sábado, 27 de maio de 2006

No Fundo do Quintal


Esta estória se passa no Rio... Ali, em um daqueles subúrbios sem nome...Ali, num corredor daquele labirinto... Ali em uma daquelas malocas... Ali, passando dois barracos do botequim... Na casa da Gleice...

Ali, hoje, é dia de pagode. Ali, no fundo, lá está o pessoal reunido. Os amigos de Gleice todos são convidados e todos eles comparecem pro “sábado da Gleice”

Juntam-se todos em grande motim em pequeno espaço. Arivaldo no pandeiro, Ticinho no cavaquinho e Tomás juntamente com Gabriel no tamborim. A noite é daquela rodinha... Todos sorridentes, é festa de fim de semana e só. A mulherada toda cheia do charme na cerveja, os caras no bate-papo sobre futebol, e alguns no aquecimento da cantoria...

Equanto do lado de dentro do barraco, Gleice fica pensativa em frente ao espelho...

“ Mais uma festinha... E...

Às vezes imagino como seria melhor se o dinheiro comprasse mais. Seria tão sofisticado... É tudo tão simples aqui... Imagino se eles não enjoaram, e se não irão enjoar. Enjoar das vozes, e dos comes e bebes. Enjoar de mim e da minha casa. Nós sabemos que nunca teremos mais que isso, e também que poderíamos ter algo muito melhor. Mas e o nosso dinheiro?? É tão pouco..."

"Nasci pobre e acho que vou ter que morrer assim. Nessa festinha, sempre! Temos apenas cerveja e salgadinhos, a maioria tem o cabelo ruime pouco dinheiro. Somos pobres ... E o luxo é pros ricos... Há algo melhor que uma festa luxuosa?"

"Daquelas com comidas que você experimenta pela primeira vez. Aquelas mulheres com o cabelo ótimo, jogando pra lá e pra cá, naquelas valsas e músicas clássicas... E os homens hein... Cada homem rico... O que tem de melhor que uma festança cheia de glamour e vozes descontraída falando sobre assuntos inteligentes e celebridades da noite? E o que tem que seja melhor qu..."

- Gleice, vem logo que começou!!! – Grita uma integrante da mulherada.

Gleice vai para o lado de fora da casa. Segue o estreito corredor. Olha para os rostos sorridentes. Analisa os sorrisos, um a um. Ouve as vozes e os gestos que a convidam pra sambar. Começa a música. Dá o primeiro passo pra dentro da roda. Um pé aqui, outro lá.
O quadril treme, as mãos deslizam no ar, os pés são rápidos, e aquela energia cinética lhe sobe até a cabeça. Gleice mexe, e vira, e gira, e em toda aquela movimentação o samba faz o mal sair. Só alegria. E ela acaba de responder aquela dúvida que há pouco tinha...

7 comentários:

Anônimo disse...

Eita, que chega deu uma vontade de sambar, agora... vixe...

Anônimo disse...

É isso aí, Felipe. Colocou a samba na roda e entrou na roda-de-samba. E dá-lhe mulata cor do amor e do pecado, dá-lhe beleza da mulher e do samba, produto nacional de primeira linha... Saudações escrevinhadoras!!!!

Anônimo disse...

Caros Escrevinhadores

Grato pela visita! Mas em relação ao texto, digo que todos nós seres humanos temos dúvidas qto às nossas vidas. Ficamos sempre a nos perguntar, se tudo ñ poderia ser diferente (q significa ser melhor), sem q possamos prestar a atenção devida ao presente. Só depois de passada a dúvida delirante, é q notamos que a nossa vida, apesar de certas limitações, superáveis por sinal, é bela.
Um forte abraço.

Anônimo disse...

Gleice parece estar realmente viva. Dúvida que frequenta a todos, sempre insatisfeitos com sua própria condição achando que seria melhor se estivesse em outro lugar ou vivendo uma outra vida. Todavia, o autor mostra uma realidade à Gleice que ela não vivenciaria se não estivesse ali... Parabéns!
Aqueta.
aqueta.zip.net

Anônimo disse...

Que legal ....Limpo, claro adorei parabens..e continuem sim pra começar o nome do blog eh demais.

Queria oferecer meu award mas como estou vendo por aqui vcs n trabalham muito os selos .
Mas mesmo assim Parabens .
bjs e boa semana.

Anônimo disse...

Estamos em uma época de exílio branco, disfarçado.Obrigados a conviver com o sub, sub- cultura, sub-politica, sub-gente.
É o exílio promovido pelos monstros devoradores de tantos sonhos, monstros tenta nos favelizar, que tenta nos levar para o lixo do cotidiano imbecil dos iguais.
O pior é a tentativa de nos fazer crer que o único caminho é a desonestidade, a mediocridade, quando não é.
Por isso camaradas o único cominho é a resistência precisa e implacável. Contra essa moral parta e cretina dos homens do poder, dos homens imundos e selvagens.
A liberdade é algo indestrutível, porque é algo espiritual.
Um abraço e visitem nosso site.
www.oataque.zip.net
texto meus em www.papelvirtual.com.br

Anônimo disse...

As melhores respostas as nossas perguntas são aquelas exibidas em um sorriso. Como a dessa moça, no fundo do quintal.