domingo, 8 de abril de 2007

Tecnologias...





Estava cá pensando: até onde vai essa coisa de avanços tecnológicos, onde é que nós vamos parar? Certo é que esses avanços facilitam a nossa vida, mas será que chegaremos a extremos? Fui pra cama ontem com esse pensamento. Depois de ler um artigo sobre como será a nossa vida daqui 100 anos. Nossa não. A de nossos descendentes. A não ser que arrumem um pulmão artificial pra mim, que esse aqui já tá gasto desde já. Enfim.
Conversando com o Zé, amigo de longa data, chegamos a conclusão de que tecnologia demais acaba afetando demais, acaba estragando a graça de viver. Você, meu amigo, gostaria de viver 250 anos, mesmo com aquele corpinho de 200? Eu não consigo achar graça. Me imagino indo a um consultório médico, não mais para me consultar, mas para trocar meu pâncreas. Ou tendo de parar uma corrida no meio porque meu pulmão parou de funcionar, quanta inconveniência ter de trocar de pulmão no meio do caminho, que saco. E dá-lhe a gente se abrindo, literalmente falando, no meio da rua, arrancando um pulmão usado, jogando-o no lixo, arrancando outro da mochila e colocando no lugar.
E se de repente todas as figuras lendárias fossem mantidas vivas? Tem algumas atualmente que nem precisam, já dormem no formol. Mas outras... pesquisei com meus sobrinhos:


- Lucas, quem você queria que vivesse pra sempre?
- Bush.


Não. Não me parece boa idéia, descartemos isso, deixa pra lá. Nossos descendentes podem fazer escolhas erradas com todo esse avanço que certamente virá. E eu é que não quero estar aqui pra ver. E se estiver ainda de pé - metaforicamente falando - que seja muito fácil: se é pra ficar alienado, que inventem uma maneira de me tirar as retinas, que desse desastre não quero nem saber. Segue aí três casos possíveis que eu inventei agorinha. Ou não...



CENA I

Dois senhores no bar, conversando.
- Manoel, quando que é seu aniversário mesmo?
- Dia 21 de abril.
- Legal. Quantos anos? Se me permite perguntar, claro.
- Sem problemas. Vou fazer 142.
- Que coisa. Dez anos mais velho que eu. E nem parece.
- Obrigado.
- Mas me diz, Manoel, o que você fez para parecer mais novo?
- Simples, Antônio. Depois que eu troquei meus órgãos por órgãos artificiais, tudo ficou mais fácil. Só foi trocar o rosto por um mais novo. Recomendo.



CENA II

- Querida, cheguei.
Os dois se encontram na porta de entrada da casa, se beijam carinhosamente. Ele, Renato, 35 anos, moreno, olhos claros, cabelos negros caindo nos ombros, vestindo um terno já meio batido, mas nada muito chamativo. Humano. Ela, Cássia, 30 anos, morena, cabelos negros e longos, olhos azuis, vestindo uma roupa casual. Fruto de avançada tecnologia robótica.
- O que temos para jantar hoje?
- O de sempre, Renato. O de sempre...
- Não conseguiu variar, ainda?
- Não. Não consegui achar o programa que atualiza as receitas.
- Que pena. Lá vamos nós comer canja de galinha novamente... cadê as crianças?
- Foram passear no shopping. Só o Lucas, que está dormindo.
Renato entra no quarto do pequeno Lucas, seu filho de três anos. O menino dorme tranquilamente, Renato observa. Quando ele se aproxima mais do berço do garoto, este acorda e começa a chorar em alto e bom som. Com todo cuidado, o pai o carrega, levanta a camisa da criança, localiza o controle de volume em suas costas, e deixa no mudo. Lucas volta ao seu sono tranquilo.



CENA III

Um grande público prestigia uma partida de futebol. Há grande rivalidade entre os times, é um jogo disputado, muito corrido. A multidão vibra com as jogadas. Até que um lateral do time X acerta em cheio a perna esquerda do atacante do time Y. Fratura exposta, coisa feia mesmo. Entram os médicos no campo, prontamente. Correm para socorrê-lo. Ele não esboça nenhuma reação. E a perna lá, toda torta. O médico-chefe analisa a perna, coça o cavanhaque e grita.
- Ô Jorge, pega uma perna de titânio lá no vestiário, uma esquerda. Vamos ter de trocar essa.
O tal Jorge corre e volta com uma perna esquerda novinha. Retiram aquela que entortou com o impacto, rosqueiam a nova e o jogo segue normalmente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!!!! Adorei as micro-cenas!!! São quase roteiros de curtas-metragens!!! Agora o "pepino" sobra pra mim, não é? hehehe... É um tema que instiga... estou pensando... pensando... logo, existo! hehe... Abração e mais uma vez, parabéns!

PS>: vc já escreveu algum roteiro?

Anônimo disse...

Nossa, mãe...
Exatamente como eu imagino o futuro da medicina!!! UAUS!!!
Transmissão de pensamento DEZ!!!
Assustadoramente surreal, e ao mesmo tempo, tão real...