terça-feira, 5 de setembro de 2006


Como posso saber?

Uma coisa é fato. Coisa que jamais ninguém poderá provar nem cientificamente, nem teoricamente é, sem dúvida, a existência de vida abstrata. Estamos falando sobre Deus.

Fui batizado, recebi a primeira comunhão, fui crismado. Por um tempo ajudei na igreja. Fazendo leituras, formando leitores, passando dinâmicas de grupo. Sem dúvida foram bons tempos. Ótimos tempos. Hoje em dia já não sou muito de igreja, já não consigo mais acreditar em tanta coisa.
Porém, aconteceu algo que me forçou a retomar uma posição em relação à existência (ou não) daquilo que os olhos não vêem. Conversando com um amigo ateu, conhecendo um pouco mais de um lado que a maioria recrimina, comecei a me questionar sobre o que realmente penso e o que realmente dá sentido à minha vida...
Certo também é que não duvido do poder da ciência e sua vantagem em relação à crença. A ciência mostra o como, o por quê, o quando, o onde e o quê, enquanto você precisa apenas confiar no que alguém te ensinou (ou impôs) para evidenciar a existência do sobrenatural. Pela simpatia que tenho pela ciência e pelo que sempre me foi ensinado me surgiu este conflito interno – o que é certo?
Pensei durante a noite, na hora de dormir, e percebi que indo ou não para a igreja, minha vida continuou a mesma, só o que mudou foi minha conceituação no que diz respeito à espiritualidade. E neste combate dos meus preceitos religiosos confrontando meus conhecimentos científicos, acabei me perdendo e dormindo... dormi com a preocupação da existência – ou não – de uma força transcedente...

No dia seguinte, tentei passear no parque (dar uma volta antes do expediente), e algo me iluminou e reorganizou as informações que voavam desesperadas na minha mente.

Acho que na noite anterior eu não queria ter certeza que Deus existe mas...

Enquanto eu ver castelos e bolos de aniversário na areia do parquinho,
e ver pipas coloridos no céu
e bicicletas velhas no chão,
e pequenos sorrisos por todos os lados,
e rabiscos em pedaços de papel
e ver que a infância existe...

Enquanto eu perceber que
Amor maternal existe
Bichinhos de estimação leais existem
Flores existem
O Sistema Solar existe
Pessoas que na miséria não desistem de lutar existem
Bebês existem
Artes plásticas existem
Arquitetura existe
A morte e a vida coexistem
A força da natureza existe
Pessoas boas existem
A sabedoria a serviço do bem existe
Diferentes culturas existem
Os cinco sentidos existem
A evolução das espécies existe
Pessoas com problemas existem
E os sonhos destas mesmas existem

E eu existo (tão complexo)
E você existe (tão diferente)
O ateísmo que me desculpe mas... Nunca vou conseguir adotar essa crença de que não exista sequer um ser (ou uma energia que move o mundo) que esteja bem longe de ser compreendido e explicado por um simples e complexo ser humano.


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Tema do mês: Crença

sábado, 26 de agosto de 2006


foto: http://www.squeep.com/
“We will always be together forever as one...”
(DJ Danski, Delmundo)


- A.!!!

- Oi, B.!

- Você pode brincar? A turma toda tá indo pra pracinha!

- Vou perguntar pra minha mãe. Ela tá meio braba comigo porque eu joguei bola dentro de casa.

- Quer que eu vá pedir por você?

- Não, B.. Vai lá! Se minha mãe deixar, eu vou.

- Tá certo, então! Vejo você lá, certo?



Olá, menina C.!


Sim, eu sou muito amigo de sua mãe B.! Há um bom tempo que ela e eu não nos escrevemos, não sabia que ela já tinha uma menina! Posso apostar que você é tão bonita quanto a sua mãe, acertei?


Como está a sua mãe? Espero que muito bem! Se puder, diga a ela que não esqueça dos amigos aqui em ..., certo? Diga que estamos todos com muitas saudades e esperando as suas cartas espirituosas.


E você, C.? Se diverte muito com as suas bonecas? Ou prefere brincar com bolas e carrinhos como as meninas de hoje em dia? Sabe, eu também tenho um filho, o nome dele é D.. Acho que vocês poderão ser grandes amigos, caso se encontrem por aqui, ou até em alguma visita que possamos fazer aí, caso não haja problema!


Bem, mande um beijo grande pra sua mãe, certo?


Um beijinho para você!


A.




---------- Original message ----------
From: A <$$$-#####@_______.com>
Date: dd/mm/aaaa hh:mm
Subject: Olá!
To: _________@_____.com

Olá, garotinha E.!

Fico muito feliz em saber que você é neta da B.! Somos grandes amigos desde a infância, será bom ter contato com ela através de você!

Sabe, eu também tenho um netinho, o nome dele é F.. Acho que vocês dois podem se dar muito bem!
Ele irá se mudar com os pais para a sua cidade. Quem sabe vocês não se encontram e se tornam grandes amigos, assim como sua avó e eu?

Mande um beijo bem grande para ela, está certo?
Um beijinho para você,

A.

terça-feira, 22 de agosto de 2006


o h i a t o e n t r e a s p a l a v r a s
Como a caneta busca papel e palavras completam espaços em branco, como a voz dá cor à espera, discursos comovem e arrancam aplausos. Como a língua busca o beijo e o beijo cala a palavra vã, o sacerdote se esquiva da dúvida para sustentar a fé de um séqüito de céticos ávidos pelo paraíso virtual.

Todo fanático sabe.

Impor: pelo medo, pelo credo, pelo beijo, pelo desejo, pelo certo e pelo errado.

Como a guerra sustenta o generalato, a galopada corta o vento enraizado rumo ao leste.

Como um sorriso que esconda em si a maldade que o tempo usurpou, como a agulha busca a veia, a raiva toma o lutador. De um cano a bala parte e o ponto cego ofusca olhos que não olham nada.

Visões desfocadas pelo belo e o medo do incerto.

Como a mentira toma pra si o teor das trevas e toda confissão precede a sentença ainda que tardia e mesmo que falhe. A dúvida precede a confiança, que é o que deve ficar depois de tudo.

Depois de tudo.

Intermitentes presságios a martelar a consciência, orações que buscam respostas, respostas sem perguntas, o jogador que na sorte aposta, o amor daquilo que não se gosta, o silêncio entre as canções, busco o hiato entra as palavras.
wallace puosso

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Um enfarto do coração, um daqueles quase fulminantes, que não dão chance nem da pessoa sentir dor. O sujeito cai, no meio-fio, com apenas um grito abafado de dor. Ninguém o ajuda imediatamente. Pudera, não havia ninguém na rua. Ele cai, morto. Seria o fim. Seria mesmo?

Acham o corpo frio e sem vida algumas horas depois. Ao invés de levarem para o caminho antes natural, o IML, o levam para o hospital, aonde antigamente se tratavam somente pessoas vivas. Depois que um cientista (provavelmente europeu) revolucionou alguns aspectos da medicina, os hospitais recebem pessoas vivas e mortas também. E, por mais incrível que isso possa parecer, todas elas saem saudáveis e bem-dispostas do prédio.

O tal homem enfartado é levado para uma sala de operações. Abrem-lhe o peito, implantam em seu coração um chip que dá impulsos elétricos no músculo coronário, e faz com que seu coração volte a bater, quase que magicamente. Alguns dias depois, o homemque deveria estardebaixo de sete palmos de terra sai tranqüilamente porta afora, com a garantia médica de que ao menor sinal de morte eminente, o chip avisará o hospital, que entrará em contato com ele, para impedir o chato inconveniente de morrer novamente no meio da rua. Até onde o homem deve brincar de ser Deus?

**

- Preciso comprar um rim, um coração e um pâncreas.
- Mas afinal, pra que você quer um pâncreas?
- O meu está dando sinais de cansaço, acho que tá na hora de trocar.
- Ah, tá. Então tá. Se acha necessário... aliás, nunca achei o pâncreas necessário.
- Você por acaso sabe pra que serve o pâncreas?
- Não faço a menor idéia. Sei que o temos, e sei que o seu está defeituoso.
- Eu também não sei. Sabia, o médico havia me explicado da primeira vez que eu o troquei. Mas, para mim, ele serve só pra doer e dar câncer.
- Realmente... mas você acha que seu coração necessita de troca? Faz quanto tempo que você colocou esse coração artificial que você usa? Uns 60 anos?
- Que é isso, tá me chamando de velho? Faz uns 40 anos, somente. Troquei quando fiz 80.
- Há! Então tá na hora de trocar. E o rim, han? Você lembra da época em quese precisava ficar dependurado numa máquina imensa, do tamanho de uma parede, parafiltrar o sangue,para não morrer?
- Mal me lembro. Mas devemos agradecer a Deus pela tecnologia alcançada.

**

Teu cachorro abana o rabo com displicência. Olha para você com aquele olharde cachorro sem dono. Pede comida. Rola, finge de morto. Corre pra lá e pra cá como uma besta desembestada. Isso quando não está lendo jornal, ou conversando sobre política econômica ou a taxa básica de juros com você. O cachorro, feito de aço e microchips por dentro e com uma aparência mais do que normal por fora, conversa com você, passa sua roupa, come com garfo e faca, atende telefone, além de urinar no seu tapete e correr atrás do próprio rabo. Depois que inventaram essa nova tecnologia, nunca mais as coisas foram as mesmas. Tudo mudou. A vida mudou. As pessoas não morrem mais, demoram a envelhecer, e tem cachorros eletrônicos. Ao ver um desses exemplares, um velho senhor saudoso das épocas passadas pensa em como o homem gosta de brincar de deus.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006


Novidades e urubuzadas


Assistir o lançamento do foguete com a nave Apolo 11 na TV (preto e branco) do vizinho de frente da casa foi uma emoção indescritível. Quando ouviu dizer que o homem havia chegado à lua então, foi um alvoroço total.
- É mentira! Dizia Fio, um garoto, alguns anos mais velho, metido a saber de tudo.
Ao mesmo tempo que discutia, tragava seu Continental, sem filtro e cuspia insistentemente no chão.
No auge de sua curiosidade, Pedro ficava procurando ouvir tudo o que os garotos mais velho discutiam.
Uns defendiam que era tudo verdade, que os Yankees haviam finalmente chegado à lua, outros, que não, que era tudo montagem, que foi filmado em um deserto qualquer ou em um estúdio de cinema, afinal areia existia em qualquer lugar. Até hoje, ninguém sabe dizer se o homem chegou ou não à lua.
Mas, Pedro foi crescendo e procurando descobrir o que era verdade e o que era mentira e foi percebendo que em tudo o que era novidade, sempre existiam os que defendiam e os que achavam tudo aquilo uma bobagem passageira.
Foi assim quando pela primeira vez começou a filmar com uma câmera de um amigo, em super 8mm. Logo vinha aquele seu velho amigo dizendo que aquilo “é uma besteira, a revelação é caríssima. Além disso, para colocar som, ainda precisava que o estúdio de revelação abra a banda magnética para gravar posteriormente. O investimento não vale o resultado”. Pedro nem ligava e ficava ansioso esperando os rolos de filme chegarem para poder assistir uma imagem meio tremida, porém, era ele que estava realizando a maravilha do cinema. Era isso que importava. Percebeu também que era sempre a mesma pessoa que tinha uma palavra negativa para dar sobre toda e qualquer tecnologia que aparecesse no mercado. Assim foi em relação à TV colorida, ao vídeo-cassete e outras novidades da modernidade. Fio, sempre vinha dizer que a TV colorida poderia causar esterilidade, o vídeo-cassete iria acabar com a sétima-arte, e blá, blá, blá... Para tudo ele tinha que dar um palpite... E errava sempre... Era uma pessoa que via em tudo o apocalipse, porém, suas previsões nunca se comprovavam e quando questionado, sempre dava um jeito de achar uma outra “profecia”. Era do tipo “mentiroso” compulsivo. Sempre inventava alguma coisa para encobrir o que havia falado anteriormente.
Quando Pedro comprou seu primeiro computador, saiu contando para todo mundo. Seus amigos ficaram encantados com a novidade, pois, era um dos primeiros a aparecer por ali. Todo mundo queria escrever seu nome e imprimir em “letras grandes” na impressora matricial de 9 agulhas. Era um Apple, uma maravilha da micro-tecnologia.
Um dia, Pedro estava se esforçando para tentar resolver um probleminha em um programa que tentava fazer no computador e aparece Fio na porta de seu escritório.
Pedro leva um susto e diz:
- Ah! Não! Querer contestar que computador é uma boa coisa eu não admito!
- Calma! Não vim contestar nada, não. É que a turma toda estava falando de seu computador, que eu acabei querendo conhecer e saber como funciona. Aliás, quero até que você faça um cartaz com meu nome pra eu botar na porta de meu quarto. Pelo que já vi na TV e nas revistas sobre computador tenho que dar meu braço a torcer: essa é a tecnologia do futuro. Inclusive, vi alguma coisa que é muito difícil uma máquina dessa dar um defeito...
Fio nem terminou de falar. Um barulho surdo se fez ouvir na sala. A tela de um verde luminoso tornou-se um verde-escuro, sem vida.
Pedro berrou um palavrão e mandou Fio se retirar.
- Cai fora daqui, seu urubulino. É a primeira vez que você concordou com alguma coisa e pifou meu computador. Vai ser negativo assim no quinto dos infernos. Pelamordedeus!!! Fio saiu, o mais rápido possível. Acendeu um Holllywood e foi pela calçada à fora. Cuspindo insistentemente no chão, sem entender muito aquela história.

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Futebolosofia


Certa vez estive a observar um jogo de futebol numa dessas quadras que eles fazem nas praças... Não que eu tenha grande admiração pelo esporte, mas a quem não foi dado o talento esportivo e nem mesmo o espírito esportivo, resta pois, observar quem o tenha.

Observava os garotos pobres, e alguns ricos, e alguns componentes do esporte... Os passes, os passos, a atenção na bola e nos parceiros e os seus passos e passes. Os dribles no oponente, o cuidado para não marcar faltas, a delicadeza na condução da bola, a vontade de fazer gol. A determinação, o suor, o esforço.

A luta.

Logo vi que haviam também algumas garotas torcendo (provavelmente namoradas e coleguas aspirantes a namoradas) e alguns amigos. Incentivo geral, colaboração nos momentos em que o jogo apertava pro time preferido, conselhos, opiniões, participação. Energias positivas. Atenção no jogo, e mais conselhos, quase como se suas vozes possuíssem o corpo dos namorados.

Esperança e luta.

E cada drible, cada falta, cada gol dava um gosto de ser visto (um daqueles livros em que você sabe o final mas isso não lhe tira o prazer de ler).
E assim se seguiu. E voltando a observar os garotos pobres e alguns... sabe o que percebi??Eu só estava observando o que falta para nosso país evoluir...

***( interprete como quiser, afinal o leitor é você... )***

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Peço desculpas pelo imenso atraso deste. Abraços a todos.

sábado, 17 de junho de 2006

Bem, galera... hoje, será um pouquinho diferente!


Normalmente, eu sou o Escrevinhador que aparece aqui uma vez a cada cinco semanas mostrando uma foto e citando uma musiquinha que servem de introdução para um conto qualquer escrito em cima da hora para dar um descanso do brilhantismo dos escrevinhadores anteriores, a fim de não se fazer pensar muito e, talvez, rir um pouco ou chorar. Desta vez, não tem figura, nem música. Hoje não tem conto algum. E hoje estou disposto a fazer pensar, sim! Mas vou continuar sendo direto, como sempre!


Eu nunca fui um fã ardoroso de futebol. Na verdade, nunca entendi a finalidade de ficar correndo atrás de uma bola com mais vinte e um machos num campo. Mas, como todo brasileirinho, joguei na infância. O fato de ser um perna-de-pau da pior marca e ninguém me querer junto em time algum me fizeram desistir de vez da empreitada, e fui atrás de coisas mais interessantes a mim, como papel, caneta, livros e uma boa piscina (natação é o que há!).


Mas, em épocas de copa do mundo, sempre surgia todo aquele clima... era ótimo quando não as aulas iam só até o meio da tarde, e o resto do dia estava liberado pra brincar com meus amigos. Depois do jogo, logicamente... Mas o mais legal era ver que todo mundo andava sempre junto, durante um breve tempo de jogos. Ali, todo mundo era brasileiro! Preto, amarelo, vermelho, branco, porteiro, empresário, playboy, vagabundo, mendigo... no final das contas, todos somos brasileiros, unidos num objetivo comum: defender nossa suposta supremacia no esporte chamado futebol.


E então, bastaram quatro anos para que eu pudesse aprender mais sobre o mundo e dizer: QUE GRANDE MERDA!


É época de copa, é o maior oba-oba, somos todos brasileirops e estamos vestidos de verde-amarelo... uma beleza, não? Até eu, que ODEIO assumidamente a cor amarela, não consigo evitar de usar, pelo menos, uma fitinha com a cor amarrada ao pulso ou pinçada à camiseta. Mas quero ver quem tem a coragem de me responder a duas perguntas:

  • Você abraçaria aquela pessoa que você abraçou comemorando o campeonato, o bi, o tri, o tetra ou o penta e nunca mais viu se o/a visse num dia qualquer na rua?
  • Você usaria todo este aparato verde e amarelo (azul e branco, embora também haja na bandeira, não vale citar, por serem menos usados nessas ocasiões e por serem usados demais no dia-a-dia) num dia qualquer como, por exemplo... vamos citar uma data específica... num dia 26 de agosto?

.
..
...
....
.....
(grilos)

NINGUÉM???
"Oh, eu não acredito!..."

Mentira, gente... Eu já imaginava que a resposta seria essa.

Sei bem que, se o contigente de comentários continuar o mesmo para os textos que são escritos neste blog, eu provavelmente serei cruxificado ou taxado de "anti-patriota" e todo o "diabo a quatro" mais... e, honestamente, não estou dando a mínima. E por que esta revolta? Porque simplesmente brasileiro é patriota de butique.

Patriota de butique, sim!... Vem cá, ô, colega... sim, eu estou falando com VOCÊ, mesmo... por acaso, você já sabe em quem você vai votar nesta eleição? Não? Ainda nem pensou no caso? Realmente... o hexacampeonato é muito mais importante que essa besteira de política, digaê... Afinal, todos os outros times são tetra... se um se tornar penta, o que será de nós como maior potência? Onde ficará o nosso orgulho?

Gente, torcer é bom e faz um bem danado pro ego, sei muito bem. Eu também torço, não sou de ferro. Mas ter a cabeça no lugar é muito mais importante! Um título de futebol é só um título de futebol, mais nada! Vocês têm assistido ao horário político nos últimos anos? Eu sei, eu sei... é muito chato, quando a novela das oito (nove!) já poderia estar no ar... Eu, mesmo, não consigo ver mais de dois minutos! Mas se todos assistíssemos, veríamos a quantidade de absurdos que são jogados na nossa cara - E A GENTE AINDA VOTA NOS CRIADORES DE TAL COISA!

Galera, cidadania não está em se vestir de verde e amarelo durante um mês pra depois passar os próximos três anos e 335 dias querendo ser norte-americano ou europeu e fingindo que não tem o pé na senzala! Só quero que se lembrem de uma coisa... Ronaldinho, Ronaldo, Kaká... todos estes que estão lá recebem cerca de vinte e três reais POR MINUTO. Você, que tem um trabalho comum, não recebe nem UM CENTAVO por este tempo.

"O Brasil se tornou hexa! - IUPIIIII!!!"; "Meu cartão de crédito, foi saldado?" - Não, meu querido... enqüanto você está parado/a aí na frente da tv, as coisas andam no Senado, nos Congresso, nas Câmaras, nos Palácios espalhados pelo País... a vida segue e a gente só percebe a tela cheia do verde do gramado vizinho, que nem é tão verde assim, de tanto frio... pensem bem...

E TENHO DITO!

E, além do mais, se esta seleção continuar jogando de salto alto como no primeiro jogo, nem das oitavas vai passar...



Meu mais sincero pesar à família do Bussunda, um dos meus grandes ídolos de infância e adolescência e referência no humor ácido e escrachado... agora, no Casseta, sempre estará faltando algo...

Um grande abraço pro compa Luiz, mandando toda a força pra tudo o que ele precisar, mesmo estando a quatro horas de avião e mais umas três de buses.

segunda-feira, 12 de junho de 2006



um mundo de anjos tortos


BEM SEI QUE ALGUMAS VEZES o futebol modifica a rotina do planeta. Como na Roma, onde os gladiadores cumpriam esse papel, à custa da própria vida. Como na Grécia, que se mobilizava pelos Festivais Dionisíacos. Mas eram outros tempos. E o mundo também tinha menos densidade demográfica.
Bem sei que naquele tempo como agora, a velha máxima do “Panis et Circenses” continua atual.
Durante a Copa do Mundo, esquecemos desavenças, inimizades, corrupção, política, pobreza, diferenças. O que, por um lado, é bom, saudável. Mas, ainda assim, a Copa do Mundo não passa de anestésico.
E a dor de cabeça sempre volta depois. Às vezes mais forte.
Bem sei também que o saldo é bastante positivo. Os povos e as nações se confraternizam, novas amizades são feitas, o esporte infla um desejo de competição saudável, agregador, coletivista. Muito diferente do sistema capitalista em que vivemos.
Se eu fosse candidato à presidente da Organização das Nações Unidas e, se essa organização gozasse de credibilidade, eu proporia uma Copa do Mundo por ano. Uma vez em cada país. Com eliminatórias nos restantes dos meses.
Proporia também que o esporte fosse o regente e a mola-mestra de um novo sistema de capital.
Nem socialismo, nem comunismo, nem capitalismo.
Sistema de Futebol. Onde todos precisam de todos, para o objetivo comum.
Bem sei que nesse caso, o Brasil seria sim, o país do presente, a potência futebolística, o lugar das oportunidades.
Mas também sei que só futebol não nos livraria das mazelas que o ser humano carrega desde o ventre das cavernas, quando ainda andava sobre quatro patas.
Porque o homem é um bicho torto por natureza. E sistema nenhum há de funcionar sob este aspecto.
Mas Garrincha também era torto e encantou o mundo.
Portanto, minha última sugestão como gestor da ONU seria propor também, o renascimento do homem, com o homem assumindo seu lado torto, falho, torpe.
E todos jogariam futebol, felizes. Até os que não sabem jogar, teriam lugar nos times.
Afinal, a gente sempre dá um “jeitinho” nas coisas, não é mesmo?


wallace puosso

quarta-feira, 7 de junho de 2006

O Milagre





O Carlos tinha uma paixão danada por futebol, em especial pela Seleção Brasileira. Adorava as épocas de Copa, como essa em que estamos agora. No alto dos seus 68 anos de idade, acompanhava com paixão desmedida todas as partidas em que o Brasil jogava, e se sentia o próprio décimo-segundo jogador.

Sua vida era dedicada ao futebol, a torcer pelo seu time de coração. Claro que, enquanto a seleção verde-amarela não estava em campo, ele tinha o seu clube de coração, e esse era o Corinthians. Falando em coração, o Carlos era cardíaco até a ultima aorta, o que fazia com que cada jogo disputado pela Seleção e/ou Corinthians fosse, além de uma grande diversão (ou discussão, dependendo do resultado), uma série de preocupações aos seus amigos, que sempre o acompanhava nos barzinhos onde se tinha a maior concentração de torcedores.

O que nenhum desses amigos do Carlos sabiam (mas eu sabia, porque alguém lá da família dele me contou, mas não vou passar essa informação a vocês, sinto muito, porque nunca é bom ficar falando as fontes por aí sem pedir permissão, não é mesmo?) é que ele tinha um sonho. Conhecer o maior jogador de todos os tempos, para ele. Mane Garrincha. Carlos vivia suspirando pelos cantos, dizendo maravilhas do “anjo das pernas tortas”, que ele era isso, que ele era aquilo. Os companheiros leais de Carlos já nem davam mais atenção quando ele falava daquela partida em que o Garrincha pegava a bola no meio-de-campo, passava por três zagueiros, enganava o goleiro com um jogo de corpo e fazia o gol com a maior facilidade do mundo, como se ele sempre tivesse feito aquilo, como brincadeira. Ele nem lembrava mais qual jogo era, qual time era o adversário, mas se lembrava daquela jogada. E suspirava pelos cantos, o fanático Carlos...

Pois bem: na última Copa, o Carlos estava afoito. Queria porque queria ver a final do Brasil contra a Alemanha lá da casa dele, porque estranhamente ele queria ter privacidade para vibrar com o jogo. Seus colegas de bar (e de vida) estranharam bastante, mas aceitaram. E ele ficou sozinho. Melhor, sozinho não: ele e a TV. Na verdade, ele e mais 140 milhões de brasileiros (isso incluindo aqueles que não gostam de futebol, mas adoram uma festinha de comemoração, pelo menos).

Era madrugada. O jogo havia começado, e estava empatado sem gols. Carlos, com uma desbotada camisa da campanha do Tricampeonato (escrito assim mesmo, em maiúscula, como o velho fanático sempre passou para o papel sempre fazia), sofria sentado em seu sofá. Agonia. Agonia. Agonia... eis que de repente, Ronaldo avança (Carlos levanta), chuta (Carlos avança), o goleiro alemão rebate (Carlos avança mais), o mesmo pega o rebote e...

Stop. Foi bem aí que o Carlos teve uma pontada no peito e viu tudo escurecer por um segundo.

Quando recobra a consciência que perdeu por milésimos de segundo no apagão em seu corpo, ele se vê estirado no chão de sua pequena sala. Levanta-se, olha a TV. A imagem estava congelada no exato instante em que a bola passava pela linha que separa o grito de gol do resto do jogo. Assustado, olha para os lados. Nada vê. De repente, a imagem na televisão some, e um clarão saído do aparelho toma conta do lugar. Carlos, com muito esforço, consegue enxergar o que está acontecendo dentro de seu aparelho televisor: no lugar das imagens do jogo, um estádio completamente lotado de pessoas vestindo verde e amarelo, mas com apenas um jogador no meio do campo. Logo, o fã reconhece o seu ídolo: quem está ali parado no campo é Mane Garrincha. Emocionado, Carlos ameaça sentar-se novamente em seu sofá quando ouve o eterno craque chamar seu nome. Atordoado, olha para os lados para ver se não é nenhum engano, mas Garrincha o chama novamente, e faz um gesto para que ele entre no campo. O velho dá alguns passos em direção a sua televisão, e logo a luz branca consome novamente o quarto, voltando para a TV e levando Carlos junto consigo.

O corpo de Carlos foi encontrado na manhã daquele dia, pelos mesmos amigos que o deixaram lá no meio dessa história. Enfartado. Provavelmente por conta da emoção do gol do Brasil. Carlos morreu como viveu: vibrando.
(Como eu sei de tudo isso? Ora, meus amigos, não preciso ser psicografista, nem vidente nem médium. A gente sabe que foi assim e pronto. Para quem não acredita, os dois últimos parágrafos são pura tolice. Mas, para aqueles que acreditam que quanto mais se deseja uma coisa, ela acontece, ah!, tenham certeza: essa história é a mais pura verdade. E tenho dito.)

sábado, 27 de maio de 2006

No Fundo do Quintal


Esta estória se passa no Rio... Ali, em um daqueles subúrbios sem nome...Ali, num corredor daquele labirinto... Ali em uma daquelas malocas... Ali, passando dois barracos do botequim... Na casa da Gleice...

Ali, hoje, é dia de pagode. Ali, no fundo, lá está o pessoal reunido. Os amigos de Gleice todos são convidados e todos eles comparecem pro “sábado da Gleice”

Juntam-se todos em grande motim em pequeno espaço. Arivaldo no pandeiro, Ticinho no cavaquinho e Tomás juntamente com Gabriel no tamborim. A noite é daquela rodinha... Todos sorridentes, é festa de fim de semana e só. A mulherada toda cheia do charme na cerveja, os caras no bate-papo sobre futebol, e alguns no aquecimento da cantoria...

Equanto do lado de dentro do barraco, Gleice fica pensativa em frente ao espelho...

“ Mais uma festinha... E...

Às vezes imagino como seria melhor se o dinheiro comprasse mais. Seria tão sofisticado... É tudo tão simples aqui... Imagino se eles não enjoaram, e se não irão enjoar. Enjoar das vozes, e dos comes e bebes. Enjoar de mim e da minha casa. Nós sabemos que nunca teremos mais que isso, e também que poderíamos ter algo muito melhor. Mas e o nosso dinheiro?? É tão pouco..."

"Nasci pobre e acho que vou ter que morrer assim. Nessa festinha, sempre! Temos apenas cerveja e salgadinhos, a maioria tem o cabelo ruime pouco dinheiro. Somos pobres ... E o luxo é pros ricos... Há algo melhor que uma festa luxuosa?"

"Daquelas com comidas que você experimenta pela primeira vez. Aquelas mulheres com o cabelo ótimo, jogando pra lá e pra cá, naquelas valsas e músicas clássicas... E os homens hein... Cada homem rico... O que tem de melhor que uma festança cheia de glamour e vozes descontraída falando sobre assuntos inteligentes e celebridades da noite? E o que tem que seja melhor qu..."

- Gleice, vem logo que começou!!! – Grita uma integrante da mulherada.

Gleice vai para o lado de fora da casa. Segue o estreito corredor. Olha para os rostos sorridentes. Analisa os sorrisos, um a um. Ouve as vozes e os gestos que a convidam pra sambar. Começa a música. Dá o primeiro passo pra dentro da roda. Um pé aqui, outro lá.
O quadril treme, as mãos deslizam no ar, os pés são rápidos, e aquela energia cinética lhe sobe até a cabeça. Gleice mexe, e vira, e gira, e em toda aquela movimentação o samba faz o mal sair. Só alegria. E ela acaba de responder aquela dúvida que há pouco tinha...

sábado, 20 de maio de 2006

Pé-de-valsa


“Com fosse um par que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e por que não dizer
Que o mundo respirava mais se ela apertava assim
E como se não fosse um tempo
em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins”
Oswaldo Montenegro


Ela era uma menina triste. Vivia recolhida em sua tristeza, nos cantos da casa. Nada a ajudava a levantar o astral. Alguma coisa dentro dela não funcionava bem.
Quando ouvia uma música, percebia que algo crescia dentro de seu corpo, porém, não tinha coragem de, nem mesmo pensar em descobrir o que era.
Uma angústia muito forte batia em seu peito. Precisava descobrir o que era, mas com pouco ânimo, se deixava levar daquela forma triste.
Um certo dia, andando pelas ruas da cidade ouviu o disparo de vários tiros. Um garoto virou a rua correndo e bateu de frente com ela, derrubando-a no chão. Levou um susto enorme. O garoto, ainda atordoado, fitou-a com muito carinho.
Puxou-a pelo braço e disse:
- Vem comigo.
Saiu correndo e ela simplesmente o acompanhou. Chegou a uma casa simples, quase sem fôlego, jogou-se no sofá.
O garoto foi até a cozinha e trouxe-lhe um copo d’água. Ainda ofegante, tomou a água em um só gole e depositou o copo no chão.
O garoto foi até a vitrola e colocou um disco de vinil. Depois de alguns estalos, a música começou suave. O garoto veio deslizando, desenvolvendo alguns passos de dança.
Puxou-a com força do sofá:
- Quer ter a hora dessa contradança, senhorita?
Não esperou que respondesse. Arrastou-a pela sala, deslizando seu corpo com agilidade e levando-a, com exímia destreza.
- Muito prazer, sou Carlos, mas todos me chamam de Pé-de-valsa.
Um beijo selou aquele encontro de surpresa. Abraçaram-se, como se o mundo fosse acabar naquele momento... Um sorriso surgiu no rosto da garota, começava a descobrir a felicidade...

sábado, 6 de maio de 2006



foto: http://www.tce.rj.gov.br/
“What a feeling!... bein's believin'... I can't have it all, now I'm dancin' for my life! Take your passion, and make it happen! Pictures come alive, you can dance right through your life...”

(Giorgio Moroder, Keith Forsey, Irene Cara)


Agora, é a hora!


Hora de mostrar a que vim... hora de fazer de tudo para brilhar, depois de anos de prática, à espera deste momento!


Cada minuto de treino, cada tempo de dificuldades, sem dinheiro, cada gota de suor, cada machucado... tudo tem que ter valido a pena.


Se iniciam os primeiros acordes... posso sentir a música começando... hora de deixar o ritmo tomar conta do meu corpo e me mover como se ninguém estivesse observando. Nada mais importa.


Sentir cada nota penetrando pelos poros e trazendo um novo sentido à vida. Sentir toda a força e emoção da música para poder expressá-la através dos meus movimentos. Pôr o corpo à toda prova.


Que sensação! Honrar a música! Honrar o corpo! Honrar a mim! Honrar o público! HONRAR A DANÇA!


Esta é a chance da minha vida... não posso deixar que nada estrague tudo...

terça-feira, 2 de maio de 2006

NOTA:


Devido a problemas pessoais com Flávio Perina, e os problemas de saúde de Luiz Henrique Oliveira, o blog Escrevinhadores ficou temporariamente fora do ar. Mas no dia 6, estará de volta, com novo tema, escolhido por Tom Ferreira para o mês de maio.

sábado, 8 de abril de 2006


Efeitos da prisão e efeitos da liberdade



Ele pensa:"Mas não renunciarei de minha nação; mesmo ela sufocada por esta estúpida prisão que deixou todos silenciosos."

(...)

Córdoba , 12 de agosto de 1970

Medo. Essa ditadura interfere com intensa força na arte da minha nação. A arte escrita, e a
arte falada, e a arte cantada, e a arte atuada. E a arte vivida. A arte é um perigo pra
eles...E eu que não hesitei em desafiá-los... fazendo uso do único talento que tenho pra
contribuir... continuei mostrando a eles (antes não sabiam que era para eles), passando pras
minhas telas aquilo que ficava preso na minha garganta sempre que um deles me interrogava. E
eu não parei de pintar meus códigos, e eles entenderam meus códigos...

E me mandaram pra cá.

Agora cá estou eu; sem família, sem dinheiro, sem uma boa morada, sem fé, sem amigos.
Doente.

Me resta agora deixar que a vida me leve... começo agora, com uma última tela.
"Verde, amarelo, azul e branco fazem as cores do meu berço.Vermelho, mancharam de sangue. O sangue daqueles que bravos lutaram por tudo o que hoje os
outros não falam... Lutaram pelo povo que acabou preso.

A carruagem da justiça hei de trazer liberdade.Todos estão cegos, surdos e mudos. O Brasil neste momento é o treapor. Mas sei que isso irá
mudar. Logo minhas telas serão vistas novamente. E as rádios voltarão a trazer momentos de
paixão e felicidade. E os jornais e as revistas e os papéis mostrarão que tudo mudou...
É este pensamento que me mantém de pé neste lugar. Não é por acaso que eu estou aqui.

Repito,
a liberdade virá.... e as pessoas voltarão a ter acesso à minha arte... e dos meus amigos
músicos... e dos meus amigos atores... ... ...é pra isso que tentei fazer minha parte!

(...)

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23 de março de 2006, em um barzinho de Sampa...

Um jovem em uma das mesas pensa:
"Puta véio, mas essa mina da propaganda da cerveja é muito gostosa mesmo!!"
Umas garotas pouco vestidas pedem pro balconista:
"Aê tio!! Coloca Tati Quebra Barraco aí!! Volume máximo, hein!"
Um senhor lê numa manchete:
"Dança da pizza no plenário..."

Enquanto ali por perto, acontecia um assalto num farol.

Eu penso:"Mas não renunciarei de meu Brasil; mesmo ele sufocado por esta silenciosa liberdade que deixou todos estúpidos."
Peço desculpas ao Wallace pois sei que no decorrer da minha narrativa acabei fugindo totalmente do tema. Mas espero que não deixem de observar que é relativo a ele, e que não está tão ruim assim, vai... ;(

sábado, 1 de abril de 2006

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Andaluzia, um dia qualquer no futuro


Meu caro amigo,


Escrevo-lhe do exílio.
As coisas por aqui não andam nada fáceis.
Os tempos são de cautela e caldo de galinha – como se dizia nos velhos tempos.
Alguns valores inverteram-se outros foram suprimidos. Olha só! Ser honesto agora é qualidade!
E não se falam mais em ética, esse conceito que soa tão caro!
Outrora, os tempos eram de generais. Hoje são de generalidades. E não há mais jogo de palavras ou palavras com duplo sentido. As palavras de verdade viraram pó na esteira do tempo. A escória protege-se por hábeas corpus e hábeis advogados de rapina.
Discursos imediatistas e líderes populistas.
Dizem que aqui é o país do futuro. Lugar de um povo sem memória, sem rosto e sem raiz. Já nem se lembram mais de como se faz um país.
Este é um lugar que some da lembrança quando se fecham os olhos.
Às vezes, sinto-me como Édipo: ele não se cegou por punição, mas por excesso de informação.
De que me servem as manchetes do dia? De que adiantam links e atalhos que não levam a lugar algum?
A memória dos dias felizes é como um porta-retratos vazio.
Antes, sabíamos exatamente quem era o inimigo. Ele vestia farda e governava com mão de ferro e atos institucionais. Hoje sabemos que o inimigo continua lá, poderoso como nunca, travestido de terno-e-gravata e muitas vezes, governando por medidas provisórias
Meu caro amigo, acho que perdemos o trem da história. E como achismo não se enquadra em qualquer linha de pensamento pós-socrático nem numa estética de vanguarda, talvez Oswald, Mário, Sérgio Buarque e tantos outros, tivessem de fato razão.
Este é o lugar que precisa ser reinventado. Urgentemente.
Quando foi que nos sentimos donos desse lugar?
A cordialidade do homem tropical é seu atestado de insanidade moral e seu prenúncio de derrocada civil.
A bem da verdade, estou decepcionado com o rumo que as coisas estão tomando.
Precisamos tomar cuidado. Atrás do líder populista, que promete a redenção, tem sempre a sombra de um ditador.
Quero voltar, mas tenho medo. Não sei mais em quem confiar.
Só restou você. E a música do Chico.
E olha que já é bastante.

Sempre seu,

Fulano de Tal
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sábado, 25 de março de 2006



foto: http://www.mochilapastoral.com/imagcartelera_1.htm, alterada por Tom.
“Abençoa, Senhor, as famílias, amém! Abençoa, Senhor, a minha, também.”

(Pe. Zezinho, SCJ)


Porra, eu não agüento mais!


Todos os dias, sempre a mesma guerra! Todos os dias, viver num campo de batalha! Isso não é jeito de viver pra ninguém!


Sumindo sempre e voltando pra casa altas horas da madrugada... Ignorando sua esposa... Cobrando sempre satisfações sem dar alguma... Viajando pra longe e sem dar notícia alguma, deixando todos preocupados... dando mais atenção a quem nem enxerga que você existe a não ser quando convém.. isso é vida, pai?


Guardando ressentimentos o tempo inteiro e jogando indiretas... chorando pelos cantos... fazendo piadas preconceituosas, acusações constantes... você acha que isso é vida, mãe?


Por que vocês estão fazendo dessa casa um inferno? Por que insistem em dar murros em ponta de faca? Por que querem me ver sofrer tanto? Por quê?


Onde está o respeito? Onde está o carinho? Onde está a comunicação?


Tudo o que eu quero e peçotanto a Deus é que vocês sejam felizes... se dêem essa chance... Por que vocês não se separam logo e vão ser felizes de uma vez?

sábado, 18 de março de 2006

Domingo





Para Letícia, minha irmã, que teve a humildade de ler antes
para ver se estava legal. E para meus pais, sr. Antonio Luiz e
dna. Luiza, por terem lido antes ainda: é o que dá
ficar de olho por cima dos meus ombros...



“Todas as batalhas na vida servem para nos ensinar alguma coisa – inclusive aquelas que perdemos. Quando crescemos, descobrimos que defendemos mentiras, enganamos a nós mesmos e sofremos por bobagens. Se formos bons guerreiros, não nos culparemos por isso – mas tampouco deixaremos que os erros se repitam”

Paulo Coelho, in “O Monte Cinco” - 1995




João tinha saído de casa, brigado com os pais. Isso já faziam três anos quase completos. Na verdade, ia completar três anos naquele domingo. Ele passou a semana pensando sobre o que o levou a sair de casa, assim tão repentinamente. Pensou, pensou e pensou. Talvez estivesse errado... Pensava em todos os seus atos depois daquele dia e, sinceramente, passou a achar que estava errado.

***


Sr. Oliveira era um pai de família típico do Brasil: trabalhou a vida toda sustentando os filhos, e quando se aposentou, pensando que poderá ter um pouco de paz, a vida e o governo federal o obrigaram a voltar à ativa, tendo de trabalhar de sol a sol para poder sustentar a casa. Mas tinha orgulho de manter todos os seus entes queridos à sua volta: sua mulher, com quem casou há distantes trinta e quatro anos, seus netos e seus filhos, todos eles... exceto um. Ele ainda tenta resgatar na memória o porque do seu primogênito ter ido embora daquela maneira. E, mesmo sem saber o porque, se culpa.

***


Era um sábado a tarde, e João estava em sua casa alugada, bem longe da casa por onde viveu por mais de doze anos. Fragmentos daquela discussão vinham a sua cabeça a todo instante. A cada minuto que passava, sua consciência apertava mais, trazendo à tona todas as lembranças daquele dia fatídico.

- Eu não quero!
- Você já não manda em mim! Faço o que quero! Sou responsável por mim mesmo, você não pode me impedir!
- Eu sou seu pai, João, e por mais que cresca sempre serei! Se eu digo que não quero que vá trabalhar no Rio, é pro seu bem! Não quero o seu mal, mas não posso deixar...
- Mas eu quero. Tenho já 27 anos, pai, quero ir e pronto!

A mãe e os irmãos acompanhavam à distância essa discussão. Apreensivos.

- Eu acho que é besteira. Você está sendo idiota, acreditando numa promessa vaga de emprego. E se não dá certo? Eu terei de ir te buscar?
- Ah, é isso? Você se preocupa, na verdade, com as despesas que teria caso não desse certo no Rio...
- Não é isso...
- É sim! Desde criança, você regula as minhas ações, sempre decidiu as coisas por mim, até o meu corte de cabelo você que mandava fazer, do seu jeito! Agora é minha vez. Eu acredito nessa possibilidade, vou atrás dela! E, se é assim, vou embora e não volto mais!

E ele sai, fechando a porta e deixando para trás uma vida inteira.
***
Finalmente, chegou o domingo. Dia de almoço de família. Eram dez horas da manhã. Os filhos e os netos vêm chegando, e o Sr. Oliveira se entristecia a cada um que aparecia. Porque a cada um que ocupava um lugar à mesa, imaginava que João ia abrir a porta, te dar um abraço e sentar-se na mesa, ao seu lado, como sempre foi.
Naquele mesmo instante, João tomava uma importante decisão.
***
Meio-dia. A esposa do sr. Oliveira traz a comida à mesa, os filhos todos sentados, junto dos netos, noras, genros, amigos da família... e uma cadeira vazia, ao lado do velho senhor. Por causa de todas as tribulações com seu filho, ficou deprimido, parou de trabalhar, passara dificuldades. E todos acompanhavam essa depressão. O sr. Oliveira olhava a cadeira com tristeza. Os outros tentavam animá-lo, mas nada conseguiam. Já dizia aquela passagem da Bíblia: "Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da que se perdeu, até encontrá-la?" Pois é... o sr. Oliveira queria encontrar a sua ovelha.
Quando o já cansado senhor pensou, naquele momento, em desistir de sua busca, imaginando que perdera seu filho para o mundo para sempre, eis que ele entra porta adentro. Chega na cozinha, ele olha a todos, que o olham de volta. Singelamente, senta-se ao lado de seu pai e diz:
- Me passe um prato, que eu estou com fome.
E a paz foi restaurada, por todos os tempos.

sexta-feira, 10 de março de 2006

UMA PEQUENA HISTÓRIA

(Baseada em fatos reais)




A garota havia nascido na Santa Casa em uma cidade vizinha, porém, logo após foi para o pequeno sítio onde seus pais moravam. Ali, enfrentou corajosamente todos os perigos que uma casa da zona rural pode oferecer.
O primeiro susto, aconteceu logo nos primeiros dias. Escutou um estranho barulho, próximo de seu pequenino berço; barulho este, que só ouvia ao longe, quando já cansada de tanto chorar, começava a pegar no sono. Escutava este barulho, cada vez mais perto, quando de repente, ficou branca... Sentiu em seu rosto algo frio e molhado. Não deu outra: botou a boca no mundo... No mesmo instante, sua mãe apareceu com uma lamparina de querosene à mão e iluminou o rosto da garotinha, ainda a tempo de ver uma pequena rã se esconder embaixo da cama de seu irmão.
Com todo carinho, a mãe pega a garotinha no colo. E balança cantando uma velha canção de ninar. Vencida pelo sono, a pequena Mara, dorme angelicalmente, como se nada tivesse acontecido, deixando seu irmão Amauri acordado, todo assustado, sem coragem para fechar os olhos, enfrentando a escuridão.
Depois de um certo tempo, quando a garotinha ainda nem falava, mas já aprontava bastante, viu aquele amontoado esquisito no cantinho da sala, quando esta se encontrava sobre a cama de sua mãe. Engatinhou e foi ao encontro daquela colorida e atraente figura, quando se aproximava da porta do quarto percebeu que o misterioso ser começou a se mover, de um pequeno monte, foi se transformando num longo e sinuoso animal com um estranho barulho em sua calda. Só começou a pressentir o perigo, quando o mesmo avançou para seu lado, se desenrolando, se contorcendo e levantou uma enorme cabeça com uma boca igualmente enorme. Quando já ia ensaiar um berreiro, pois se encontrava totalmente em pânico, apareceu sua adorada mãe com um pedaço de pau na mão e acertou em cheio a cabeça da cascavel que esboça uma fuga, porém não consegue reagir, se contorce toda e para estática, sem vida.
Conforme ia crescendo e aprendendo os segredos e os perigos daquele lugar, aprendia do que precisava ter medo ou não. Tanto que ela e seu irmão mais velho, adoravam brincar junto ao riacho, para poder pegar sapos e se divertir apertando a barriga para ouvi-lo fazer um estranho barulho.
Certamente, nunca beijou nenhum para ver transformado em príncipe, nem mesmo tinha acesso a essas histórias infantis, mas com certeza, já sonhava com um príncipe e, sonhava em um dia mudar-se para a cidade, freqüêntar uma escola, enfim, poder desfrutar de todas aquelas maravilhas que seus primos e primas contavam quando vinham passar um final de semana no sítio.
Um dia viu seus sonhos realizados. Enfim, foram morar na cidade: ela, seus pais, seu irmão, agora acompanhada de mais dois pirralhos, que era obrigada a tomar conta, uma irmã engatinhando e um irmão recém nascido.
Porém, chegando à cidade, percebeu que nada era muito diferente de sua vida anterior. Embora tivesse conseguido mais amigos, começasse a freqüêntar a escola, antigo sonho de quando morava no sítio, isso não a deixou mais feliz.Faltava alguma coisa que ela não conseguia ver.
Muitas e muitas vezes, mergulhava em pensamentos. Nesses momentos tinha vontade de xingar seus primos, pelas mentiras que lhe haviam pregado. A cidade tinha algumas vantagens, mas ela ficava morrendo de raiva por não mais poder brincar como antigamente, quando tinha espaço muito maior para correr livre, caçar sapos e sentia até mesmo saudades dos sustos que levava das cobras, onças que às vezes ouvia mas nunca conseguiu ver. Faltava aquele sentimento de liberdade que os muros de sua casa não permitiam sentir. Quando cresceu mais ainda, percebeu que a enrascada era muito maior, seu pai possessivo, repressor, quase não permitia que saísse ao menos ao portão; namorado então, nem pensar. Porém como namorar escondido é mais gostoso...

Mas o tempo passava e Mara não conseguia achar sentido em sua vida. Embora já tivesse vivido mil coisas, nada lhe dava muito prazer. Quando já bem velhinha, parou e começou a refletir.
Pensou, pensou, analisou toda sua vida, pelo menos aquilo que ainda conseguia lembrar-se, mediu todos os prós e os contras e com toda sua experiência, não conseguia ver o porque que não havia sido feliz durante tanto tempo. Sempre lhe faltava alguma coisa. Pensou mais um pouco, e quando já ia desistir e concluir que sua vida foi péssima, a porta se abre de repente. Um sorriso apareceu em seu rosto e percebeu o quanto tinha sido feliz. Um garotinho entrou engatinhando pela sala, puxou sua saia e a falou baixinho:
- Vovó...

sábado, 4 de março de 2006


Famílias.
"Novamente mamãe..." disse Sandra, olhando orgulhosa para um dos bebês de sua querida amiga.

"Imagino o que se passa na cabeça dela agora... Sete crianças, realmente, não será fácil. As coisas mudarão bastante daqui pra frente. Espero que ela se dê bem na missão de educar. O pai, que a desejou apenas na hora da transa... como é engraçada essa natureza machista. Enquanto ela fica aqui, ralando e dedicando-se aos bebês, ele estará lá, perambulando pelas ruas durante a noite, na companhia de outras. Engraçada essa natureza das novas gerações, pois, também os bebês, após terem todos seus mimos, todo esse carinho sem limites que preenche o coração da mamãe, eles algum dia irão embora, como todos os outros, e nem mais passarão pra visitá-la. Recebem amor. Jogam fora. E se vão."

"E ela continuará amando seus filhos."

"Não é uma boa família. É bem como grande parte das famílias de hoje em dia. As jovens que se rebelam por motivo nenhum. Talvez pelo namorado. Motivo nenhum.
Mães que com frieza mandam seus filhos para as ruas sombrias, pois afinal foram envenenadas como preconceito da sociedade. Homossexuais na família, não.
Pais que dia após dia se embriagam no boteco tal, no barzinho tal. E destroem tudo, como o filho viciado em drogas.
Os irmãos que competem entre si o orgulho dos pais, e entre si rogam pragas e demonstrações de ódio. E mais situações, diversas situações. Traições, vícios, medos, preconceitos, doenças, ambições, mortes."

"Todas as famílias estão sendo destruídas, isso é inevitável. Se nada disso aconteceu a alguém nesse mundo, este deve se preparar, pois vai acontecer."

"E agora... agora me pergunto... confusa... o que é uma família?"

Em meio aos seus pensamentos, a velha senhora Sandra se concentra na sua amiga Cindel, e sua nova cria... Observa a gatinha lambendo os bebês, dando-lhes seu banho. Nos olhos amarelos e brilhantes do animal não se vê tristeza... É um momento em que a família está feliz. Um daqueles bebês morrerá muito cedo. A gata nunca mais verá o pai dos bebês, e eles muito menos. Um a um abandonarão a mamãe, viverão suas curtas vidas felinas. Os machos talvez farão como o pai. As fêmeas sem dúvida farão como a mãe.
É triste saber que isso se assemelha às famílias humanas?

"Não..." - Sandra faz com que o tempo começe a andar novamente. - "Não é uma família ruim, não mesmo.Pensando bem, estou me confundindo. Redefinirei: Uma família não é um LAR SEM PROBLEMAS. Uma família é um grupo de vidas que se amam apesar de seus atos estúpidos e errôneos. E que acima de tudo enfrentam, fisicamente separados, mas espiritualmente unidos para sempre, todos os problemas que atrapalham suas lindas vidas."

"Lindas sim, pois sem problemas nem mesmo seria uma vida."

"É verdade..." - acaricia os gatinhos...

E a tarde de Sandra se passa naquele casarão escuro e cheio de amor de uma mãe abandonada e sua família de gatinhos também cheios de amor...
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espero que este pequeno texto conforte aos que algumas vezes se perguntam por quê suas famílias são tão imperfeitas... que entendam que isso realmente faz parte da vida. ;)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Refugiados etíopes. Etiópia, 1985 – Foto: Sebastião Salgado

Obtuário

Esses rostos, que gritam sem mover a boca, já não são rostos de outros. Esses rostos deixaram de ser convenientemente distantes e etéreos, pretextos ingênuos para a caridade de consciências pesadas.
Eduardo Galeano


Judeus na Palestina, xiitas e sunitas, homens-bomba e homens-bíblia, sérvios e croatas, brasileiros e argentinos, corintianos e palmeirenses e são-paulinos e santistas, manos e boys,
paquistaneses na Índia, índios do baixo-Xingu, índios e madeireiros, índios americanos e a cavalaria, cleros e burgueses, tibetanos e chineses e japoneses, japoneses em Hong Kong, cearenses e paulistas no Rio de Janeiro, gaúchos em qualquer lugar, cubanos em Miami, novaiorquinos em Londres, brasileiros na Suíça, irlandeses e ingleses, coreanos do norte e do sul, iranianos e iraquianos e israelenses, libaneses e americanos e iranianos, espanhóis e astecas e maias, franceses e africanos, albaneses e argelinos, castristas e americanos e russos, homossexuais no Brooklin, negros na europa, punks e hippies e carecas e metaleiros, católicos e protestantes e evangélicos, alemães e nazistas e os judeus alemães, realeza e proletariado, camelôs e fiscais, policias traficantes, padres homosexuais e liberais, negros e Ku-klux-kan, meninos de rua, catadores de papel, negros pobres, negros ricos, ex-detentos, pecadores e apóstolos, americanos e vietnamitas, russos e afegãos, sírios e americanos e terroristas muçulmanos, ingleses na Índia, argentinos e ingleses, brasileiros e paraguaios, latifundiários e sem-terras, capangas, calangos, nordestinos em São Paulo, etíopes e sudaneses, luteranos e cristãos, muçulmanos e americanos. Fome, fé, ideologia, sotaque, nacionalidade, ignorância, ambição. De uma forma ou de outra, isso mata.



wallace puosso
http://celebreiros.zip.net

sábado, 18 de fevereiro de 2006


foto: http://img.photobucket.com/albums/v216/scarredqueen/interracial.jpg
"O teu cabelo não nega mulata porque és mulata da cor. Mas como a cor não pega, mulata, mulata, eu quero o teu amor..."
(Lamartine Babo e Irmãos Valença)

Ó, tá vendo aquele cara, ali? Eu que não queria ser que nem ele...

Ópraquilo! Um cara magrela daquele jeito, alto que só... poderia dar uma lapa dum hôme... mas não! Não pega uma praia, cheio de piercings, tatuagens, roupas escuras e trejeitos estranhos... uma bichona! Deus me livre de ter até um parente que nem ele!

Ó, tá vendo aquela outra, ali? A maior puta da cidade! Nem se engane pelas roupas bonitinhas, pelo porte de menina decente, ou pelas bijuterias com cara de jóias caras! Todo mundo na vizinhança sabe do que ela gosta quando os pais não estão em casa... Deus me livre de ter uma filha assim! Eu bateria até ela desaprender a sentar!

Ó praquele pretão, lá! Tão preto, mas tão preto, que não deve correr nem risco de ser assaltado, à noite! Basta ele andar em qualquer rua com o poste sem iluminação... e isso não falta por aqui, não é? Fora que é feio pra danar... como uma criatura com um nariz desse tamanho e esse cabelo que nada penteia pode ter coragem de sair na rua? É muita falta de espelho em casa... se é que tem casa, né? Aposto como mora de favor na casa do patrão!

E aquele ali? POLÍTICO! LADRÃO! CORRUPTO! FELADUMAPUTA! Preciso dizer mais alguma coisa?

Essa gentinha toda aqui... num lugar do povo, de gente do bem, que nem eu e você... como pode? Eles deveriam ser todos presos!

Como é? Você não concorda? Preconceituoso, eu? Eu sabia que você só podia ser igual a eles!

É assim, mesmo! No final das contas, só quem merece ir para o céu sou EU!...



Tom desejando um ótimo carnaval para todos! Muita paz, amor e CAMISINHA!!!

sábado, 11 de fevereiro de 2006

Pre /Conceito
ou
Como se tornar inimigo da sociedade em alguns passos



para Caio, Marina, Danilo, William e Sweet,
que me ajudaram a sair do bloqueio e conseguir voltar a escrever.


Preconceito: S. m. 1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. P. ext. Supertição, crendice; prejuízo. 4. P. ext. Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.

Dicionário Aurélio


Jovens são mesmo jovens e ponto final. É absurdamente normal que na adolescência os mais novos tenham vontades diferentes, por aderirem a moda vigente ou por ter um estilo diferenciado. Por exemplo, aqui do meu lado, de olho no que eu tô escrevendo, tem um moleque, de uns quinze anos, vestido inteirinho de preto, com cabelo estranho, colorido. É a moda atual. Todos, de uma maneira ou de outra, acabam por entrar na onda. Eu já passei por isso. Você, que lê esse texto agora, provavelmente também passou. Ou está passando. Sei lá.

Mas isso causa certo desconforto na sociedade, muita senhora puritana acaba torcendo o nariz e olhando torto para quem está de negro num calor de quarenta graus, por exemplo. É a maneira com que as pessoas vêem as outras. Com indiferença, com estranheza; normalmente, quem é roqueiro é visto como maconheiro, quem é junkie fica famoso por ser vândalo (e maconheiro), quem é emo tem fama de homossexual (nunca se esquecendo do maconheiro), quem tem seu próprio estilo é visto como deflagrador de uma moda passageira, que certamente levará o filho mais moço da senhora puritana acima citada a entrar na moda, e com isso também ganhar status de maconheiro. E, quem tiver a resposta por favor me avise: porque a sociedade em geral tem essa visão das pessoas? Como podem julgar alguém sem conhecer?

Isso me lembra um caso. Tudo começa com João, um adolescente de dezesseis anos, que ia a igreja toda semana, rezava, fazia catequese, aluno exemplar, com notas altas e futuro promissor. Orgulho dos pais, motivo de inveja dos primos e amigos. Ele tinha tudo para ser feliz, mas sempre se perguntava " - O que me falta?" Ele sabia que todo mundo olhava para ele como um nerd, cdf, e que com certeza seria médico, advogado ou dentista absolutamente sério.De repente, seus amigos passam a deixar o cabelo crescer, usar camisas pretas, sujas e rasgadas com os logos de bandas de heavy-metal. João pensou: porque não? E passou a ouvir o som de Iron Maiden, Mettalica, AC/DC... entrou de cabeça nisso e pensou que estava agora de bem com a sociedade. (no fundo ele se importava com isso).

Mas, agora todo mundo passou a olhá-lo como um viciado, que ouve bate-estaca para se drogar, aquela música nojenta, horrivel. Mesmo ele ainda sendo o mesmo João das notas altas na escola, da catequese, da missa, do futuro brilhante, parecia que ninguém mais olhava essas qualidades. Na missa ninguém nem sequer o olhava, só porque cantarolava "The Number of The Beast" em rodinhas de amigos. O julgavam por ser metaleiro. Ele passou a ser recusado nas rodas de amigos que curtiam MPB, por exemplo. Ou qualquer outra roda de qualquer outro assunto de qualquer outro estilo. Por que isso?
As pessoas mudaram o modo de vê-lo, e em questão de meses ele passou de boa-praça a boa-merda. E ele percebeu que o preconceito existe, não só entre negros e brancos, o que é mais comum e igualmente condenável. Mas, cada dia que passa, nota-se que até por questões ridículas, o relacionamento humano se quebra. Se alguém tem um penteado diferente, uma roupa diferente, um jeito diferente, esse alguém vai ser recebido com duas dúzias de pedras na mão. E a pessoa em si, já não importa mais. É o que o ensinamento quase medieval que vem sendo pregado a todos desde tempos que ninguém se lembra mais. E ninguém se lembra também do porque desses fundamentos terem surgido. Talvez eles tivessem validade na época de Esaú e Jacó.

Esse caso é apenas um exemplo. E tem outros muitos, que nem caberiam aqui. Questão de cultura, etnia, credo... a maneira com que uma metade da população mundial olha para a outra é de pura demagogia. E, do jeito que a carruagem ta andando, dificilmente isso vai acabar tão cedo. Por isso, se você que está lendo agora for, digamos, "diferente" como o nosso amigo Jõao, apresento duas opções, que a própria sociedade prega mesmo inconscientemente (ou não): ou mate-se ou converta-se.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

.......................................................O SER

............O dia amanheceu brilhante. O sol pulou por trás das montanhas, fazendo marcar 35º C nos termômetros. Acordei transpirando, tanto pelo calor, como pelo pesadelo da madrugada, que havia me deixado abalado, embora não me lembrasse de muita cosa do que havia sonhado. Apenas algumas imagens mal definidas dançavam em minha memória. Com certeza, não deveria ser nada importante para ser lembrado, pois se assim fosse, estaria ainda muito vivo em sua mente. Como dizia um velho conhecido meu: "deve ser mentira".
...........Pensei ainda que este sonhos malucos pudessem ser causados pela excitação de meu programa para o dia que chegava. Afinal iria conhecer o novo espécime adquirido pelo zôo da cidade vizinha. Era o assunto da moda, todo mundo estava se deslocando para lá para conhecer aquele estranho ser vivo, que havia aparecido de repente nas ruas da cidade, parecia que pedia alguma coisa, porém por medida de precaução, o haviam aprisionado e exposto à visitação pública; embora estivessem esperando a chegada de uma equipe de cientistas americanos para aprofundar seus estudos.
............Enquanto isso não acontecia, todos se dirigiam ao zoológico para observar o bicho. Saí de casa, olhei o relógio e percebi que estava totalmente atrasado. O ônibus sairia em 10 minutos, e se não corresse chegaria fatalmente tarde para tomá-lo; corri, quando estava quase chegando à Rodoviária, ele já estava saindo. ..............Gritei com tudo o que meus pulmões conseguiram. Quase desisti porém, uma amiga que estava dentro do ônibus ouviu meu grito e pediu para que o motorista parasse, corri mais uns cem metros, quando consegui alcançar a porta do ônibus, tive que me segurar no corrimão para não cair, fiquei completamente tonto, minha vista escureceu, pensei que fosse ter um desmaio. Por fim, consegui voltar ao normal, sentindo a mão de um passageiro que estava sentado na primeira poltrona e me perguntando se estava me sentindo bem; assentí com a cabeça, pois era o única coisa que eu conseguia fazer, devido ao fôlego que demorava a voltar, obrigando-me a levar a mão ao peito, numa tentativa de aumentar meu poder de sugar oxigênio.
.............Consegui me controlar, não sem antes perceber um olhar de desdém do motorista que engatou a marcha e seguiu em frente, já colocando a mão estendida e gritando o preço da passagem.
............Paguei e segui cambaleando procurando um lugar desocupado. Ao passar pelo passageiro da primeira fila, ouvi que comentava com seu parceiro ao lado que "a juventude não se cuida mesmo, é só noitada, bebida e drogas. Não vão chegar nem na metade da idade que eu já cheguei..." Embora ele continuasse a tagarelar, procurei não mais ouvir o que falava, fui em frente e por sorte havia uma vaga ao lado de minha amiga. Puxei um papo meio sem graça, pois esta era minha especialidade, devido a minha timidez. Falando banalidades, conseguimos chegar em alguma coisa mais interessante e fomos trocando idéias até chegar à cidade vizinha. Foi quando descobri que estávamos indo ao mesmo lugar, ela também não havia resistido à curiosidade de conhecer algo tão estranho. Só achei chato que o assunto se tornou monótono, ficamos falando daquela coisa todo o trajeto, trazendo até mesmo um pouco de ciúme por tanta importância dada a um ser tão insignificante preso em uma jaula.
...............Chegando ao Zôo, paguei os ingressos, pois percebi que minha amiga como sempre estava andando com um mínimo de dinheiro, entramos e nem nos demos ao trabalho de olhar as outras jaulas, já tão conhecidas desde os tempos de criança; fomos direto para ver a novidade. Deu me a impressão de que havia uma estranha luz saindo do centro do fosso onde se encontrava a jaula. Comentei com minha acompanhante, ela observou, riu e disse que eu deveria estar ficando louco. Seguimos em frente, loucos para conseguirmos um lugar onde pudéssemos observar de perto a criatura. Mais uma vez, olhei para cima e tive a mesma sensação de perceber uma estranha luz irradiando do centro daquele fosso, abanei a cabeça, sorri e achei que talvez eu realmente não estivesse muito bom dos pinos. Foi quando percebi o quanto ia ser difícil chegar perto do muro do fosso. Uma multidão se acotovelava para poder colocar o olho no abominável ser. Mas minha curiosidade era tamanha que eu fui me espremendo entre as pessoas e depois de uns vinte minutos percebi que havia chegado onde queria. Vi, porém, que minha amiga havia ficado para trás. Pensei com meus botões que ela saberia se virar, afinal havia deixado pelo menos o dinheiro do ingresso a mais em seu bolso.
............Procurei me concentrar naquilo que havia me levado a estar ali. Uma criatura estava sentada no chão, bem no meio de uma jaula e embora a porta da mesma estivesse aberta, não demonstrava nenhuma vontade de sair; parecia que estava a refletir. Seu olhar melancólico chegava a doer na alma, parecia sentir nas constas, todo o peso do mundo, principalmente por estar ali sendo observado por centenas, talvez, milhares de pessoas e não tinha a menor vontade de encará-los.
............Foi quando entrou o zelador com uma vasilha cheia de frutas, algumas saudáveis outras já em estado de putrefação e colocou-as próximo à porta da jaula. O modo com que andava e olhava para a porta, demonstrava todo o medo que sentia em relação àquele ser. Parecia que isso o dominava, que seria algo que sentiria sempre que entrasse ali. Foi então que percebi como aquele simples ser realmente atraia a atenção. Tinha um certo fascínio que não me deixava tirar os olhos de cada músculo que mexia, cada piscada, cada gesto que dava, embora muito raros. Percebi que algo ali me fascinava. Após perceber isso, não consegui mais desviar os olhos da criatura, parecia hipnotizado, algo naquele ser parecia-me familiar.
............Após, mais ou menos, uma hora que havia chegado ali, percebi um movimento maior do que o normal, o animal levantou-se de onde estava, espreguiçou-se, seguindo em direção à vasilha com frutas. Mexeu, mexeu e escolheu uma maçã verde que parecia bem saudável e a levou à boca. Pude então perceber que haviam muitos traços humanos naquela criatura. Notei que logo após este movimento, a excitação das pessoas em minha volta era bastante grande. Ouvi alguns comentários jocosos sobre o animal. Então um garoto com cara de quem adorava fazer traquinagens, jogou algo que parecia uma bala em direção da jaula, o objeto quicou e bateu contra as grades; o ser levantou seu olhar na direção do garoto, fez um gesto como se estivesse agradecendo e foi em direção à bala. Ao meu lado o garoto fazia um grande esforço para não rir, observando quando desembrulhava e via que somente tinha uma pedra dentro do papel. Foi imediata sua reação, jogou a pedra com força e deu uma olhada fulminante para cima, encontrando com o olhar do garoto que soltava uma gargalhada acompanhado por quase todos em sua volta, sendo que quando percebeu aquele olhar parou de repente, se agarrou à saia de sua mãe que também calou o riso. Preocupada com a reação do garoto, ouvindo um pedido para que saíssem dalí, que queria ir embora para nunca mais voltar àquele lugar. Seu choro era tão desesperado que não houve outra alternativa foi levado dalí, não sem antes olhar para trás e pestanejar: "bicho bobo, não sabe nem brincar."
................As reações após aquele episódio foram das mais diversas; um senhor muito bem trajado, ao lado de seu motorista lamentou a falta de escrúpulos do animal, em "olhar daquela maneira, assustando o pobre garoto. Imaginem se um bicho deste estivesse solto nas ruas, não poderíamos nem mesmo tirar um sarrinho que logo iria querer nos atacar com unhas e dentes, como se fosse um igual a nós. Vamos embora Pedro, esse imbecil nem mesmo imagina o que são regras sociais, não merece ser observado”.
..............A tarde ia passando e cada vez mais o local ia se esvaziando, percebi uma jovem com roupas da moda, se aproximar, já que agora eram poucas as pessoas que ali estavam e comentar com sua amiga: "nossa ainda bem que esta coisa não tem como se aproximar da gente, já pensou, não tem classe, nem mesmo classificação, não tem nome, nem sobrenome, ai que pobreza e olhe aqueles trapos que cobrem o seu corpo, nem mesmo etiqueta pode ter, é um horror... vamo imbora?"
...............Quando olhei para baixo, um olhar de desprezo enchia o rosto da criatura, demonstrando que havia ouvido e entendido cada palavra dita até aquele momento.
..............Resolvi mover um pouco as pernas, pois já fazia praticamente quatro horas que estava plantado ali, naquela mesma posição. Foi quando olhei para o céu e vi que a noite já começava a cair, dei mais uma olhada fixa para dentro da jaula e foi só então que vi uma tabuleta pendurada sobre a porta da jaula. As autoridades locais o haviam apelidado de "Madmem", logo mais abaixo, haviam mais algumas inscrições, que embora quase ilegíveis, consegui, com muito esforço, traduzir algums dos rabiscos "A última espécie que ama, sofre, sor..., e respeita a simplicidade."Quando resolvi realmente ir embora, comecei a recordar algumas passagens de meu pesadelo da noite anterior: eu era um homem dentro de um fosso cercado por uma multidão. Em cima da porta de minha jaula havia uma tabuleta em que estava escrito... Não consegui me lembrar da inscrição, mas parece-me que tinha alguma coisa a ver com uma espécie em extinção...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

sonhos sonhos são


HORIZONTE ESCURO SE AVIZINHA. Procuro sua mão, não encontro. Coração em disparada. Lembro-me de Geraldo Vandré, perambulando louco pelas praças de São Paulo, depois de tanto pau-de-arara. Nem tudo são flores. O tempo voa, já diria um poeta futuro. A voz da aeromoça no alto-falante avisa que pousaremos para escala em questão de minutos. “Ponham os cintos, por favor”. Então me lembro de onde estou. Horizonte escuro. Sobre algum país da América Latina. Um frio percorre a espinha. Então temo pelos oprimidos hermanos. Meu país fictício não passa de uma ilha nesse universo em castelhano. Estará o aeroporto tomado por guerrilheiros? Ou militares? Não importa. Quase sempre é a mesma merda. No fundo, no fundo, toda luta é pelo poder. Por mais poder. Procuro respostas, nada. Já está tudo escrito. Em algum lugar. Talvez seja destino, esse que nos une em vôo cego. A palma da tua mão não tem linhas. E nunca sei por onde você anda. “Cuidado, qualquer esquina é um perigo!”. Inquieto, me remexo. Despejo pragas numa língua estrangeira por algum incômodo momentâneo. Não sei mais que língua é essa. Nem sei o que tenho falado. Procuro ser ouvido, esforço em vão. Meu passo trôpego denuncia uísque em excesso. O cachorro engarrafado do Vinícius. Embevecido por uma beleza quase platônica, conduzo-lhe pelo Muro das Lamentações, pela Muralha da China, pelas moradas dos faraós embalsamados. Encalacrado, reteso-me ao tentar sair desse turbilhão de sensações. Força inútil. Cantarolo uma canção do Chico, pra disfarçar o nervosismo: “Que sonho é esse de que não se sai / E em que se vai trocando as pernas / E se cai e se levanta noutro sonho”. Quando foi mesmo que comecei a ouvir Chico Buarque? Já nem me lembro. Talvez na época dos movimentos estudantis. Quando lhe conheci. Tínhamos o sonho de mudar o Brasil. E fazíamos planos, vários planos. Mas o país mudou pra pior. Então fotografo mais uma vez o horizonte escuro. Na turbulência, sinto e sei que é sonho. Não porque me vejo livre. Não porque nosso avião parece rumar a um lugar seguro. Mas porque na verdade você já não me quer. E pra ser mais correto, você nunca existiu. Foi só desejo. Abro os olhos. “Escuro aqui fora”. O mundo é sempre mais leve nos sonhos. A madrugada ainda nem chegou, quando o carcereiro conta entre grades que a Lei da Anistia foi sancionada naquela tarde de agosto. Talvez seja sonho. Mas é sempre bom voltar. Não importa de onde.


wallace puosso

sábado, 14 de janeiro de 2006


foto: www.fisher-price.com - alterada por Tom
"I want you, I want you, I want you... I think you know by now... I'll get to you somehow. Until I do I'm telling you so you'll understand."
(John Lennon, Paul McCartney)

Ô, meu bebê...

Como eu adoro te ver assim... ressonando, tranqüilo e sereno... é muito mais do que qualquer coisa que eu poderia imaginar ou querer da minha vida.

A partir de agora, seremos nós três. E você crescerá alegre, confiante e com saúde. Farei o máximo que puder para ser seu herói. Brincaremos muito juntos, e irei querer sempre saber do seu dia.

Você fará muitos amigos, será uma criança muito querida! Todos gostarão de você, todos irão querer ser como você.

Crescerá... entrará na adolescência... mas não nos afastaremos como tantos pais e filhos por aí. Você certamente se lebrará do velho aqui sempre! Faremos programas novos juntos. Poderei lhe ajudar em outros aspectos da sua vida, que não existiam em sua infância. Afinal, também já terei sido jovem.

Estarei sempre ao seu lado nas notas baixas, para lhe ajudar a melhorá-las; nas decepções amorosas, para mostrar que há vários peixes no mar e todo pescador tem o seu dia; em suas lutas diárias, para lhe aconselhar quando me aprouver e lhe aplaudir a cada vitória, ou mesmo derrota - o aplauso vai sempre para a tentativa.

Irá entrar na idade adulta. Vestibular, faculdade, seus primeiros passos realmente longe de mim. terei imenso orgulho de vê-lo seguindo fielmente os ideais que conquistar na sua juventude, sem deixar que a tão chamada "realidade" lhe tire todo o vigor necessário para a luta. Vibrarei quando conseguir o seu emprego, com todo o seu suor e garra. Encontrará o seu par. E logo, você estará aqui, no meu lugar.

Sim, no meu lugar. Exatamente aqui, nesta janela da maternidade, a olhar para um lindo bebê numa incubadora, esperando ansiosamente pelo dia em que poderá levá-lo para casa em seus braços... E eu estarei ao seu lado, para dizer "é tão lindo como o avô", do mesmo jeito que o seu avô fez hoje com você.

sábado, 7 de janeiro de 2006

Oi.
Como sou o primeiro a escrever neste novo ano, exponho aqui também as novas mudanças em nosso projeto. A partir de hoje, escreveremos não por um tema mensal, mas sim por um tema novo a cada primeiro sabado do mês. Por exemplo, hoje eu abro o mês com um tema que eu escolhi, e os outros escreverão sobre este tema até o primeiro sábado do próximo mês, quando quem escrever neste dia escolherá o tema do mês. E assim por diante.
Comemoramos também a eleição realizada no weblog Under Pressure, que apontou por maioria de votos este projeto como o melhor blog de crônicas de 2005, o que nos honra muito; além de ter nosso cronista Felipe Policarpo, que venceu por maioria absoluta o pleito para melhor cronista em blog (ver o discurso dele aqui) Agradecemos a todos aqueles que votaram em nós, essa eleição foi muito importante para que o nosso projto ganhasse mais vida.
Portanto, sejam todos bem vindos ao Escrevinhadores 2006.


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O grande livro azul dos sonhos




Já se foi o tempo em que se dizia que cada cabeça era um mundo. Hoje em dia, cada cabeça é apenas parte de alguma estatística inútil e sem sentido. Será que nós perdemos a nossa capacidade de sonhar? Como podemos deixar nossos sonhos, nossas vontades para trás por qualquer motivo fútil... seja ele dinheiro, alavanca social, emprego melhor remunerado... claro que tudo isso não deixa de ser importante, afinal ninguém vive sem isso. Mas há agora aquele momento saudosista, em que nos lembramos de quando éramos mais jovens e tínhamos o desejo de nos tornarmos médicos, bombeiros, engenheiros, músicos, cineastas... toda essa época passa quando crescemos, mas ainda há pessoas que mantém vivos os seus sonhos...

Jonas nasceu no interior de São Paulo. Filho de pai ausente (trabalhava para uma estatal, e vivia viajando - foi criado pela mãe), tinha em seus irmãos o seu refúgio. Era com seus três irmãos mais velhos do que ele que Jonas conversava e brincava, desde que aprendeu a falar, andar e correr. Quando completou seus dez anos de idade, ganhou de presente uma câmera, daquelas pequenas, caseiras. Ao bater os olhos no aparelho pela primeira vez, descobriu aquilo que muita gente adulta ainda não sabe: o que queria ser quando crescesse. Decidiu: queria fazer filmes.

O tempo foi passando, e Jonas foi crescendo. A faculdade de cinema para ele virou obsessão. Seu professor de história, no colegial, disse que se ele fizesse cinema ele morreria de fome. Enquanto ele tinha seus devaneios, seu pai (agora aposentado) implorava para ele arrumar um emprego de verdade e esquecer dessa história - fazer cinema no Brasil não dava lucro, dizia ele - mas Jonas continuava firme e forte. E quando completou dezenove anos, cometeu a sua primeira loucura, em nome da sua vontade: pegou o pouco dinheiro que tinha e montou um pequeno negócio de filmagens. Com apenas uma câmera e cheio de idéias, passou para a prática tudo aquilo que aprendeu vendo Spielberg, Buñuel, Kubrick, Scorsese, entre tantos outros que povoaram a cabeça do ex-menino. Contra tudo e contra todos, as coisas começam a dar certo, e ele se muda para São Paulo para ingressar na faculdade.

Alguns anos se passam. Jonas passou por maus bocados, passou dificuldades, seu pequeno negócio não existe mais. Seu pai nem seus irmãos não o ajudam, não acreditam no sonho dele. Mas com muita força de vontade, ele pega seu diploma, procura emprego por dois anos e consegue um estágio. Logo, passa a ser contra-regra, depois auxiliar de produtor, depois produtor e finalmente diretor. Volta para a casa, bem-sucedido na vida. Olha para os pais e irmãos, que agora estão orgulhosos de sua vitória sobre os males que a vida lhe impôs para que chegasse ao seu destino. Um repórter do jornal local vem ao seu encontro para uma entrevista com o filho ilustre da cidade. Ao ser perguntado sobre o que falta em sua vida, Jonas, um garoto que não poderia esperar nada da vida a não ser ver a vida passar lentamente mas escolheu seus próprios caminhos, respondeu na hora:

- Para mim não falta mais nada. Falta para os outros. Falta uma cabeça mais aberta, mais livre, falta esperança. Falta aquilo que há muito tempo não se vê: falta às nossas crianças, aos nossos jovens e até aos adultos um pouco a mais de sonhos. Enquanto hoje se vive uma onda de conformismo, eu continuei lutando por aquilo que desejei desde os dez anos. É isso que falta. Cada um de nós é um universo cheio de possibilidades. Falta apenas descobrir.



*baseado em uma história real que ainda não acabou.