UMA PEQUENA HISTÓRIA(Baseada em fatos reais)

A garota havia nascido na Santa Casa em uma cidade vizinha, porém, logo após foi para o pequeno sítio onde seus pais moravam. Ali, enfrentou corajosamente todos os perigos que uma casa da zona rural pode oferecer.
O primeiro susto, aconteceu logo nos primeiros dias. Escutou um estranho barulho, próximo de seu pequenino berço; barulho este, que só ouvia ao longe, quando já cansada de tanto chorar, começava a pegar no sono. Escutava este barulho, cada vez mais perto, quando de repente, ficou branca... Sentiu em seu rosto algo frio e molhado. Não deu outra: botou a boca no mundo... No mesmo instante, sua mãe apareceu com uma lamparina de querosene à mão e iluminou o rosto da garotinha, ainda a tempo de ver uma pequena rã se esconder embaixo da cama de seu irmão.
Com todo carinho, a mãe pega a garotinha no colo. E balança cantando uma velha canção de ninar. Vencida pelo sono, a pequena Mara, dorme angelicalmente, como se nada tivesse acontecido, deixando seu irmão Amauri acordado, todo assustado, sem coragem para fechar os olhos, enfrentando a escuridão.
Depois de um certo tempo, quando a garotinha ainda nem falava, mas já aprontava bastante, viu aquele amontoado esquisito no cantinho da sala, quando esta se encontrava sobre a cama de sua mãe. Engatinhou e foi ao encontro daquela colorida e atraente figura, quando se aproximava da porta do quarto percebeu que o misterioso ser começou a se mover, de um pequeno monte, foi se transformando num longo e sinuoso animal com um estranho barulho em sua calda. Só começou a pressentir o perigo, quando o mesmo avançou para seu lado, se desenrolando, se contorcendo e levantou uma enorme cabeça com uma boca igualmente enorme. Quando já ia ensaiar um berreiro, pois se encontrava totalmente em pânico, apareceu sua adorada mãe com um pedaço de pau na mão e acertou em cheio a cabeça da cascavel que esboça uma fuga, porém não consegue reagir, se contorce toda e para estática, sem vida.
Conforme ia crescendo e aprendendo os segredos e os perigos daquele lugar, aprendia do que precisava ter medo ou não. Tanto que ela e seu irmão mais velho, adoravam brincar junto ao riacho, para poder pegar sapos e se divertir apertando a barriga para ouvi-lo fazer um estranho barulho.
Certamente, nunca beijou nenhum para ver transformado em príncipe, nem mesmo tinha acesso a essas histórias infantis, mas com certeza, já sonhava com um príncipe e, sonhava em um dia mudar-se para a cidade, freqüêntar uma escola, enfim, poder desfrutar de todas aquelas maravilhas que seus primos e primas contavam quando vinham passar um final de semana no sítio.
Um dia viu seus sonhos realizados. Enfim, foram morar na cidade: ela, seus pais, seu irmão, agora acompanhada de mais dois pirralhos, que era obrigada a tomar conta, uma irmã engatinhando e um irmão recém nascido.
Porém, chegando à cidade, percebeu que nada era muito diferente de sua vida anterior. Embora tivesse conseguido mais amigos, começasse a freqüêntar a escola, antigo sonho de quando morava no sítio, isso não a deixou mais feliz.Faltava alguma coisa que ela não conseguia ver.
Muitas e muitas vezes, mergulhava em pensamentos. Nesses momentos tinha vontade de xingar seus primos, pelas mentiras que lhe haviam pregado. A cidade tinha algumas vantagens, mas ela ficava morrendo de raiva por não mais poder brincar como antigamente, quando tinha espaço muito maior para correr livre, caçar sapos e sentia até mesmo saudades dos sustos que levava das cobras, onças que às vezes ouvia mas nunca conseguiu ver. Faltava aquele sentimento de liberdade que os muros de sua casa não permitiam sentir. Quando cresceu mais ainda, percebeu que a enrascada era muito maior, seu pai possessivo, repressor, quase não permitia que saísse ao menos ao portão; namorado então, nem pensar. Porém como namorar escondido é mais gostoso...
Mas o tempo passava e Mara não conseguia achar sentido em sua vida. Embora já tivesse vivido mil coisas, nada lhe dava muito prazer. Quando já bem velhinha, parou e começou a refletir.
Pensou, pensou, analisou toda sua vida, pelo menos aquilo que ainda conseguia lembrar-se, mediu todos os prós e os contras e com toda sua experiência, não conseguia ver o porque que não havia sido feliz durante tanto tempo. Sempre lhe faltava alguma coisa. Pensou mais um pouco, e quando já ia desistir e concluir que sua vida foi péssima, a porta se abre de repente. Um sorriso apareceu em seu rosto e percebeu o quanto tinha sido feliz. Um garotinho entrou engatinhando pela sala, puxou sua saia e a falou baixinho:
- Vovó...