sábado, 4 de março de 2006


Famílias.
"Novamente mamãe..." disse Sandra, olhando orgulhosa para um dos bebês de sua querida amiga.

"Imagino o que se passa na cabeça dela agora... Sete crianças, realmente, não será fácil. As coisas mudarão bastante daqui pra frente. Espero que ela se dê bem na missão de educar. O pai, que a desejou apenas na hora da transa... como é engraçada essa natureza machista. Enquanto ela fica aqui, ralando e dedicando-se aos bebês, ele estará lá, perambulando pelas ruas durante a noite, na companhia de outras. Engraçada essa natureza das novas gerações, pois, também os bebês, após terem todos seus mimos, todo esse carinho sem limites que preenche o coração da mamãe, eles algum dia irão embora, como todos os outros, e nem mais passarão pra visitá-la. Recebem amor. Jogam fora. E se vão."

"E ela continuará amando seus filhos."

"Não é uma boa família. É bem como grande parte das famílias de hoje em dia. As jovens que se rebelam por motivo nenhum. Talvez pelo namorado. Motivo nenhum.
Mães que com frieza mandam seus filhos para as ruas sombrias, pois afinal foram envenenadas como preconceito da sociedade. Homossexuais na família, não.
Pais que dia após dia se embriagam no boteco tal, no barzinho tal. E destroem tudo, como o filho viciado em drogas.
Os irmãos que competem entre si o orgulho dos pais, e entre si rogam pragas e demonstrações de ódio. E mais situações, diversas situações. Traições, vícios, medos, preconceitos, doenças, ambições, mortes."

"Todas as famílias estão sendo destruídas, isso é inevitável. Se nada disso aconteceu a alguém nesse mundo, este deve se preparar, pois vai acontecer."

"E agora... agora me pergunto... confusa... o que é uma família?"

Em meio aos seus pensamentos, a velha senhora Sandra se concentra na sua amiga Cindel, e sua nova cria... Observa a gatinha lambendo os bebês, dando-lhes seu banho. Nos olhos amarelos e brilhantes do animal não se vê tristeza... É um momento em que a família está feliz. Um daqueles bebês morrerá muito cedo. A gata nunca mais verá o pai dos bebês, e eles muito menos. Um a um abandonarão a mamãe, viverão suas curtas vidas felinas. Os machos talvez farão como o pai. As fêmeas sem dúvida farão como a mãe.
É triste saber que isso se assemelha às famílias humanas?

"Não..." - Sandra faz com que o tempo começe a andar novamente. - "Não é uma família ruim, não mesmo.Pensando bem, estou me confundindo. Redefinirei: Uma família não é um LAR SEM PROBLEMAS. Uma família é um grupo de vidas que se amam apesar de seus atos estúpidos e errôneos. E que acima de tudo enfrentam, fisicamente separados, mas espiritualmente unidos para sempre, todos os problemas que atrapalham suas lindas vidas."

"Lindas sim, pois sem problemas nem mesmo seria uma vida."

"É verdade..." - acaricia os gatinhos...

E a tarde de Sandra se passa naquele casarão escuro e cheio de amor de uma mãe abandonada e sua família de gatinhos também cheios de amor...
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espero que este pequeno texto conforte aos que algumas vezes se perguntam por quê suas famílias são tão imperfeitas... que entendam que isso realmente faz parte da vida. ;)

4 comentários:

Anônimo disse...

Que sensibilidade Felipe... Fez com que olhasse para a minha família, com seus problemas habituais, crises, mas também momentos felizes, ímpares. Olhar-se é um ato heróico. Sempre. Abraço!

Anônimo disse...

Falaí, mermão. Constituir uma família, não é tarefa fácil. Fazer com que essa família viva em um verdadeiro lar, é uma missão bastante complicada. Mães heroínas existem aos montes por aí. Belos texto, nos faz refletir bastante sdobre uam coisa que muitas vezes não queremos enxergar. Um grande abraço...

Anônimo disse...

Famílis é uma dor-de-cabeça necessária...
Amei a simplicidade e a profundidade da sua crônica, Prodígio...
Grande abraço!

ps: quando foi que a casa mudou, que eu não vi?

Anônimo disse...

A família na atualidade está sendo bombordeada de todos os lados, mas ainda é a base pilar dos seres humanos, com todas as imperfeições possiveis, pq nos somos imperfeitos, a partir do nosso livre arbítrio. Gostei da temática, dá pano pra manga, e vai longe.
grande abraço
andrade jorge