subitamente, ele pára.

A sensação de perda começa a tomar conta de seu espírito. Lembranças boas, lembranças ruins. Más notícias, decepções. Nova corrida.

A igreja onde pretendiam se casar e batizar seus filhos. Onde ELE pretendia se casar e batizar os filhos que anseia ter com ela. Os enfeites chamam a sua atenção.

Não, não era sonho, nem mentira. As portas se abriram e as pessoas começaram a sair, se aglomerando nos lados das escadas.

E dali, sai ela. mais linda do que nunca, cabelos presos, revelando sua nuca. O vestido com que sempre sonhou vê-la... mas o acompanhante... não é ele. Não se parece com ele. Mas a olha do mesmo jeito que ele sempre a olhou. E ela retribui, do mesmo jeito que costumava retribuí-lo, ou até com mais carinho.

Um beijo, o beijo que deveria ser em seus lábios. A dor, aquela que aperta e estraçalha o coração daqueles que foram abandonados. O chão, destino do rosto feliz daqueles que um dia amaram e foram traídos, destino do buquê comprado por aqueles que acharam que acordaram de um pesadelo, até ter a sua doce ilusão chocada com a realidade.

A rua, a mesma que lhe serviu de palco e vitrine para seus arroubos de felicidade, agora lhe serve de novo caminho, para uma nova vida, uma sobrevida, uma sub-vida. As árvores, que serviram para abrigar os corações feitos a espátula, servem agora para esconder a sua dor e suas lágrimas, para não ser percebido por aquela que, um dia, ele chamou de SUA...

sábado, 6 de agosto de 2005

PEQUENO ENSAIO


Quem me dera poder escrever algumas linhas sobre o amor. Mas, como um simples mortal, seria complicado descrever uma grande e boa invenção de Deus. E outra: quem melhor poderia escrever sobre o amor são aqueles que estão apaixonados. E este não é meu caso, por enquanto. Mas, aqui vai a minha tentativa.
O que seria o amor? Qual seria a definição mais acertada para um sentimento tão indefinivel? Existem várias: o amor é aquilo que preenche quando nos deparamos com alguém do qual gostamos. Sabe, aquela coisa... você que me lê agora já deve ter sentido isso, pelo menos uma vez. É uma coisa, sabe... bem coisa mesmo. Indescritível. Para [tentar] exemplificar, cito Camões: é fogo que arde sem doer, é ferida que dói e não se sente... é aquilo que invade a alma. Cada poro do corpo, cada reentrância sente essa onda de sentimento novo e bonito. Tem gente que não quer sentir, mas quando vê, já é tarde demais.
Há outros que definem o amor como uma dor de dente, ou de estômago, se preferir. E não me perguntem porque. Mas, agora pessoalmente, o amor para mim é um sentimento de carinho por algo ou alguma coisa, ou alguém. Exemplo: quando diz que gosta do seu cachorro, você sente amor por ele. Ou quando diz que adora a sua mãe, não é amor? Ou aqueles que dizem que que adoram seus amigos, não deixa de amá-los? Não é um tipo de amor que se sente por eles? Ou aqueles mais estranhos [mas não menos comuns], que amam seu radinho de pilha, seu DVD, sua TV, seu time de futebol, sua sogra [caso raro], uma fotografia, um artista, um computador, o vizinho, a filha do vizinho, o melhor amigo, o carro, um objeto de importância emotiva, seu controle remoto, seus CD's, sua imagem de São Jorge, o pôster do Che Guevara, baralho do jogo do mico... enfim: tudo isso é amor. Da sua forma, mas é amor.
Mas na verdade não importa pelo que ou por quem você sente esse amor. O que realmente importa é que sinta, ao menos uma vez. Pois nenhuma pessoa neste mundo [ou em qualquer outro] consegue viver sem amar ou ser amado.