sábado, 25 de março de 2006



foto: http://www.mochilapastoral.com/imagcartelera_1.htm, alterada por Tom.
“Abençoa, Senhor, as famílias, amém! Abençoa, Senhor, a minha, também.”

(Pe. Zezinho, SCJ)


Porra, eu não agüento mais!


Todos os dias, sempre a mesma guerra! Todos os dias, viver num campo de batalha! Isso não é jeito de viver pra ninguém!


Sumindo sempre e voltando pra casa altas horas da madrugada... Ignorando sua esposa... Cobrando sempre satisfações sem dar alguma... Viajando pra longe e sem dar notícia alguma, deixando todos preocupados... dando mais atenção a quem nem enxerga que você existe a não ser quando convém.. isso é vida, pai?


Guardando ressentimentos o tempo inteiro e jogando indiretas... chorando pelos cantos... fazendo piadas preconceituosas, acusações constantes... você acha que isso é vida, mãe?


Por que vocês estão fazendo dessa casa um inferno? Por que insistem em dar murros em ponta de faca? Por que querem me ver sofrer tanto? Por quê?


Onde está o respeito? Onde está o carinho? Onde está a comunicação?


Tudo o que eu quero e peçotanto a Deus é que vocês sejam felizes... se dêem essa chance... Por que vocês não se separam logo e vão ser felizes de uma vez?

sábado, 18 de março de 2006

Domingo





Para Letícia, minha irmã, que teve a humildade de ler antes
para ver se estava legal. E para meus pais, sr. Antonio Luiz e
dna. Luiza, por terem lido antes ainda: é o que dá
ficar de olho por cima dos meus ombros...



“Todas as batalhas na vida servem para nos ensinar alguma coisa – inclusive aquelas que perdemos. Quando crescemos, descobrimos que defendemos mentiras, enganamos a nós mesmos e sofremos por bobagens. Se formos bons guerreiros, não nos culparemos por isso – mas tampouco deixaremos que os erros se repitam”

Paulo Coelho, in “O Monte Cinco” - 1995




João tinha saído de casa, brigado com os pais. Isso já faziam três anos quase completos. Na verdade, ia completar três anos naquele domingo. Ele passou a semana pensando sobre o que o levou a sair de casa, assim tão repentinamente. Pensou, pensou e pensou. Talvez estivesse errado... Pensava em todos os seus atos depois daquele dia e, sinceramente, passou a achar que estava errado.

***


Sr. Oliveira era um pai de família típico do Brasil: trabalhou a vida toda sustentando os filhos, e quando se aposentou, pensando que poderá ter um pouco de paz, a vida e o governo federal o obrigaram a voltar à ativa, tendo de trabalhar de sol a sol para poder sustentar a casa. Mas tinha orgulho de manter todos os seus entes queridos à sua volta: sua mulher, com quem casou há distantes trinta e quatro anos, seus netos e seus filhos, todos eles... exceto um. Ele ainda tenta resgatar na memória o porque do seu primogênito ter ido embora daquela maneira. E, mesmo sem saber o porque, se culpa.

***


Era um sábado a tarde, e João estava em sua casa alugada, bem longe da casa por onde viveu por mais de doze anos. Fragmentos daquela discussão vinham a sua cabeça a todo instante. A cada minuto que passava, sua consciência apertava mais, trazendo à tona todas as lembranças daquele dia fatídico.

- Eu não quero!
- Você já não manda em mim! Faço o que quero! Sou responsável por mim mesmo, você não pode me impedir!
- Eu sou seu pai, João, e por mais que cresca sempre serei! Se eu digo que não quero que vá trabalhar no Rio, é pro seu bem! Não quero o seu mal, mas não posso deixar...
- Mas eu quero. Tenho já 27 anos, pai, quero ir e pronto!

A mãe e os irmãos acompanhavam à distância essa discussão. Apreensivos.

- Eu acho que é besteira. Você está sendo idiota, acreditando numa promessa vaga de emprego. E se não dá certo? Eu terei de ir te buscar?
- Ah, é isso? Você se preocupa, na verdade, com as despesas que teria caso não desse certo no Rio...
- Não é isso...
- É sim! Desde criança, você regula as minhas ações, sempre decidiu as coisas por mim, até o meu corte de cabelo você que mandava fazer, do seu jeito! Agora é minha vez. Eu acredito nessa possibilidade, vou atrás dela! E, se é assim, vou embora e não volto mais!

E ele sai, fechando a porta e deixando para trás uma vida inteira.
***
Finalmente, chegou o domingo. Dia de almoço de família. Eram dez horas da manhã. Os filhos e os netos vêm chegando, e o Sr. Oliveira se entristecia a cada um que aparecia. Porque a cada um que ocupava um lugar à mesa, imaginava que João ia abrir a porta, te dar um abraço e sentar-se na mesa, ao seu lado, como sempre foi.
Naquele mesmo instante, João tomava uma importante decisão.
***
Meio-dia. A esposa do sr. Oliveira traz a comida à mesa, os filhos todos sentados, junto dos netos, noras, genros, amigos da família... e uma cadeira vazia, ao lado do velho senhor. Por causa de todas as tribulações com seu filho, ficou deprimido, parou de trabalhar, passara dificuldades. E todos acompanhavam essa depressão. O sr. Oliveira olhava a cadeira com tristeza. Os outros tentavam animá-lo, mas nada conseguiam. Já dizia aquela passagem da Bíblia: "Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da que se perdeu, até encontrá-la?" Pois é... o sr. Oliveira queria encontrar a sua ovelha.
Quando o já cansado senhor pensou, naquele momento, em desistir de sua busca, imaginando que perdera seu filho para o mundo para sempre, eis que ele entra porta adentro. Chega na cozinha, ele olha a todos, que o olham de volta. Singelamente, senta-se ao lado de seu pai e diz:
- Me passe um prato, que eu estou com fome.
E a paz foi restaurada, por todos os tempos.

sexta-feira, 10 de março de 2006

UMA PEQUENA HISTÓRIA

(Baseada em fatos reais)




A garota havia nascido na Santa Casa em uma cidade vizinha, porém, logo após foi para o pequeno sítio onde seus pais moravam. Ali, enfrentou corajosamente todos os perigos que uma casa da zona rural pode oferecer.
O primeiro susto, aconteceu logo nos primeiros dias. Escutou um estranho barulho, próximo de seu pequenino berço; barulho este, que só ouvia ao longe, quando já cansada de tanto chorar, começava a pegar no sono. Escutava este barulho, cada vez mais perto, quando de repente, ficou branca... Sentiu em seu rosto algo frio e molhado. Não deu outra: botou a boca no mundo... No mesmo instante, sua mãe apareceu com uma lamparina de querosene à mão e iluminou o rosto da garotinha, ainda a tempo de ver uma pequena rã se esconder embaixo da cama de seu irmão.
Com todo carinho, a mãe pega a garotinha no colo. E balança cantando uma velha canção de ninar. Vencida pelo sono, a pequena Mara, dorme angelicalmente, como se nada tivesse acontecido, deixando seu irmão Amauri acordado, todo assustado, sem coragem para fechar os olhos, enfrentando a escuridão.
Depois de um certo tempo, quando a garotinha ainda nem falava, mas já aprontava bastante, viu aquele amontoado esquisito no cantinho da sala, quando esta se encontrava sobre a cama de sua mãe. Engatinhou e foi ao encontro daquela colorida e atraente figura, quando se aproximava da porta do quarto percebeu que o misterioso ser começou a se mover, de um pequeno monte, foi se transformando num longo e sinuoso animal com um estranho barulho em sua calda. Só começou a pressentir o perigo, quando o mesmo avançou para seu lado, se desenrolando, se contorcendo e levantou uma enorme cabeça com uma boca igualmente enorme. Quando já ia ensaiar um berreiro, pois se encontrava totalmente em pânico, apareceu sua adorada mãe com um pedaço de pau na mão e acertou em cheio a cabeça da cascavel que esboça uma fuga, porém não consegue reagir, se contorce toda e para estática, sem vida.
Conforme ia crescendo e aprendendo os segredos e os perigos daquele lugar, aprendia do que precisava ter medo ou não. Tanto que ela e seu irmão mais velho, adoravam brincar junto ao riacho, para poder pegar sapos e se divertir apertando a barriga para ouvi-lo fazer um estranho barulho.
Certamente, nunca beijou nenhum para ver transformado em príncipe, nem mesmo tinha acesso a essas histórias infantis, mas com certeza, já sonhava com um príncipe e, sonhava em um dia mudar-se para a cidade, freqüêntar uma escola, enfim, poder desfrutar de todas aquelas maravilhas que seus primos e primas contavam quando vinham passar um final de semana no sítio.
Um dia viu seus sonhos realizados. Enfim, foram morar na cidade: ela, seus pais, seu irmão, agora acompanhada de mais dois pirralhos, que era obrigada a tomar conta, uma irmã engatinhando e um irmão recém nascido.
Porém, chegando à cidade, percebeu que nada era muito diferente de sua vida anterior. Embora tivesse conseguido mais amigos, começasse a freqüêntar a escola, antigo sonho de quando morava no sítio, isso não a deixou mais feliz.Faltava alguma coisa que ela não conseguia ver.
Muitas e muitas vezes, mergulhava em pensamentos. Nesses momentos tinha vontade de xingar seus primos, pelas mentiras que lhe haviam pregado. A cidade tinha algumas vantagens, mas ela ficava morrendo de raiva por não mais poder brincar como antigamente, quando tinha espaço muito maior para correr livre, caçar sapos e sentia até mesmo saudades dos sustos que levava das cobras, onças que às vezes ouvia mas nunca conseguiu ver. Faltava aquele sentimento de liberdade que os muros de sua casa não permitiam sentir. Quando cresceu mais ainda, percebeu que a enrascada era muito maior, seu pai possessivo, repressor, quase não permitia que saísse ao menos ao portão; namorado então, nem pensar. Porém como namorar escondido é mais gostoso...

Mas o tempo passava e Mara não conseguia achar sentido em sua vida. Embora já tivesse vivido mil coisas, nada lhe dava muito prazer. Quando já bem velhinha, parou e começou a refletir.
Pensou, pensou, analisou toda sua vida, pelo menos aquilo que ainda conseguia lembrar-se, mediu todos os prós e os contras e com toda sua experiência, não conseguia ver o porque que não havia sido feliz durante tanto tempo. Sempre lhe faltava alguma coisa. Pensou mais um pouco, e quando já ia desistir e concluir que sua vida foi péssima, a porta se abre de repente. Um sorriso apareceu em seu rosto e percebeu o quanto tinha sido feliz. Um garotinho entrou engatinhando pela sala, puxou sua saia e a falou baixinho:
- Vovó...

sábado, 4 de março de 2006


Famílias.
"Novamente mamãe..." disse Sandra, olhando orgulhosa para um dos bebês de sua querida amiga.

"Imagino o que se passa na cabeça dela agora... Sete crianças, realmente, não será fácil. As coisas mudarão bastante daqui pra frente. Espero que ela se dê bem na missão de educar. O pai, que a desejou apenas na hora da transa... como é engraçada essa natureza machista. Enquanto ela fica aqui, ralando e dedicando-se aos bebês, ele estará lá, perambulando pelas ruas durante a noite, na companhia de outras. Engraçada essa natureza das novas gerações, pois, também os bebês, após terem todos seus mimos, todo esse carinho sem limites que preenche o coração da mamãe, eles algum dia irão embora, como todos os outros, e nem mais passarão pra visitá-la. Recebem amor. Jogam fora. E se vão."

"E ela continuará amando seus filhos."

"Não é uma boa família. É bem como grande parte das famílias de hoje em dia. As jovens que se rebelam por motivo nenhum. Talvez pelo namorado. Motivo nenhum.
Mães que com frieza mandam seus filhos para as ruas sombrias, pois afinal foram envenenadas como preconceito da sociedade. Homossexuais na família, não.
Pais que dia após dia se embriagam no boteco tal, no barzinho tal. E destroem tudo, como o filho viciado em drogas.
Os irmãos que competem entre si o orgulho dos pais, e entre si rogam pragas e demonstrações de ódio. E mais situações, diversas situações. Traições, vícios, medos, preconceitos, doenças, ambições, mortes."

"Todas as famílias estão sendo destruídas, isso é inevitável. Se nada disso aconteceu a alguém nesse mundo, este deve se preparar, pois vai acontecer."

"E agora... agora me pergunto... confusa... o que é uma família?"

Em meio aos seus pensamentos, a velha senhora Sandra se concentra na sua amiga Cindel, e sua nova cria... Observa a gatinha lambendo os bebês, dando-lhes seu banho. Nos olhos amarelos e brilhantes do animal não se vê tristeza... É um momento em que a família está feliz. Um daqueles bebês morrerá muito cedo. A gata nunca mais verá o pai dos bebês, e eles muito menos. Um a um abandonarão a mamãe, viverão suas curtas vidas felinas. Os machos talvez farão como o pai. As fêmeas sem dúvida farão como a mãe.
É triste saber que isso se assemelha às famílias humanas?

"Não..." - Sandra faz com que o tempo começe a andar novamente. - "Não é uma família ruim, não mesmo.Pensando bem, estou me confundindo. Redefinirei: Uma família não é um LAR SEM PROBLEMAS. Uma família é um grupo de vidas que se amam apesar de seus atos estúpidos e errôneos. E que acima de tudo enfrentam, fisicamente separados, mas espiritualmente unidos para sempre, todos os problemas que atrapalham suas lindas vidas."

"Lindas sim, pois sem problemas nem mesmo seria uma vida."

"É verdade..." - acaricia os gatinhos...

E a tarde de Sandra se passa naquele casarão escuro e cheio de amor de uma mãe abandonada e sua família de gatinhos também cheios de amor...
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espero que este pequeno texto conforte aos que algumas vezes se perguntam por quê suas famílias são tão imperfeitas... que entendam que isso realmente faz parte da vida. ;)