
Esta estória se passa no Rio... Ali, em um daqueles subúrbios sem nome...Ali, num corredor daquele labirinto... Ali em uma daquelas malocas... Ali, passando dois barracos do botequim... Na casa da Gleice...
Ali, hoje, é dia de pagode. Ali, no fundo, lá está o pessoal reunido. Os amigos de Gleice todos são convidados e todos eles comparecem pro “sábado da Gleice”
Juntam-se todos em grande motim em pequeno espaço. Arivaldo no pandeiro, Ticinho no cavaquinho e Tomás juntamente com Gabriel no tamborim. A noite é daquela rodinha... Todos sorridentes, é festa de fim de semana e só. A mulherada toda cheia do charme na cerveja, os caras no bate-papo sobre futebol, e alguns no aquecimento da cantoria...
Equanto do lado de dentro do barraco, Gleice fica pensativa em frente ao espelho...
“ Mais uma festinha... E...
Às vezes imagino como seria melhor se o dinheiro comprasse mais. Seria tão sofisticado... É tudo tão simples aqui... Imagino se eles não enjoaram, e se não irão enjoar. Enjoar das vozes, e dos comes e bebes. Enjoar de mim e da minha casa. Nós sabemos que nunca teremos mais que isso, e também que poderíamos ter algo muito melhor. Mas e o nosso dinheiro?? É tão pouco..."
"Nasci pobre e acho que vou ter que morrer assim. Nessa festinha, sempre! Temos apenas cerveja e salgadinhos, a maioria tem o cabelo ruime pouco dinheiro. Somos pobres ... E o luxo é pros ricos... Há algo melhor que uma festa luxuosa?"
"Daquelas com comidas que você experimenta pela primeira vez. Aquelas mulheres com o cabelo ótimo, jogando pra lá e pra cá, naquelas valsas e músicas clássicas... E os homens hein... Cada homem rico... O que tem de melhor que uma festança cheia de glamour e vozes descontraída falando sobre assuntos inteligentes e celebridades da noite? E o que tem que seja melhor qu..."
- Gleice, vem logo que começou!!! – Grita uma integrante da mulherada.
Gleice vai para o lado de fora da casa. Segue o estreito corredor. Olha para os rostos sorridentes. Analisa os sorrisos, um a um. Ouve as vozes e os gestos que a convidam pra sambar. Começa a música. Dá o primeiro passo pra dentro da roda. Um pé aqui, outro lá.
O quadril treme, as mãos deslizam no ar, os pés são rápidos, e aquela energia cinética lhe sobe até a cabeça. Gleice mexe, e vira, e gira, e em toda aquela movimentação o samba faz o mal sair. Só alegria. E ela acaba de responder aquela dúvida que há pouco tinha...